Contraceção deu às mulheres poder de escolha, liberdade e controlo da sua própria fertilidade
Na data em que se assinala o Dia Internacional da Mulher, o Raio-X falou com Joaquim Neves sobre contraceção. O médico especialista em obstetrícia e ginecologia, assistente na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, explica que esta é uma das áreas que mais revolucionou a vida da mulher, permitindo-lhe “definir as suas perspetivas de fertilidade, quantos filhos quer ter e quando é que pretende ser mãe”.
Joaquim Neves, médico especialista em obstetrícia e ginecologia, assistente na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Raio-X (RX) – Na data em que se assinala o Dia Internacional da Mulher, qual a importância de falar de contraceção?
Joaquim Neves (JN) – A contraceção é umas das áreas mais inovadoras e dinâmicas na saúde da mulher e a evolução dos conceitos associados promoveu um dos direitos fundamentais das mulheres: liberdade/opção de escolha para viver de melhor forma a sua sexualidade. Atualmente a mulhere pode definir as suas perspetivas de fertilidade, quantos filhos quer ter e quando é que pretende ser mãe.
RX – Apesar dos esforços em envolver os homens nesta questão, esta continua a ser uma preocupação pouco partilhada pela população masculina. Ainda é à mulher que cabe a responsabilidade da contraceção?
JN – Tradicionalmente, as mulheres preferem controlar a sua fertilidade. Por outro lado, os métodos de contraceção estão mais direcionados para o género feminino.
RX – De que forma tem evoluído a contraceção e de que forma os atuais métodos disponíveis podem facilitar o dia-a-dia das mulheres?
JN – Existem, nos dias de hoje, diferentes alternativas de métodos de contraceção, no sentido de permitir a melhor adaptação às utentes. Os princípios ativos da contraceção hormonal são diferentes, com maior biodisponibilidade, permitindo reduzir a dosagem hormonal, mantendo a eficácia, e assim diminuir a ocorrência dos potenciais efeitos secundários. Os regimes de administração das hormonas estão hoje mais diversificados, por exemplo as pílulas podem ter 21, 22 ou 28 comprimidos, também as vias de administração estão mais alargadas (via oral, intrauterina, transdérmica e subcutânea).
RX – Quais os métodos mais utilizados em Portugal?
JN – A pílula continua a ser a forma de contraceção mais conhecida e utilizada. Seguem-se os dispositivos intrauterinos, os implantes subcutâneos, os anéis vaginais e os adesivos transdérmicos.
RX – A cada etapa da vida da mulher, corresponde um conjunto de métodos mais adequados. Que critérios estão na base da escolha do melhor método?
JN – A escolha da contraceção deve ser livre após um adequado aconselhamento médico sobre o método de contraceção. O que é o método, como atua, quais as vantagens e desvantagens, o que pode limitar a ação contracetiva, ou o que pode interferir com o método e, muito importante, qual a taxa de continuidade do método ao longo dos anos (traduz satisfação e tolerância) são os principais critérios a ter em conta na escolha de um método contracetivo.
Gravidez indesejada é mais frequente entre os 20 e os 39 anos
RX – A gravidez indesejada ainda é uma realidade nas jovens portuguesas?
JN – Verifica-se que a interrupção da gravidez é mais comum nas mulheres entre os 20 e os 39 anos do que nas adolescentes
RX – Quais os métodos contracetivos ideais para as mulheres mais jovens, com vista a minimizar o risco de gravidez indesejada e de doenças sexualmente transmissíveis?
JN – O preservativo sem dúvida é o método ideal para a redução do risco das infeções sexualmente transmissíveis. Qualquer outro método de contraceção pode ser recomendado em qualquer grupo etário.
RX – Qual o papel da “pilula do dia seguinte” quando o eventual esquecimento é detetado atempadamente?
JN – A utilização da contraceção de emergência é sempre recomendável para minimizar uma gravidez não planeada. Em Portugal atualmente existem alternativas para os três primeiros dias após uma relação desprotegida ou cinco dias após.
RX – Que mensagem gostaria de deixar a todas as mulheres na data de hoje?
JN – A saúde das mulheres é um pilar basilar em qualquer sociedade, desde a puberdade (início dos maiores desafios das mulheres) até a pós-menopausa, as mulheres devem ser pró-ativas na promoção do seu bem-estar e da saúde. Existem exames preventivos, atitudes de comportamento regular, equilibrado e sustentado que minimizam os riscos de condições clínicas mais comuns: infeções sexualmente transmissíveis, abuso sexual, violência de género, cancro do colo do útero (vacinação e rastreio), gravidez planeada e programada, vigilância da gravidez, promoção da amamentação e da maternidade, vigilância da saúde da mulher adulta, promoção da saúde na pós-menopausa, prevenção do cancro da mama, do colo e do reto, da proteção da massa óssea, prevenção das quedas e minimização das alterações da memória.