Carlos Morais: “Cerca de 50% das mortes por doença cardíaca são devidas a arritmias”
Tem por hábito medir a sua pulsação? Já parou para escutar os batimentos do seu coração? Já ouviu falar de arritmias? Por ocasião do Dia Mundial do Ritmo Cardíaco, que se assinalou no passado dia 13 deste mês, Carlos Morais, presidente da Associação Bate Bate Coração, e José Castro Lopes, presidente da Sociedade Portuguesa do AVC, falaram ao Raio-X sobre este grupo de patologias e sobre a sua relação com a doença vascular cerebral.
“Uma arritmia é uma perturbação do ritmo dos batimentos cardíacos e pode aparecer em qualquer idade e sexo e mesmo em corações saudáveis”, esclareceu Carlos Morais, adiantando que estas alterações do ritmo são muito frequentes e, na maior parte dos casos, são benignas e pouco importantes.
Carlos Morais, presidente da Associação Bate Bate Coração
Entre os múltiplos fatores de risco que podem estar na origem das arritmias, o presidente da Associação Bate Bate Coração e cardiologista do Hospital Prof. Fernando da Fonseca aponta o tabagismo, o stresse, o consumo de bebidas alcoólicas, estilos de vida sedentários, o consumo de drogas, a toma incorreta de alguns medicamentos e o excesso de cafeína. Segundo Carlos Morais, as arritmias mais sérias surgem com maior frequência na população adulta e estão associadas a outras doenças do coração.
“Palpitações, batimento cardíaco muito rápido ou muito lento (irregular), tonturas, cansaço, falta de ar, dor no peito são alguns dos sintomas que podem estar associados a arritmias. “Outras manifestações mais graves são a síncope (perda súbita dos sentidos) ou até a morte súbita”, acrescenta o cardiologista, reforçando que “cerca de 50% das mortes por doença cardíaca são devidas a arritmias. Aliás a causa mais frequente de morte súbita (90% casos) é a arritmia cardíaca”.
Dentro das arritmias cardíacas crónicas, a mais frequente é a fibrilhação auricular e caracteriza-se por ser um ritmo muito irregular com origem nas aurículas.
“A sua prevalência aumenta com a idade, sendo mais elevada nos indivíduos que têm outras doenças cardíacas. Pode afetar cerca de 10 % da população idosa e calcula-se que em Portugal existirão cerca de 250.000 pessoas com esta arritmia”, adianta Carlos Morais, fazendo referência a alguns dados epidemiológicos.
“20% dos AVC são de causa cardioembólica”
A fibrilhação auricular aumenta o risco da formação de pequenos coágulos sanguíneos que podem deslocar-se para o cérebro causando um AVC. Neste contexto, estima-se que cerca de um terço dos AVC podem ter como origem a fibrilhação auricular, daí a necessidade de terapêutica com anticoagulação oral, no sentido de tornar o sangue mais fluido e prevenir a formação destes coágulos.
De acordo com José Castro Lopes, “20% dos AVC isquémicos são de origem cardioembólica e a grande fonte de cardioembolismo é a arritmia, onde está a fibrilhação auricular”.
José Castro Lopes, presidente da Sociedade Portuguesa do AVC
No entanto, para o presidente da Sociedade Portuguesa do AVC, a relação entre o coração e o cérebro não está limitada às arritmias e ao AVC, uma vez que está também demonstrado que “o sofrimento cardíaco, seja de que natureza for, vai refletir-se no funcionamento do cérebro”. Por outras palavras, “os fatores de risco vasculares cada vez mais estão associados à demência, seja ela vascular ou de qualquer outro tipo”.