Fertilidade/Infertilidade – o que precisa de saber?
Mitos e Factos da Fertilidade feminina e masculina é o tema do artigo que Ana Sousa Ramos, especialista de Embriologia e Reprodução Humana, partilhou com o Raio-X, no âmbito do mês da Consciencialização da Fertilidade, assinalado em junho.
Há muito que em Portugal é promovida a fertilidade através do planeamento familiar e consultas dos médicos especialistas. Várias abordagens terapêuticas e outras metodologias foram utilizadas anteriormente, mas foi a 25 de Fevereiro de 1986 que nasceu o primeiro bebé português resultante duma Fertilização in vitro, no Hospital de Santa Maria, pela equipa do Professor Doutor António Pereira Coelho.
Apesar de não ser do conhecimento geral, a infertilidade é uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Define-se como a incapacidade de um casal conceber ou levar a bom termo uma gravidez depois de um ano de relacionamento sexual regular sem qualquer proteção. A sua prevalência é de 1 em cada 10 casais com dificuldade em conseguir o filho desejado.
Durante muito tempo, as causas de infertilidade eram imputadas exclusivamente a problemas do foro da saúde da mulher, no entanto, a evolução da ciência veio confirmar que se trata de um mito. Cerca de 20 a 30% das situações tem como causa um problema masculino, maioritariamente relacionadas com a qualidade e/ou ausência de espermatozoides. Entre 30 a 40% das situações tem causas femininas, tais como, alterações hormonais, ausência da ovulação, obstrução das trompas e doenças uterinas. Finalmente cerca de 30% das causas referem-se a ambos os elementos do casal e 5 a 10% dos casos, não se consegue atribuir uma razão, são causas desconhecidas.
A infertilidade também pode ter uma origem genética e atualmente também está associada aos “life style factors” como o tabaco, o álcool, as drogas e a obesidade.
Devido à evolução das sociedades ocidentais como a nossa, cada vez mais as mulheres adiam a sua primeira gravidez. Motivos como a sua formação académica, projetos profissionais, instabilidade financeira e ausência de relação conjugal estável justificam estes adiamentos. Aliado a estes fatores, a probabilidade de engravidar decresce com a idade, mais acentuadamente a partir dos 35 anos, sendo a taxa de conceção natural duma mulher aos 40 anos, inferior a 10%. Felizmente, é possível recorrer à Procriação Medicamente Assistida (PMA), com a ajuda de equipas multidisciplinares de profissionais de saúde como médicos, embriologistas, enfermeiros e psicólogos.
As mulheres e casais quando pretendem ter um filho devem procurar aconselhamento junto do seu médico ginecologista, urologista ou médico de família, pois serão as pessoas mais indicadas para os orientar. Não devem adiar, aquando suspeita de alguma situação, pois mais de 85% das causas de infertilidade são diagnosticadas com análises ou exames pedidos pelos médicos especialistas e com os resultados é feita a abordagem e terapêuticas mais adequadas para resolução da infertilidade. Esta pode ser mais simples, com uma Indução de Ovulação ou Inseminação Artificial Intrauterina (IIU) ou recorrer a tratamentos com técnicas laboratoriais mais invasivas como a Fertilização in vitro (FIV) ou Microinjeção intracitoplasmática de espermatozoides, vulgarmente conhecida por ICSI. As taxas de sucesso variam entre os 10% e os 50%, consoante os tratamentos utilizados. Estes cumprem todo um conjunto de normativas e exigências dum sistema de qualidade. É uma das áreas da medicina mais regulamentadas e com maiores níveis de controlo de processos, pela entidade que nos tutela, o conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA).
Os tratamentos com recurso a doação de gâmetas e embriões têm, também, vindo a aumentar. Em Portugal, é legal utilizar óvulos e espermatozoides de dadores, como está descrito nas Lei n.º32/2006 e n.º48/2019. Existem indicações clínicas para ambos os casos. No caso dos tratamentos com doação de óvulos atinge-se taxas de sucesso de 60%.
O contributo da PMA tem sido fundamental para combater a infertilidade. Graças à evolução tecnológica e a novas fórmulas terapêuticas. Em 2019, 3,5% do total das crianças nascidas em Portugal resultaram destes tratamentos. É expectável que venha a aumentar, pois segundo a European Society of Human Reproduction and Embryology (ESHRE), seria de esperar que fossem realizados cerca de 1.500 tratamentos por 1 milhão de habitantes.
Continua a existir a necessidade de divulgar os problemas de fertilidade, assim como informar formas de preservar a fertilidade, nomeadamente em situações como doenças oncológicas, autoimunes, genéticas, entre outras.