Regular o uso de telemóveis nas escolas: o que diz a psicologia?
No arranque do ano escolar, a Ordem dos Psicólogos Portugueses lança o documento “Orientações para a utilização de ecrãs e tecnologias digitais nas escolas”
No arranque de mais um ano letivo e numa altura em que a restrição/regulamentação do uso de telemóveis nas escolas marca a agenda mediática, e em que, principalmente, alguns colégios privados estão a restringir o uso destes equipamentos pelos alunos, damos a conhecer o novo documento da Ordem dos Psicólogos Portugueses sobre o uso de ecrãs, smartphones, e tecnologias digitais nas escolas bem como o parecer da OPP sobre esta matéria.
As evidências da ciência psicológica indicam que o uso moderado (1 a 2 horas diárias) de ecrãs digitais em crianças com idade escolar tem mais benefícios cognitivos, psicológicos e sociais do que uma restrição completa do uso ou do que um uso excessivo. É uma das conclusões presentes no novo documento da Ordem dos Psicólogos Portugueses “Orientações para a utilização de ecrãs e tecnologias digitais nas escolas” e no policy brief “Políticas públicas e regulação do uso de smartphones nas escolas”.
Com resultados diferentes em vários países europeus onde se fizeram experiências de restrição dos smartphones nas escolas “não existem, neste momento, evidências suficientes e sistematizadas de que a restrição do uso de smartphones nas Escolas pode permitir, efetivamente, melhorias na aprendizagem e na Saúde Psicológica”.
O QUE DIZEM AS EVIDÊNCIAS DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA?
- O uso moderado (1 a 2 horas diárias) associa-se a mais benefícios cognitivos, psicológicos e sociais comparativamente a uma restrição completa do uso ou a um uso excessivo.
- Alguns adolescentes comparam a sua aparência física ou estilo de vida com conteúdos que vêem online, podendo impactar negativamente a sua autoestima, no entanto, o impacto varia em função das suas competências de regulação emocional.
- Cerca de 10-15% dos jovens pode ser susceptível a impactos negativos na Saúde Psicológica. Por exemplo, um tempo de uso superior a 3 horas diárias associa-se a um aumento de sintomas depressivos, nomeadamente em raparigas.
- Quando utilizados de forma consistente e com propósito definido, os smartphones podem estimular o envolvimento nas aulas e facilitar a aprendizagem autónoma e colaborativa dos alunos.
- O uso desregulado do smartphone nas Escolas associa-se, de forma ligeira a moderada, a dificuldades de aprendizagem e a um fraco desempenho académico.
- Nas aulas, ao distraírem-se com os smartphones, os alunos/as podem demorar 20 minutos até voltarem a ficar concentrados/as; nos intervalos, o uso de smartphones parece diminuir a qualidade das interacções entre pares e os níveis de actividade física.
Considerando as evidências da ciência psicológica, a Ordem dos Psicólogos deixa algumas recomendações para as políticas públicas nesta área:
Garantir a autonomia das Escolas e os meios para avaliação de cada realidade Escolar.
Identificar 1) índices de cyberbullying e uso problemático das tecnologias; 2) níveis de literacia em Saúde e tecnologia da comunidade escolar e; 3) percepções e competências digitais dos docentes.
Estabelecer Grupos de Trabalho com diferentes partes interessadas.
Integrar as perspectivas de professores, pais, auxiliares educativos, psicólogos e de crianças e jovens para aumentar a adesão e o sucesso das políticas.
Considerar questões etárias e de equidade no acesso e na utilização das tecnologias digitais. Considerar as recomendações quanto ao tempo de uso das tecnologias (e.g., máximo de 2h/dia entre os 6 e os 11 anos e até 3h/dia a partir dos 12), bem como a influência de características individuais e socioeconómicas.
Restruturar os espaços escolares e aumentar/diversificar a oferta de actividades.
Criar alternativas (complementares) à utilização dos smartphones, que incentivem o brincar, actividade física e desportiva, expressão artística, convívio e exploração de interesses vocacionais.
Criar oportunidades de desenvolvimento profissional para professores.
Capacitar os professores/as para integrar, de forma adequada e eficiente, as tecnologias digitais nos processos de ensino-aprendizagem.
Colocar mais Psicólogos nas Escolas.
Assegurar que são considerados os aspectos e particularidades do desenvolvimento psicológico e que há um maior investimento na promoção das competências socioemocionais, sobretudo de autorregulação, dos alunos.
Aceda ao documento completo AQUI