Estudo sobre o Enfarte do Miocárdio: “continua a haver uma lacuna entre o conhecimento e a ação”
“A maioria dos portugueses está familiarizada com os fatores de risco, sintomas e tratamento do Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM), mas ainda há muitas pessoas a desvalorizar a Diabetes como fator de risco associado a esta doença”. São estas as principais conclusões do mais recente estudo da iniciativa global Stent Save a Life, divulgado no Dia Nacional do Doente Coronário.
“Pelo inquérito percebe-se que os portugueses já têm uma perceção muito satisfatória dos fatores de risco assim como a perceção de que estes podem ser evitáveis ou controlados”, afirmou o coordenador da iniciativa “Stent Save a Life” (SSL) na Europa e na Rússia, Hélder Pereira. Mais de metade (51%) dos inquiridos afirma preocupar-se com a prevenção do EAM e a maioria (86%) sabe que essa prevenção é possível. Os mais jovens são os menos preocupados com a prevenção. No global, os portugueses têm estado atentos: 97% costuma medir a tensão e 99% costuma realizar eletrocardiogramas.
A alimentação saudável (90%) e a pratica de exercício (85%) são as duas formas de prevenção mais referidas. Já a opção “tratar e controlar a diabetes” parece estar subvalorizada, uma vez que ficou a baixo das outras formas de prevenção, com 54% dos inquiridos a mencionar o tratamento e controlo da patologia como forma de prevenção. “Ficamos de alguma forma surpreendidos com as respostas relativas à diabetes, pois de alguma forma ficou subvalorizada face aos outros factores de risco. Na nossa estratégia deveremos ter estes resultados em atenção e tentar dar o devido valor à diabetes como um dos mais relevantes factores de risco para as doenças cérebro-vasculares”, referiu o especialista.
Conhecimentos sobre o enfarte do miocárdio
Mais de 40% refere que “lesão do músculo cardíaco causada pela obstrução de uma artéria coronária” é a definição mais correta para definir enfarte do miocárdio e 92% refere o excesso de peso/gordura como a principal causa associada ao episódio. A dor no peito é o sintoma mais referido (95%), seguido das arritmias, paralisia, dor no braço esquerdo e dispneia; só 36% refere dor no abdómen como sintoma, o que não preocupa o coordenador da inciativa, uma vez que “o sintoma predominante é a dor no peito e é nele que temos focado a nossa campanha. A dor abdominal é importante ser conhecida pelos profissionais de saúde; por isso, temos insistido que nas urgências hospitalares deve existir permanentemente um técnico de cardiopneumologia que efetue imediata e sistematicamente um eletrocardiograma”, chamou à atenção Hélder Pereira.
A maioria (66%) acha que todo o tipo de pessoas está propensa a sofrer um enfarte do miocárdio e 96% dos inquiridos considera-o uma doença extremamente grave; 95% afirma que esta é uma emergência grave que requer tratamento imediato. Quando questionados sobre que atitude tomar num cenário que pudesse representar um EAM 38% dos inquiridos ligaria para o 112 e 27% ia pelos seus próprios meios para uma urgência hospitalar; 20% esperava “um tempo para ver se passava”. 70% refere que o diagnóstico é feito através de um eletrocardiograma e só 16% dos inquiridos conta com um desfibrilhador no local de trabalho.
De acordo com os últimos dados, recolhidos em 2012, mais de dois terços da população não conhecia os sintomas de EAM e apenas um terço dos doentes utilizava o 112 para ser encaminhado para um hospital e receber a assistência médica mais adequada. Agora “podemos dizer que estamos num bom caminho, mas ainda continua a haver uma lacuna entre o conhecimento e a ação. Não obstante o melhor grau de conhecimento que agora assinalamos e de na prática verificarmos uma maior percentagem de doentes que liga para o 112, ainda continuamos a assinalar demasiado tempo entre o início dos sintomas e o pedido de ajuda”.
Pode-se considerar que os portugueses estão informados sobre as estatísticas relativas ao episódio, uma vez que mais de metade dos inquiridos afirma também que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal e na Europa. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2015, no nosso país, morreram cerca de 4342 pessoas por EAM, o que representa uma ligeira diminuição face a anos anteriores.
Em relação aos inquiridos e aos seus hábitos, importam referir alguns dados: 58% não são fumadores, 80% são consumidores de café, 61% pratica atividade física, sendo que os jovens são os que praticam mais exercício, e 62% fazem uma alimentação sem qualquer tipo de restrições. A amostra foi recolhida em novembro de 2017 a 1044 inquiridos, o que traduz um grau de confiança de 95,5%, com uma margem de erro de ±3,09%.
Este estudo foi realizado pela Pitagórica, uma empresa de investigação e estudos de mercado, em parceria com a iniciativa global Stent Save a Life, que marca o fim da Stent For Life. O estudo foi divulgado no Dia Nacional do Doente Coronário, que se comemora a 14 de fevereiro.
Por Margarida Queirós