Estratégia para uma Medicina de Precisão em Portugal em discussão

A Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) e a Ordem dos Médicos (OM) apresentaram ontem uma proposta de Agenda Estratégica para implementar a Medicina de Precisão em Portugal, que inclui objetivos, recomendações e sugestões de projetos-piloto nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Atualmente, o nosso país não tem uma estratégia de Medicina de Precisão, que assegure rapidez e eficácia dos diagnósticos e promova o uso racional dos recursos, embora seja um conceito cada vez mais na ordem do dia, até porque nunca como agora foi tão claro que o estado de saúde de cada indivíduo depende de múltiplas variáveis, incluindo fatores genéticos, comportamentais e ambientais, que tornam a sua doença e prognóstico diferente e único.

Porque o mesmo tratamento não serve para todos, a Medicina de Precisão, que o aborda, assim como à prevenção tendo em conta essas especificidades, tornou-se o futuro da Medicina, um futuro cada vez mais presente. É assim na Europa e fora desta, mas não em Portugal, onde não existe uma estratégia nacional para a sua implementação. Estratégia que se pretende agora definir, numa iniciativa da APAH e da OM, com o apoio técnico da EY.

Ontem, o auditório da OM, em Lisboa, serviu de palco para a apresentação da “Agenda Estratégica para o Futuro da Medicina de Precisão em Portugal”, assim como um plano de iniciativas a propor às autoridades competentes para tornar realidade esta abordagem em Portugal. Uma abordagem cada vez mais relevante. Basta para isso olhar para a resposta de alguns dos atuais tratamentos: mesmo doenças como a diabetes, amplamente estudadas, apresentam taxas de ineficácia na resposta do tratamento superiores a 40%, com perdas de qualidade de vida do doente e aumento dos custos de tratamento daí inerentes. Outras, como a artrite, revelam uma ineficácia na ordem dos 50%, percentagem que sobe no caso dos tratamentos para a oncologia (75%).

A Medicina de Precisão permite melhorar a rapidez e eficácia dos diagnósticos, evitando a prescrição de terapêuticas desnecessárias, ineficazes e dispendiosas. A nível económico, isso significa uma utilização racional e eficiente dos recursos disponíveis, diminuindo o desperdício e custos associados a tratamentos ineficazes e respetivos efeitos secundários.

No entanto, para um sistema de saúde centrado nas necessidades de cada cidadão, mas igualmente sustentável, é necessário um compromisso e investimento que promova o progresso nesta área da Medicina. Uma missão à qual se colocam vários desafios, identificados pela análise da APAH, da OM e da EY, desde incentivos ao investimento para este tipo de práticas, capacitação do SNS a nível de infraestrutura física e tecnológica, até ao envolvimento do cidadão na sua saúde, através da promoção eficaz da literacia face às inovações tecnológicas.

A Agenda Estratégica, agora apresentada, propõe um plano de iniciativas para um período de quatro anos, entre 2020 e 2023, prazo no qual se inclui a realização de dois projetos-piloto, em instituições hospitalares do SNS: um deles terá como foco a integração dos dados de saúde (clínicos, genómicos, de imagiologia médica e fornecidos pelos doentes) e o desenvolvimento da algoritmos de suporte à decisão clínica; o segundo terá como objetivo principal assegurar o acesso dos cidadãos a tratamentos personalizados e o desenvolvimento de um modelo de financiamento sustentável.

Recomendações essas que se dividem em cinco grandes objetivos:

Objetivo 1: Melhorar os resultados clínicos através do acesso equitativo a cuidados de saúde personalizados, o que exige o acesso a diagnósticos e tratamentos inovadores e capacitar centros para darem resposta a esses mesmos tratamentos.

Objetivo 2: Guiar a prática clínica através de dados clínicos, genómicos e dados disponibilizados pelo cidadão, o que obriga à definição de uma política nacional de dados em saúde, bem como à implementação de uma estrutura de dados nacional de suporte.

Objetivo 3: Garantir a sustentabilidade financeira na implementação da medicina de precisão, uma vez que são expectáveis novos custos associados à aquisição de equipamentos, ao uso de terapêuticas mais sofisticadas e caras e às alterações aos sistemas informáticos.

Objetivo 4: Aumentar a capacidade de Portugal para desenvolver inovação na área de Medicina de Precisão através da promoção da inovação.

Objetivo 5: Reforçar a participação do cidadão na sua saúde, promovendo a literacia em saúde e medicina personalizada.

“Na essência da relação médico-doente tem estado sempre a individualização dos cuidados que prestamos. A medicina de precisão vai permitir dar um passo ainda maior neste caminho, sendo que estamos certos que a liderança clínica vai ser essencial para garantir a qualidade e segurança dos tratamentos. Mas para isso é preciso que o financiamento seja preparado para uma nova realidade nas nossas instituições”, ressalva o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

Por sua vez, na visão de Alexandre Lourenço, presidente da APAH: “O sistema de saúde enfrenta um conjunto de desafios que apenas podem ser ultrapassados através de modelos de participação que congreguem opiniões, esforços e vontades. A Medicina de Precisão está certamente entre os desafios mais relevantes. É nossa convicção que Portugal ainda vai a tempo de desenvolver um modelo sustentável que permita garantir melhores resultados de saúde para os doentes, e o crescimento económico, através da promoção de investigação e a inovação nesta área.”

 

 

 

 

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