Com a Primavera vêm as flores… e as alergias! Como sobreviver à estação mais temida pelos alérgicos?
Hoje, 20 de março, damos as boas-vindas à Primavera, uma estação que traz dias mais longos, temperaturas amenas e um cenário repleto de flores. No entanto, para muitas pessoas, esta época significa também um aumento dos sintomas alérgicos, devido à elevada concentração de pólenes no ar. Para esclarecer os principais desafios enfrentados pelos doentes alérgicos e quais as melhores estratégias de prevenção e tratamento, conversámos com Mariana Lobato, Imunoalergologista do Hospital CUF Descobertas e da Clínica CUF Alvalade e Coordenadora do Grupo de Jovens Imunoalergologistas da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC).
Raio-x (RX): Por que motivo a doentes alérgicosé uma estação tão temida pelos doentes alérgicos?
Mariana Lobato (ML): A Primavera é uma estação temida por muitas pessoas alérgicas devido ao aumento da concentração de alergénios exteriores, como os pólenes e fungos. Durante esta época, muitas plantas e árvores florescem, libertando pólenes que são transportados pelo vento, favorecendo o contacto dos doentes com estes alergénios. Entre os pólenes mais comuns que desencadeiam alergias estão os das gramíneas (fenos), da parietária (alfavaca-de-cobra) e da oliveira, particularmente relevante em Portugal. Por outro lado, os pólenes de flores mais vistosas, como as rosas ou giestas, raramente causam alergias, pois são maiores e mais pesados, sendo transportados por insetos em vez de pelo ar.
RX: Quais as alergias mais comuns nesta altura do ano?
ML: As alergias mais comuns durante a Primavera são: rinite alérgica, caracterizada por sintomas como pingo no nariz, espirros, comichão no nariz e garganta, e congestão nasal; conjuntivite alérgica, manifesta-se com olhos vermelhos, lacrimejo e sensação de areia nos olhos e asma alérgica, pode provocar tosse, dificuldade em respirar, pieira e cansaço.
RX: Além dos pólenes, há outros fatores que podem potenciar o risco de alergias nesta altura, como alergias cutâneas e alimentares?
ML: Sim. O eczema atópico, por exemplo, afeta cerca de 10% da população portuguesa e pode agravar-se devido à exposição a alergénios, provocando pele seca, vermelha e comichão. A exposição solar também pode desencadear reações cutâneas, como a urticária solar ou o eritema polimorfo solar.
No que diz respeito às alergias alimentares, existe a “síndrome pólen-frutos”. Algumas proteínas presentes nos pólenes têm estrutura semelhante às de certos alimentos, o que pode levar a reações cruzadas. Por exemplo, pessoas alérgicas ao pólen de bétula podem ter reações ao consumir maçã, pêra, pêssego, cereja e kiwi. Da mesma forma, quem é alérgico a gramíneas pode reagir a melão, tomate ou figo.
RX: Como podem os doentes alérgicos prevenir a ocorrência de crises?
ML: A prevenção passa por minimizar a exposição aos alérgenos e seguir uma medicação adequada. Algumas medidas incluem:
- Evitar zonas com elevada concentração de pólenes, como parques e áreas arborizadas;
- Evitar sair ao ar livre nas primeiras horas da manhã e ao final da tarde, quando a concentração de pólen é maior;
- Consultar o Boletim Polínico da SPAIC no site da Rede Portuguesa de Aerobiologia para monitorizar os níveis de pólen nas diferentes regiões;
- Manter janelas fechadas em casa e no carro, e ponderar o uso de filtros de ar HEPA;
- Usar óculos escuros no exterior e, para motociclistas, capacete integral;
- Trocar de roupa e tomar banho ao chegar a casa para remover pólenes do corpo e do cabelo;
- Utilizar protetor solar e hidratar a pele para evitar reações cutâneas;
- Em casos mais graves, pode ser necessária a imunoterapia (“vacinas das alergias”), que ajuda a reduzir ou eliminar a resposta do sistema imunológico a determinados alérgenos.
RX: Há necessidade de intensificação da terapêutica em caso de agudização?
ML: Sim. Nos momentos de crise, pode ser necessário ajustar a medicação conforme orientação médica. Alguns doentes recorrem a descongestionantes nasais, que podem ser úteis pontualmente, mas o uso excessivo pode levar a problemas adicionais. É fundamental seguir as recomendações do imunoalergologista para evitar complicações.
RX: Quais as principais medidas para viver a Primavera em pleno, sem sintomas como pingo no nariz, comichão na garganta e olhos inchados?
ML: Para desfrutar da Primavera sem os desconfortos das alergias, é essencial preparar-se antecipadamente. Uma consulta com um especialista ajuda a identificar os alérgenos responsáveis pelos sintomas e a definir um plano de prevenção e tratamento. A imunoterapia pode ser uma opção eficaz para alguns doentes, podendo ser administrada antes da época das alergias para reduzir os sintomas nas Primaveras seguintes.
Além disso, é importante adotar estratégias para minimizar a exposição ao pólen, manter um ambiente limpo e arejado, e seguir um estilo de vida saudável. Assim, é possível aproveitar esta estação tão bonita sem os incómodos das alergias.