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Hepatite C, pensar o futuro

Hepatite C, pensar o futuro

Realizou-se hoje, no pequeno auditório da Reitoria da Universidade de Lisboa, a Conferência “Hepatite C, Pensar o Futuro”, uma iniciativa onde foram apresentadas as conclusões do estudo “Desenho do futuro: Portugal sem VHC”, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/UNL).

Este trabalho de investigação, desenvolvido no final de 2015, em colaboração com um grupo de peritos nacionais, apresenta uma proposta orientadora para a eliminação da infeção pelo vírus da hepatite C em Portugal.

Como principais recomendações estão o desenvolvimento de um plano nacional estratégico, a promoção de uma gestão clínica dinâmica que acompanhe a inovação, a colocação do doente no centro do sistema de saúde, a abordagem da hepatite C como um problema de saúde pública e a planificação de uma ação concertada de prevenção e diagnóstico da doença.

“A eliminação da hepatite viral como ameaça à saúde pública até 2030 é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde”, refere Rute Simões Ribeiro, investigadora da ENSP/UNL. “Tendo como visão, a médio e longo prazo, a erradicação do vírus da hepatite C em Portugal, importa definir uma estratégia nacional que contemple e articule as diferentes dimensões da doença: gestão clínica, financiamento, organização e sistemas de informação centrados no doente”, adianta a investigadora.

“O estudo procurou avançar com recomendações e propostas que contribuam para o desenho de um plano para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos doentes infetados, com ações concretas, que resultem de uma abordagem integradora dos diferentes setores do sistema com implicações na gestão da hepatite C”, conclui.

“A eliminação da hepatite viral como ameaça à saúde pública até 2030 é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde”

Tendo como principal prioridade a criação de um plano nacional estratégico, o estudo apresentado recomenda que a hepatite C seja reafirmada na agenda política e que seja criada uma dotação orçamental orientada para a sua gestão. Além disso, define como crítico a realização de ações concretas de educação para o cidadão, em particular nos grupos de risco.

A segunda recomendação deste estudo refere a necessidade de uma gestão clínica dinâmica, ou seja, a agilização da revisão periódica das normas de orientação clínica, tendo em atenção as populações específicas, os diferentes genótipos e o respetivo acompanhamento. Neste âmbito, considera ainda fundamental a criação de orientações clínicas em permanente atualização nos cuidados de saúde primários, focados na prevenção, rastreio, diagnóstico e tratamento. O estudo valida ainda o recentemente criado fundo de financiamento para a inovação e recomenda um sistema de informação centralizado.

 

Doente no centro do sistema

O estudo da ENSP/UNL recomenda que o doente seja colocado no centro do sistema, tratado de forma individualizada e integrada, com acompanhamento contínuo. Os investigadores alertam para a necessidade da criação de projetos específicos para as populações de risco que possibilitem não só o diagnóstico, mas também o tratamento das pessoas infetadas. É também dado o alerta de que no futuro é essencial o aperfeiçoamento dos sistemas de vigilância epidemiológica e monitorização da hepatite C.

De acordo com as recomendações apresentadas, a hepatite C deve ser abordada como um problema de saúde pública porque só assim será possível contribuir ativamente para o objetivo de eliminar a infeção pelo vírus da hepatite C a nível global. Para concretizar este objetivo o estudo recomenda a formação e intervenção específica dos especialistas em Medicina Geral e Familiar, nomeadamente através da inserção desta temática da gestão da hepatite C nos conteúdos curriculares.

Ação concertada de prevenção e diagnóstico

No sentido de criar um programa nacional de prevenção e diagnóstico na área da hepatite C, o estudo salienta a importância de elaborar estratégias nacionais com a sociedade civil, bem como a otimização da Consulta a Tempo e Horas, como contributo para a política nacional para o controlo da doença. São ainda identificadas como medidas futuras a necessidade de realizar um rastreio populacional e a criação de sistemas de educação e de informação sobre a hepatite C para a população.

O estudo foi apresentado por Rute Simões Ribeiro, investigadora da ENSP/UNL, e discutido por um painel de especialistas composto por Henrique Luz Rodrigues, presidente do INFARMED, Isabel Aldir, diretora do Programa Nacional para as Hepatites Víricas, e Rui Tato Marinho, hepatologista no Hospital de Santa Maria. Na conferência que ficou marcada pela reflexão em torno do futuro da prevenção, diagnóstico e tratamento da hepatite C que levam à eliminação da infeção pelo vírus da hepatite C a nível global, estiveram presentes numerosos especialistas, nacionais e internacionais.