Relação médico-doente: a gestão da doença na transformação digital

“Relação médico-doente: a gestão da doença na Transformação Digital” será um dos temas em destaque na 5.ª edição do workshop “O Doente no centro da imunoterapia”, dedicado ao cancro do pulmão, que decorrerá a 16 de outubro, e contará com António Araújo como palestrante. O diretor do Serviço de Oncologia Médica do Centro Hospitalar Universitário do Porto partilhou com o Raio-X um artigo de opinião neste âmbito.

Um diagnóstico correto exige que as queixas e as alterações que o utente apresenta, bem como a anamnese e o exame físico sejam interpretadas e valorizadas de acordo com a literacia e a situação psicossocial daquele, e também à luz dos conhecimentos científicos e do entendimento que o médico fizer da situação relatada. É compreensível que as mesmas queixas possam significar uma doença importante, uma doença menos relevante ou serem a consequência de uma patologia psicológica.

Para se fazer a destrinça entre os múltiplos diagnósticos diferenciais, o médico tem que ser capaz de estabelecer uma relação de confiança com o seu utente, uma ligação empática, que permita entender e valorizar corretamente o contexto e o quadro apresentados, dar-lhes suporte científico e estabelecer um programa de tratamento. Esta conexão pode ser, por si só e ainda, razão da melhoria do quadro clínico, dispensando a utilização de medicação ou de exames complementares de diagnóstico. Pelo que, quanto mais o médico compreender emocionalmente o seu utente, empatizar com ele, maior é a probabilidade de ter sucesso no processo curativo. Por todos estes motivos, a relação médico-doente, que se estabelece numa consulta, é uma relação estritamente humana, insubstituível, estabelecida entre quem sofre e quem procura aliviar esse sofrimento.

Atualmente, assistimos a uma intensa transformação digital na área da saúde. Já não é apenas a digitalização do processo clínico ou da imagiologia, a requisição e relatórios dos meios complementares de diagnóstico, a existência de bases de dados sobre a saúde dos cidadãos, ou o apoio que pode conferir à gestão das unidades de saúde. A digitalização na saúde incrementou muito o seu âmbito, como a utilização da robótica em cirurgias minimamente invasivas e com o cirurgião à distância, a aplicação da sequenciação genética para a personalização da terapêutica, a introdução da inteligência artificial para criar algoritmos que permitem um diagnóstico mais rápido e preciso ou simplificar os tempos de pesquisa e de desenvolvimento de novos medicamentos, assim como a utilização de dispositivos eletrónicos vestíveis para melhorar o controlo e a monitorização de doentes crónicos ou para melhorar e incentivar os cidadãos a ter hábitos de vida saudáveis. É evidente, no entanto, que toda esta tecnologia, quantas vezes disruptiva, apresenta, ainda, algumas fragilidades. Entre estas, podem-se salientar as questões da privacidade, da segurança, da interoperabilidade ou da integridade dos dados, bem como a possibilidade de se generalizar a informação recolhida e os assuntos da sua governação.

Se todo este cenário poderá fazer parte do futuro mais ou menos próximo, com grandes vantagens para os doentes e para os médicos, também não é menos certo que existe muita confusão sobre o que deve ser a digitalização em saúde e quais os seus limites. Como tal, reconhecendo a importância de colocar este tema na agenda da classe médica, e de entender os seus contornos e potencialidades, a “Relação médico-doente: a gestão da doença na Transformação Digital” será um dos temas de destaque da 5.ª edição do Workshop “O Doente no centro da imunoterapia”, dedicado ao cancro do pulmão.

Muito se tem falado nas vantagens da telemedicina e do seu uso generalizado, particularmente pela poupança de tempo, de despesas e de deslocação para os médicos e seus utentes. Mas se isto pode ser verdade para pessoas que vivem em lugares remotos ou com um limitado acesso aos serviços de saúde, ou para casos pontuais, evitando-se, assim, a vinda à unidade de saúde apenas para observação de uma análise de rotina ou para a prescrição de uma receita, particularmente nos utentes idosos ou frágeis, tal é completamente erróneo quando se pretende substituir amplamente as consultas médicas presenciais por contactos telefónicos ou videochamadas.

A digitalização em saúde deve ser complementar à relação médico-doente, permitindo melhorar a monitorização dos doentes, fornecer-lhes mais informação e ajudando a adquirir hábitos de vida saudáveis, possibilitando a tomada de decisão clínica pelo médico, melhorando a eficiência das unidades de saúde e promovendo um sistema de saúde mais acessível e equitativo.

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