Impacto da pandemia na afasia

Paula Valente, Terapeuta da Fala e Diretora Executiva do Instituto Português da Afasia (IPA), partilha com o Raio-X um artigo de sua autoria sobre os efeitos da pandemia no que respeita à afasia – uma perturbação da comunicação crónica, adquirida por lesão cerebral -, tema que dará o mote às V Jornadas do IPA, que neste ano vão decorrer em formato virtual nos dias 25 e 26 de junho.

Já se passou mais de um ano desde o início da pandemia COVID-19. Com bloqueios parciais ou totais, a grande maioria das pessoas afetadas em todo o mundo ficou predominantemente em casa e experimentou um isolamento e distanciamento social sem precedentes. Entre os incluídos estão as pessoas com afasia, uma perturbação da comunicação crónica, adquirida por lesão cerebral e que pode afetar cerca de 30% dos sobreviventes de AVC.

O AVC é a principal causa de afasia e a principal causa de incapacidade em Portugal. Portugal possui uma das taxas de AVC mais elevadas da União Europeia, calculando-se que a prevalência de pessoas com afasia em Portugal ronde os 40.000, distribuídos por todo o território. Este número não inclui pessoas com afasia secundária devida a outras causas neurológicas e acidentes traumáticos. A afasia é considerada um problema crónico, isto é, os problemas de comunicação, emocionais e sociais persistem para toda a vida.

Aumentar a participação social e reduzir o sofrimento emocional das pessoas com afasia é, portanto, um objetivo basilar na reabilitação das pessoas que vivem com estes problemas. No entanto, devido à pandemia – com as medidas de distanciamento social, avanços e recuos e com riscos acrescidos para doentes com comorbidades como é o caso – aumentaram os fatores de stress e complicou-se o acesso a respostas clínicas e de reabilitação.

Um recente estudo da Associação Portugal AVC junto de 823 doentes de AVC revelou “grandes dificuldades” no acesso a consultas e tratamentos de reabilitação. 41% dos inquiridos viram os seus tratamentos suspensos ou bastante diminuídos e relatam maiores dificuldades na movimentação e ou comunicação do que antes deste período. Apenas 26% dos sobreviventes que realizavam tratamentos de reabilitação os retomaram de forma idêntica à pré-pandemia, enquanto 55% ainda não os conseguiram retomar. Há que ter em conta que a população com afasia apresenta mais desafios específicos que os poderão afetar de forma desproporcional em relação a sobreviventes de AVC sem afasia.

Também os profissionais de saúde e os cuidadores informais sofreram os efeitos psicológicos negativos da quarentena devido a vários fatores de stress (como medo de suprimentos de proteção inadequados e infeção, frustração, tédio, confusão, depressão e estigma) e efeitos duradouros (como perda financeira, sintomas de stress pós-traumático e raiva).

Neste contexto, o Instituto Português da Afasia encontra-se a organizar as V Jornadas IPA sobre o tema “O Impacto da Pandemia na afasia” que decorrerão em formato online nos dias 25 e 26 de junho de 2021. Como já é habitual, com este evento científico anual pretende-se potenciar a discussão entre disciplinas, serviços, profissionais e, até, organizações de diferentes países. Este ano, com foco nas respostas às pessoas com afasia neste tempo conturbado e no pós-COVID que é ainda uma incógnita. O Programa divide-se em três temas: as consequências neurológicas da COVID-19, as consequências psicossociais e a Teleprática. Com oradores nacionais e internacionais e garantida a tradução simultânea, estas V Jornadas IPA serão um evento internacional de grande qualidade, para qual todos os profissionais de saúde estão convidados. Todas as informações e inscrições encontram-se em www.vjornadasipa.pt.

 

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