Terapia com células estaminais com potencial para o tratamento da doença de Parkinson
Resultados de um estudo, recentemente publicado na revista médica Surgical Neurology International, indicam que células estaminais mesenquimais de medula óssea autóloga (do próprio) podem ajudar a melhorar os sintomas da doença de Parkinson, como os tremores e a sonolência diurna, bem como a saúde mental, melhorando a qualidade de vida destes doentes.
O objetivo deste estudo foi avaliar a influência da administração de células estaminais mesenquimais nos sintomas motores e não motores da doença de Parkinson, a segunda doença neurodegenerativa mais comum, que se estima afetar 180 por cada 100.000 habitantes, em Portugal.
Durante o estudo, um grupo de 12 doentes, com doença de Parkinson em média há 7 anos e com idades compreendidas entre os 29 e os 65 anos, foi tratado com células estaminais mesenquimais retiradas da sua própria medula óssea, além da medicação convencional. Os resultados obtidos foram comparados com os de um outro grupo de 11 doentes com doença de Parkinson, com uma distribuição de idades, sexo e estádio da doença semelhantes ao do grupo de tratamento, mas com recurso apenas à medicação convencional.
Os doentes do grupo de tratamento receberam 3 tratamentos com células estaminais, com 7 dias de intervalo, e foram avaliados, relativamente à evolução dos sintomas motores e não motores da doença de Parkinson, um e três meses após o tratamento.
Foi possível observar, nestes doentes, uma redução de 44% na pontuação da escala de depressão de Hamilton, o que indica melhorias significativas no humor e diminuição do estado depressivo. Outros efeitos positivos do tratamento experimental incluíram a redução da sonolência sentida durante o dia e aumento significativo da qualidade de vida, avaliada através de um questionário específico para doentes com doença de Parkinson. Estas melhorias na saúde mental, sonolência e qualidade de vida foram observadas um mês após o tratamento experimental e mantiveram-se 3 meses depois.
Os testes usados para avaliar a evolução dos sintomas motores permitiram, por sua vez, observar algumas melhorias nos doentes que receberam células estaminais, que não se observaram no grupo tratado apenas com medicação convencional. Estas melhorias sugerem um efeito positivo das células estaminais mesenquimais nos sintomas motores da doença de Parkinson.
“A medicação atualmente utilizada para tratar esta doença destina-se essencialmente ao alívio dos sintomas, não permitindo travar a progressão da doença. Assim, com o intuito de impedir a morte de neurónios e, consequentemente, a progressão da doença, têm vindo a ser investigadas outras soluções terapêuticas, nomeadamente o uso de células estaminais mesenquimais, pela sua capacidade de migrar para tecidos danificados e promover a sua regeneração, entre outras. Estas células podem ser obtidas, por exemplo, a partir de medula óssea, tecido adiposo e tecido do cordão umbilical”, explica a Dr.ª Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, que adianta ainda que este estudo é um exemplo dos esforços que têm vindo a ser empreendidos no sentido de encontrar novas soluções terapêuticas para a doença de Parkinson.
Os autores sublinham, contudo, que estes resultados, embora encorajadores, são preliminares, sendo imperiosa a realização de estudos com maior número de doentes, controlados com grupo placebo e com tempo de seguimento mais longo, para que seja possível retirar conclusões acerca da eficácia deste tratamento.
Referência:
Boika, et al. Mesenchymal stem cells in Parkinson’s disease: motor and nonmotor symptoms in the early posttransplant period. Surg Neur Int. 2020. 12:1-8.