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Revolução na gestão da asma: avanços e desafios no Horizonte de 2024

Revolução na gestão da asma: avanços e desafios no Horizonte de 2024

Artigo elaborado em fevereiro de 2024 

Partilhamos hoje um artigo de opinião da autoria de Ricardo Lima, consultor de Pneumologia da Unidade Local de Saúde de Gaia e Espinho (ULSGE), focado nos avanços e nos desafios no que toca à gestão da asma. 

A asma é uma condição crónica que afeta milhares de pessoas em todo o mundo. À medida que a investigação evolui, o avanço do conhecimento e das práticas na gestão da asma tem visto progressos significativos, tanto em termos de compreensão fisiopatológica quanto nas estratégias de tratamento.

Nos últimos anos, houve uma evolução notável na abordagem da asma, com um foco crescente na personalização do tratamento. A classificação da asma em fenótipos e endótipos específicos permitiu uma abordagem mais direcionada, utilizando terapêuticas biológicas para doentes com asma grave refratária. Medicamentos como os anticorpos monoclonais dirigidos contra interleucinas específicas (como IL-5, IL-4 e IL-13) ou o receptor de IgE, têm demonstrado eficácia na redução das exacerbações e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes com fenótipos específicos de asma. Em 2024 aguarda-se a aprovação e financiamento de um fármaco que é um anticorpo monoclonal (IgG2λ) direcionado contra a linfopoietina estromal tímica (TSLP), impedindo a sua interação com o recetor heterodimérico TSLP. O bloqueio da TSLP com este tratamento reduz um amplo espetro de biomarcadores e citocinas associados a inflamação das vias respiratórias.

As diretrizes atualizadas, como o Global Initiative for Asthma (GINA) e a Guía Española para el Manejo del Asma (GEMA), tem sido outra área de desenvolvimento. Estas guias são cruciais para orientar os profissionais de saúde na seleção do tratamento mais adequado, enfatizando uma abordagem personalizada baseada nas características individuais da doença e na resposta ao tratamento. O GINA e o GEMA também sublinham a importância de avaliar a eficácia dos tratamentos biológicos regularmente, ajustando o plano de tratamento conforme necessário para garantir o controlo da asma. A educação do paciente sobre a sua condição e o uso correto dos inaladores é também uma componente crucial destas diretrizes, garantindo que os pacientes possam participar ativamente na gestão da sua doença.

Um desenvolvimento notável no acompanhamento da asma grave é o conceito de remissão da doença como novo objetivo terapêutico. Esta abordagem ambiciosa visa não apenas controlar os sintomas e reduzir as exacerbações, mas alcançar um estado no qual a doença não exerça um impacto significativo na qualidade de vida do paciente.

A remissão inclui a ausência significativa de sintomas, o controlo da inflamação, a manutenção da função pulmonar normal, ou tão próxima do normal quanto possível, e a minimização do uso de corticosteroides sistêmicos.

Este objetivo reflete uma mudança paradigmática nos objetivos de tratamento da asma, com um foco renovado na melhoria a longo prazo dos outcomes clínicos e na qualidade de vida dos pacientes. As terapêuticas biológicas desempenham um papel fundamental nesta abordagem, oferecendo a possibilidade de tratamentos mais direcionados e com menos efeitos colaterais comparativamente aos métodos convencionais.

No entanto, apesar desses avanços, a asma ainda representa um desafio significativo em termos de saúde pública, com uma carga considerável para os indivíduos afetados e sistemas de saúde em todo o mundo. Disparidades no acesso a cuidados de saúde e terapêuticas inovadoras, continuam a ser um problema global.