Francisco George: “é preciso apurar melhor os números da mortalidade por pneumonia”
Em Portugal a pneumonia mata uma média de 23 pessoas por dia, só nos hospitais públicos. Todos os dias são internados, em média, 81 doentes adultos com pneumonia adquirida na comunidade, destes, 16 acabam por morrer devido à doença, o que significa uma taxa de letalidade intra-hospitalar de cerca de 20%.
Foram revistos, no âmbito do XXXII Congresso de Pneumologia, que decorreu no Algarve no passado fim-de-semana, os números nacionais referentes à pneumonia. Dentro do grupo das doenças respiratórias, esta é a principal causa de morte, motivo que tem levantado algumas preocupações na comunidade médica que se dedica a esta área, bem como na Direção Geral da Saúde (DGS).
Filipe Froes, consultor de Pneumologia da DGS e médico pneumologista no Hospital de Pulido Valente
De acordo com as contas apresentadas por Filipe Froes, consultor de Pneumologia da DGS e médico pneumologista no Hospital de Pulido Valente, os custos diretos com o internamento por pneumonia rondam os 80 milhões de euros/ano, 79% dos internamentos ocorrem em indivíduos com mais de 65 anos, a duração média do internamento é de 10 dias e a mortalidade intra-hospitalar é de cerca de 20%. Estes dados provêm de um estudo que decorreu entre 2000 e 2009, no qual foram analisados os internamentos nas instituições do Serviço Nacional de Saúde.
Como referiu Filipe Froes, “a pneumonia é uma doença muito democrática. Afeta pessoas de ambos os géneros, de todas as idades, de todas as classes sociais e de todos os graus e escolaridade”.
Em Portugal a doença mata uma média de 23 pessoas por dia, só nos hospitais públicos. Todos os dias são internados, em média, 81 doentes adultos com pneumonia adquirida na comunidade, destes, 16 acabam por morrer devido à doença, o que significa uma taxa de letalidade intra-hospitalar de cerca de 20%.
Cristina Bárbara, também abordou a questão das pneumonias revelando que a doença tem em Portugal, quer em termos de mortalidade, quer em termos de morbilidade, números piores do que os da média europeia.
Cristina Bárbara, Diretora do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias da DGS
Em Portugal a doença mata uma média de 23 pessoas por dia, só nos hospitais públicos. Todos os dias são internados, em média, 81 doentes adultos com pneumonia adquirida na comunidade, destes, 16 acabam por morrer devido à doença, o que significa uma taxa de letalidade intra-hospitalar de cerca de 20%
A diretora do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias da DGS apresentou uma análise exploratória do estudo que está a ser realizado com recurso à base de dados do Serviços Nacional de Saúde relativo a pneumonias em Portugal e explicou que o objetivo final passa por gerar um modelo de monitorização futura para Portugal. “Depois de criado este modelo, em que encontramos os fatores que levam a maior mortalidade, se os passarmos a monitorizar em consequência das politicas de saúde, conseguiremos atuar melhor”, garantiu.
“Chamar as mesmas coisas aos mesmos eventos”
Venceslau Hespanhol, Presidente da Sociedade Portuguesa Pneumologia
Embora assuma que a pneumonia tem uma elevada prevalência em Portugal, Venceslau Hespanhol acredita que pode haver uma diferença nos critérios de notificação das causas de morte que colocam esta doença como principal causa de morte respiratória no nosso país. “Num doente seropositivo, com VIH, com imunodepressão significativa e síndroma clínica de SIDA, que tem uma pneumonia. pode considerar-se, em Portugal, que a causa de morte é a pneumonia. Noutro país, pode ser considerada como causa de morte a SIDA”, exemplificou o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. Se assim for, “estamos a comparar realidades que não são comparáveis, uma vez que os métodos de notificação são distintos entre os vários países”.
Na perspetiva de Venceslau Hespanhol, pode haver uma diferença nos critérios de classificação médico-administrativos no que respeita à classificação da causa de morte. “Se uma pessoa muito idosa, com várias patologias de base, sofre uma pneumonia e morre. O motivo que nós, em Portugal, consideramos ter sido a causa de morte, pode ser completamente diferente do motivo que os americanos, os brasileiros ou os franceses considerariam. É, na realidade, uma questão de critérios de classificação médico-administrativos”, justificou. Neste sentido, “há necessidade de criar normalização classificativa. Temos de chamar as mesmas coisas aos mesmos eventos. Só dessa forma conseguiremos fazer comparações”.
Na perspetiva de Venceslau Hespanhol, pode haver uma diferença nos critérios de classificação médico-administrativos no que respeita à classificação da causa de morte. “É, na realidade, uma questão de critérios de classificação médico-administrativos”, justificou. Neste sentido, “há necessidade de criar normalização classificativa. Temos de chamar as mesmas coisas aos mesmos eventos. Só dessa forma conseguiremos fazer comparações”
Para “apurar melhor os números da mortalidade por pneumonia em Portugal”, Francisco George afirmou que “vamos ter de juntar a comunidade médica da Pneumologia com os especialistas da Direção-Geral da Saúde”. À margem de um curso pós-congresso sobre este tema, no qual participou, o Diretor-Geral da Saúde declarou ao Raio-X que “em termos percentuais, há uma grande diferença entre Portugal e os restantes países da União Europeia”, pelo que, “vamos ter de compreender muito bem este fenómeno”.
Por Cátia Jorge