Anemia afeta 50% dos doentes com insuficiência cardíaca grave

Anemia e insuficiência cardíaca são dois problemas de saúde pública que, separados, preocupam. Um receio que aumenta quando se unem. E há motivos para isso. De acordo com os dados disponíveis, a prevalência da anemia nos doentes com insuficiência cardíaca (IC) atinge cerca de 50%dos casos de IC crónica com fração de ejeção deprimida, podendo ir até aos 70% nos casos de IC com fração de ejeção preservada ou da IC descompensada. Cândida Fonseca, cardiologista, especializada na área da IC e vice-presidente do Anemia Working Group Portugal (AWG-P), confirma que “a anemia é um preditor de mau prognóstico na IC”, mas aproveita para salientar que “a ferropenia é um fator de risco ainda maior do que a própria anemia – quer haja anemia, quer não haja”.

Uma situação que nem sempre tem a atenção que merece. “Damos muito valor ao diagnóstico principal de IC e esquecemo-nos, muitas vezes, de corrigir a ferropenia”, refere, acrescentando que esta atitude tem consequências. “Quando se corrige a ferropenia com ou sem anemia em doentes com IC, o prognóstico é melhor, nomeadamente a qualidade de vida dos doentes, reduzindo a taxa de re-internamentos.” O que significa que a pesquisa sistemática da ferropenia, o diagnóstico atempado e a correção da ferropenia e da anemia se traduzem em vantagens para os doentes. É, por isso, importante “sensibilizar os médicos para um rastreio sistemático da ferropenia/ anemia no doente com IC, e para a correcção atempada da ferropenia na IC com fração de ejeção deprimida, uma recomendação inequívoca das guidelines internacionais para o tratamento da IC”.

Mais, os resultados de um estudo recente – IRONOUT-HF-confirmam que o ferro quando administrado por via oral ao doente com IC, não é de todo eficaz. Não melhora a capacidade funcional, nem a qualidade de vida do doente. Assim, “O único tratamento que até hoje demonstrou ser uma clara mais-valia é a carboximaltose férrica endovenosa. E é o que recomendam as guidelines internacionais”, explica a médica, reforçando a necessidade de as aplicar na prática clínica diária.

Um problema de saúde pública

Realizado pelo Anemia Working Group Portugal (AWG-P), o estudo EMPIRE confirmou que a prevalência de anemia no nosso país se encontra muito acima dos valores estimados pela Organização Mundial da Saúde: dos 15% previstos, passou-se para 20,4%. Revelou ainda uma elevada prevalência de ferropenia, dados até então inexistentes em Portugal.

A anemia e a ferropenia são mais prevalentes nas mulheres jovens em período fértil e durante a gravidez, havendo um segundo pico nos idosos sobretudo após os 80 anos. Acompanham frequentemente as doenças crónicas, como a IC, a doença renal crónica ou a doença inflamatória do intestino.

O estudo confirmou ainda as lacunas ao nível da informação e da literacia em saúde. “Muitas pessoas subestimam os sintomas e as implicações da anemia e, por vezes, também não lhes é feito o diagnóstico atempado”. É para alertar para o tema que o AWGP tem desenvolvido campanhas. “Deve haver uma maior perceção dos sintomas para que os doentes procurem um médico, quer para o diagnóstico, quer para o tratamento”, refere a especialista. “Sensibilizar não só os doentes e o público em geral, mas também os profissionais de saúde, até porque esta é uma síndrome transversal a várias especialidades e por isso, todos os profissionais de saúde devem estar alerta.”

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