Portugal tem um número maior de doentes a iniciar a terapêutica
Assinalou-se ontem o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA e, apesar da melhoria dos indicadores nacionais, há ainda desafios para os quais Fausto Roxo chama a atenção. Segundo o membro da direção do Núcleo de Estudos da Doença VIH da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, face às alterações do perfil dos doentes com VIH “impõe-se a adaptação das estruturas que seguem estes doentes em cada hospital, com equipas multidisciplinares em que a Medicina Interna terá um papel central”
A ONUSIDA definiu como objetivos para 2020 o 90-90-90, ou seja, 90% de todos os casos diagnosticados, destes diagnósticos, 90% em tratamento e destes, 90% com viremias suprimidas. “Em Portugal, as autoridades de saúde comprometeram-se com estes objetivos, o que levou a que um número progressivamente maior de doentes esteja a iniciar a terapêutica” afirma Fausto Roxo, membro da direção do Núcleo de Estudos da Doença VIH da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).
“Ainda no nosso país, os últimos dados estatísticos indicam-nos que o primeiro 90 terá já sido alcançado” sublinha o especialista. Para que se consigam atingir os objetivos, doentes em tratamento e com carga viral suprimida, será preciso um esforço consertado das várias unidades de saúde e estruturas comunitárias, para a retenção em seguimento e tratamento dos doentes já diagnosticados, especialmente nos casos mais difíceis, como são as pessoas que se deslocam frequentemente dentro do país ou para fora dele.
Face a este novo quadro, impõe-se a adaptação das estruturas que seguem estes doentes em cada hospital, com equipas multidisciplinares em que a Medicina Interna terá um papel central. Também estruturas extra-hospitalares terão obrigatoriamente que estar envolvidas, num futuro que poderá vir a contemplar consultas e fornecimento de medicação fora dos Hospitais.
“Para que se consigam atingir os objetivos, doentes em tratamento e com carga viral suprimida, será preciso um esforço consertado das várias unidades de saúde e estruturas comunitárias, para a retenção em seguimento e tratamento dos doentes já diagnosticados, especialmente nos casos mais difíceis, como são as pessoas que se deslocam frequentemente dentro do país ou para fora dele”
Ainda que tenha existido uma evolução inegavelmente positiva nas últimas décadas, é importante realçar o perfil do doente no nosso país, que sofreu alterações que devem ser analisadas e confrontadas. Se por um lado, os diagnósticos deixaram de estar maioritariamente ligados à utilização de drogas endovenosas, face ao grande sucesso das medidas tomadas neste campo nas últimas décadas, é preocupante a frequência atual de diagnósticos diretamente ligados à transmissão sexual, com particular relevância para a transmissão entre jovens homossexuais masculinos e entre pessoas de idades mais avançadas, na 5ª e 6ª décadas de vida, por relações heterossexuais.
“Do simples enunciado das questões levantadas, a merecer discussão mais aprofundada, constatamos que realmente os tempos estão a mudar. Cabe-nos a todos encontrar as respostas sopradas por estes ventos de mudança”, conclui Fausto Roxo.