29 de novembro – Dia Mundial das Doenças do Movimento
Assinala-se hoje, 29 de novembro, o Dia Mundial das Doenças do Movimento. Este dia é uma oportunidade para aumentar a consciencialização sobre estas condições neurológicas que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Neste sentido, partilhamos um artigo da autoria de Margarida Rodrigues, Neurologista e Coordenadora do CNS Braga, que aborda o impacto destas condições, os avanços terapêuticos e a importância de melhorar o acesso ao diagnóstico e tratamentos adequados.
Os movimentos do corpo fazem parte de todas as actividades do nosso dia, sejam eles mais simples como caminhar e falar, aprendidos precocemente como apertar os atacadores dos sapatos, ou complexos e específicos como tocar guitarra ou dançar. Há doenças neurológicas que podem provocar alterações na forma como nos movemos, e são chamadas doenças do movimento.
Podemos dividir estas doenças em dois grandes grupos: as que causam movimento a mais, habitualmente caracterizadas por movimentos involuntários, e as que causam movimento a menos.
Dentro do grupo das doenças que causam movimento a mais, a mais comum é o tremor. O tremor define-se como um movimento anormal rítmico em torno de um eixo. Há doenças que causam tremor, mas este movimento anormal pode ser fisiológico, e surgir em pessoas saudáveis em situações de medo ou fome por exemplo. Neste grupo incluímos também a distonia, que corresponde a uma postura anormal; as mioclonias, que são movimentos rápidos, bruscos imprevisíveis; a coreia cujo nome provém do grego e significa dança, por serem movimentos irregulares aleatórios e fluidos; a ataxia que designa descoordenação de movimentos, e ainda os tiques.
Designamos por Parkinsonismo as doenças que se apresentam com movimento a menos, habitualmente movimentos que são mais lentos e pouco amplos. A doença mais frequente neste grupo é a doença de Parkinson.
Os movimentos involuntários podem englobar situações benignas e não patológicas como o tremor fisiológico e as mioclonias de sono, ou reflectir a presença de uma doença. As causas subjacentes a estas doenças são muito variadas, e podem ser vasculares, metabólicas, infecciosas, iatrogénicas (causadas por medicamentos) ou degenerativas. Um pequeno grupo destas doenças são hereditárias.
Os avanços da ciência permitem não só cada vez fazer um diagnóstico mais exacto, mas também oferecer mais alternativas terapêuticas aos pacientes. O diagnóstico deste vasto grupo de doenças, começa pela história clínica e observação minuciosa em consulta de neurologia. Há consultas de neurologia especializadas nestas situações, chamada consulta de doenças do movimento. É útil que um familiar ou amigo acompanhe o doente para ajudar na descrição dos sintomas, e por vezes o médico pode pedir vídeos feitos em casa que auxiliem na melhor avaliação da situação. Pode ser necessário ou não recorrer a exames complementares, como exames de imagem, estudos analíticos, entre outros.
Muitas destas doenças têm tratamento específico, algumas delas podem ser totalmente revertidas, outras dispõem de tratamentos de suporte. Existem vários ensaios clínicos em curso para muitas doenças do movimento, incluindo para algumas doenças mais raras, o que reflecte o investimento científico realizado nesta área, e divulga uma mensagem de esperança no futuro, porque teremos cada vez mais tratamentos e mais eficazes. Nos últimos anos houve também um enorme desenvolvimento de dispositivos médicos quer para dispensa de medicamentos, para auxílio da marcha ou do movimento, ou ainda para implementação cirúrgica, que podem ajudar a tratar alguns destes sintomas.
Além dos medicamentos que podemos usar, a maioria dos doentes beneficia de forma significativa de tratamentos complementares. Na maioria das doenças do movimento a fisioterapia, particularmente se programada especificamente para estas condições, está estudada e recomendada como ferramenta terapêutica complementar eficaz. Quando existem problemas com a fala ou com a deglutição, o papel da terapia da fala é fundamental para melhorar as queixas e também prevenir situações de obstrução da via aérea (engasgamento). Há ainda situações em que pode ser recomendada a terapia ocupacional e também intervenção da psicologia.
Uma palavra final para os cuidadores e familiares de pessoas com doenças do movimento, cujo papel é fundamental na gestão destas doenças que são muitas vezes complexas, e no suporte emocional que dão aos doentes, e de quem não nos podemos esquecer de cuidar também.