“Pensámos em todas as patologias inerentes à Pneumologia e na multidisciplinariedade de forma a construirmos um programa que fizesse uma abordagem completa do doente”

Arrancou hoje e decorre até dia 10 de março, o XXXI Congresso de Pneumologia do Norte e XXXVII Jornadas Galaico Durienses que têm como lema a “Multidisciplinariedade na abordagem da patologia respiratória”. O enfoque neste tema reflete uma abordagem multidisciplinar do doente, reconhecendo que o doente não é um órgão isolado. Em entrevista ao Raio-X, Carla Damas e Daniela Ferreira, presidente e vice-presidente do Congresso respetivamente, partilham as inovações, objetivos e expectativas para esta edição.

Raio-X (RX) – “Multidisciplinariedade na abordagem da patologia respiratória” é o mote deste congresso. Porquê este tema?

Carla Damas (CD) – A Medicina está a seguir o caminho da individualização do doente, a chamada Medicina Personalizada, no entanto, é importante reconhecer que o doente não é feito de um órgão isolado. Na patologia respiratória a abordagem multidisciplinar é uma mais-valia, nomeadamente quando existem associações com outras patologias. Devemos encarar o doente de forma personalizada, selecionando as melhores terapêuticas para a sua doença, mas é fundamental entendermos que o trabalho multidisciplinar é primordial.

RX – Como foi elaborado o programa científico?

Daniela Ferreira (DF) – Todos os Congressos têm uma temática que serve como ponto de partida para a construção do programa e, tendo em conta o mote escolhido, pensámos em todas as patologias inerentes à Pneumologia e na multidisciplinariedade de forma a construirmos um programa que fizesse uma abordagem completa do doente, reconhecendo a necessidade do apoio de várias especialidades no diagnóstico e no tratamento. Exemplo disso é a mesa das doenças do interstício onde contamos com a participação de colegas da Reumatologia e da Imagiologia e a mesa sobre patologia do sono, na qual envolvemos estomatologistas, cirurgiões – por causa da cirurgia bariátrica – e um colega especialista em cirurgia maxilo-facial.

RX – O Congresso conta, mais uma vez, com a colaboração da Sociedad Gallega De Patología Respiratoria (SOGAPAR). Qual é a importância deste tipo de colaborações?

CD – Esta colaboração contínua com a SOGAPAR remonta a uma história de proximidade e amizade entre os presidentes das sociedades, tendo-se perpetuado ao longo do tempo. Mantemos relações muito próximas com os colegas galegos, sendo crucial preservá-las pela troca de experiências e realidades que, embora similares, apresentam algumas diferenças. É evidente que a Medicina é universal, e a prática clínica orienta-se por guidelines internacionais, no entanto as realidades locais permitem uma enriquecedora partilha de experiências. Esta forma contínua de colaborar com a SOGAPAR representa uma mais-valia tanto para nós quanto para os colegas, que prontamente aceitam o convite.

RX – Criaram inovações face às edições anteriores? Se sim, quais?

DF – A inovação está, essencialmente, no programa que é focado na multidisciplinariedade. Através das nossas ideias, que ambicionamos serem consideradas inovadoras, pretendemos que o programa seja aliciante para todos, incentivando a troca de conhecimentos, seja com os colegas espanhóis ou com os restantes colegas de outras especialidades que vão trazer seguramente muita ciência e muitas ideias para partilharem connosco. Além disso, dedicamos uma atenção especial ao cumprimento de prazos, especialmente no que diz respeito à admissão dos trabalhos para o Congresso.

RX – Como já tem sido habitual o programa deste Congresso conta com uma sessão que visa abordar um tema institucional, este ano será “A saúde em Portugal no pós-pandemia”. Quais são as vossas expectativas para esta sessão?

CD – O objetivo desta sessão é realçar a vertente científica e posicionar a especialidade de forma integrada na Sociedade, ou seja, pretendemos divulgar e demonstrar que, embora sejamos médicos, estamos efetivamente inseridos numa sociedade e preocupamo-nos com as nuances e as questões sociais que têm implicações diretas não apenas na nossa prática clínica, mas principalmente no bem-estar do doente. Porque efetivamente esse é o nosso objetivo final: assegurar uma boa prática e um tratamento eficaz para o nosso doente.

Este ano, a pandemia ficou para trás, mas as modificações que ela impôs perduraram no tempo. Isso levou-nos a considerar relevante a abordagem deste tema. Não se trata apenas de discutir o estado da saúde em si, mas sim de destacar o que foi alterado – não foram apenas desafios, também surgiram oportunidades no pós-pandemia – e é importante trazer isso para a discussão. Para isso, contaremos com a colaboração do Dr. Correia de Campos nesta sessão, em conjunto com os Diretores dos Serviços de Pneumologia do CHUSJ e do CHVNG/E, profissionais que ocupam cargos de liderança e de tomada de decisão. O objetivo é compreender, na prática deles, o que foi realizado, o que ainda pode ser feito e o que não foi possível realizar durante o período pandêmico. Esperamos que esta sessão seja participada, atendendo às expectativas dos participantes e ultrapassando os limites da ciência.

DF – A nossa intenção inicial era que esta sessão fosse aberta ao público. Ainda não temos a certeza se conseguiremos, mas é o nosso objetivo. Isto porque o tema é relevante para a população em geral e pode gerar diversas ideias. Certamente, não será um tema estanque, mas dependerá da participação ativa da audiência e da abordagem que os oradores escolherem para conduzir o tema.

RX – “Ecografia torácica”, “Infeções fúngicas” e “Cuidados paliativos” são os temas dos três cursos pós-congresso. Porquê estes temas?

DF – O curso pós-congresso sobre “Ecografia torácica” foi reintroduzido devido ao sucesso obtido no ano anterior. Este tema, altamente prático, embora destinado a uma participação mais restrita, atrai sempre um grande número de participantes. Nesse contexto, optámos por repetir o tema, proporcionando a oportunidade de participação a todos aqueles que não puderam fazê-lo no ano passado.

Posteriormente, pensámos em temas não abordados nos anos anteriores e decidimos destacar as “Infeções fúngicas” e os “Cuidados paliativos”. As infeções fúngicas são um tema que acreditamos não ter sido abordado, ou se foi, já foi há muito tempo, e desperta imenso interesse na Pneumologia. É um curso que está a refletir muita adesão. Optámos também pelos cuidados paliativos porque, no âmbito da Pneumologia, esta área tem crescido significativamente, especialmente no âmbito das neoplasias pulmonares, expandindo-se para abranger todas as áreas da Pneumologia – desde doentes neuromusculares até aqueles com DPOC em estadios mais avançados.

RX – Relativamente à submissão de trabalhos os números representam uma grande atividade investigacional?

CD – Sim, tivemos uma ótima adesão, com aproximadamente 180 trabalhos submetidos. A submissão foi bastante condicionada, pois a Comissão Organizadora do Congresso não prorrogou prazos, caso tivéssemos feito, certamente teríamos recebido mais submissões. Os trabalhos submetidos serão avaliados pelos nossos revisores com base nos critérios previamente estabelecidos, e serão aceites apenas os 90 melhores. A distribuição será feita conforme sugerido pelos autores, como comunicações ou posters, e também de acordo com a visão da organização.

RX – Quais são as vossas expectativas para este XXXI Congresso de Pneumologia do Norte e XXXVII Jornadas Galaico Durienses?

CD – O nosso objetivo é transversal ao objetivo de qualquer Comissão Organizadora quando promove qualquer reunião científica: introduzir novidades, fomentar a troca de ideias e proporcionar uma oportunidade formativa para todos – desde o interno em formação específica até ao especialista mais diferenciado. Isto porque todos nós estamos em constante evolução, e quando participamos numa reunião científica, é exatamente isso que procuramos.

DF – Esperamos que seja um Congresso muito participado que promova a troca de ideias em todas as áreas. Desejamos que a audiência se envolva no espaço da discussão no final das apresentações, permitindo a partilha de ideias. No término do Congresso, ambicionamos que os participantes sintam que a sua participação foi valiosa, levando consigo novas ideias que possam ser aplicadas na prática diária, sempre com foco no doente e na prestação do melhor cuidado possível.

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