Outubro Rosa: quando a informação e a solidariedade salvam vidas
Em Portugal, todos os dias, 13 mulheres recebem um diagnóstico de cancro da mama. Quatro delas não resistem. Por detrás destes números frios, existem rostos, histórias, famílias e batalhas profundamente humanas — histórias que a Associação Amigas do Peito conhece de perto. Desde 2008, esta associação tem acompanhado, de forma próxima e dedicada, mulheres e homens em todas as fases da doença, desde o impacto inicial do diagnóstico até à recuperação física e emocional após o tratamento.
No âmbito do Outubro Rosa, mês dedicado à sensibilização para o cancro da mama, Emília Vieira, presidente da Associação Amigas do Peito, partilha neste artigo de opinião uma reflexão urgente sobre a realidade da doença em Portugal, os estigmas que ainda persistem e a importância vital do diagnóstico precoce. Porque falar sobre cancro da mama é, acima de tudo, falar sobre vida.
Todos os dias, em Portugal, treze mulheres recebem um diagnóstico de cancro da mama. Quatro não resistem. Estes números, duros e incontornáveis, lembram-nos que estamos perante a forma de cancro mais frequente entre as mulheres e que continua a roubar demasiadas vidas, muitas delas ainda em plena juventude. Por detrás das estatísticas estão pessoas, famílias e histórias de luta, mas também de coragem, esperança e superação.
O cancro da mama não escolhe idades. Embora seja mais comum após os 50 anos, o número de diagnósticos em mulheres jovens tem vindo a aumentar, o que levanta novos desafios. O impacto nesta fase da vida é devastador: interrompe carreiras em ascensão, adia planos de maternidade e exige lidar com tratamentos exigentes enquanto se cuida de filhos pequenos. Os fatores associados a este fenómeno são vários — desde alterações genéticas até estilos de vida modernos, marcados pelo sedentarismo, obesidade, consumo de álcool e tabaco, bem como pela gravidez tardia.
Outro dado menos falado, mas igualmente importante, é que o cancro da mama também atinge os homens, representando cerca de 1% dos casos. O problema é que muitos continuam a acreditar que esta é uma doença exclusivamente feminina, atrasando o diagnóstico e, consequentemente, as hipóteses de sobrevivência. A mensagem é clara: qualquer alteração deve ser valorizada, independentemente do sexo.
Se há uma arma verdadeiramente eficaz nesta luta é o diagnóstico precoce. Quando detetado numa fase inicial, o cancro da mama tem taxas de sobrevivência superiores a 90%. Daí a importância dos rastreios organizados, que em Portugal começam agora aos 45 anos, mas também da educação para a saúde: promover o autoexame, informar sobre sinais de alerta e incentivar hábitos de vida saudáveis. A prevenção absoluta pode não ser possível, mas é possível reduzir riscos e, sobretudo, salvar vidas em tempo útil.
É aqui que entram instituições como a Associação Amigas do Peito, criada em 2008 e reconhecida como IPSS desde 2016. O trabalho da Associação complementa o hospitalar, oferecendo apoio psicológico, social e logístico a doentes e famílias. As Casas de Acolhimento, por exemplo, garantem alojamento gratuito a quem precisa de se deslocar para Lisboa durante os tratamentos. Os grupos de entreajuda, os rastreios gratuitos em empresas e as ações de sensibilização são outras respostas que, todos os dias, fazem a diferença na vida de quem enfrenta a doença.
O desafio, no entanto, é enorme. Manter e expandir estes projetos exige recursos que nem sempre estão garantidos. É por isso que iniciativas como a Gala Solidária da Associação Amigas do Peito, que este ano decorrerá no dia 24 de outubro na Aula Magna da Universidade de Lisboa, são tão importantes. Mais do que uma noite cultural, em que artistas de renome sobem ao palco, a Gala representa a possibilidade de transformar solidariedade em ação concreta: cada bilhete, cada contributo, traduz-se em mais consultas de apoio, mais casas abertas, mais campanhas de prevenção.
O Outubro Rosa é mais do que um mês cor-de-rosa nas fachadas dos edifícios. É um apelo à ação. A cada um de nós cabe a responsabilidade de falar sobre o cancro da mama, de apoiar quem luta contra ele e de valorizar o papel das associações que humanizam os cuidados de saúde. Porque ajudar hoje é garantir que o amanhã seja, de facto, possível.