Síndrome de apneia obstrutiva do sono em Pediatria – subdiagnóstico
Artigo de opinião de Maria Helena Estevão, pediatra e tesoureira da direção da Associação Portuguesa do Sono
A perturbação respiratória obstrutiva do sono constitui um continuum em que num extremo se localiza o simples ressonar e no outro a síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS). A SAOS ocorre em 3% das crianças em idade escolar, ao passo que o ressonar simples se manifesta em 15% das crianças.
O ressonar, por vezes desvalorizado, constitui o sinal mais evidente do estreitamento das vias aéreas superiores, mas há muitas outras manifestações (resultantes da insuficiente qualidade e quantidade de sono) que são subtis, podendo passar despercebidas e/ou não ser relacionadas com o quadro respiratório. Hiperatividade e dificuldades de aprendizagem podem ser o reflexo do compromisso neurocognitivo muitas vezes existente nesta situação e constituem exemplos de manifestações que, com frequência, não são relacionadas com o quadro respiratório. Esta falta de reconhecimento da etiologia do quadro pode constituir a justificação para que muitas crianças estejam incorrectamente diagnosticadas e medicadas por síndrome de hiperatividade e défice de atenção ou algumas outras necessitem de apoio escolar por dificuldades de aprendizagem.
Hiperatividade e dificuldades de aprendizagem podem ser o reflexo do compromisso neurocognitivo muitas vezes existente nesta situação e constituem exemplos de manifestações que, com frequência, não são relacionadas com o quadro respiratório
A perturbação respiratória do sono assume particular importância na criança, por estar em fase de crescimento e desenvolvimento. Os compromissos metabólico e cardiovascular podem vir a somar-se ao neurocognitivo, o que reforça a necessidade de uma identificação e abordagem precoces.
A causa mais frequente da perturbação respiratória obstrutiva do sono, nomeadamente da apneia obstrutiva do sono, é a hipertrofia das amígdalas e das adenoides. No entanto, entre outras causas, as características da face como queixo pequeno e/ou recuado (micro/retrognatia) ou face estreita podem contribuir para um estreitamento das vias aéreas superiores, mesmo na ausência do aumento de dimensões das amígdalas e adenóides.
O conhecimento científico sobre a importância do sono, de todas as suas características bem como das consequências resultantes da sua qualidade e/ou quantidade insuficiente tem vindo a aumentar exponencialmente nas últimas décadas. Do mesmo modo, a “descodificação” da etiologia multifatorial da SAOS na criança tem vindo a evoluir no sentido de uma intervenção multidisciplinar, cada vez mais alargada.
A causa mais frequente da apneia obstrutiva do sono é a hipertrofia das amígdalas e das adenoides. No entanto, entre outras causas, as características da face como queixo pequeno e/ou recuado (micro/retrognatia) ou face estreita podem contribuir para um estreitamento das vias aéreas superiores
A abordagem das características do sono das crianças deve ser sempre feita nas consultas de Sáude Infantil e Juvenil, do mesmo modo que se aborda a alimentação ou as vacinas, sensibilizando assim os pais para a vigilância do sono dos filhos e para a valorização de determinados sinais. A formação dos educadores e professores é fundamental na parceria que poderão fazer com os pais na identificação dos sinais evocativos. Last but not least : A formação e actualização contínua dos profissionais de saúde é crucial.
Maria Helena Estêvão