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Cancro da cabeça e pescoço: “É preciso tornar os tratamentos menos mutilantes”

Cancro da cabeça e pescoço: “É preciso tornar os tratamentos menos mutilantes”

“Em estádios iniciais, os tumores da cabeça e do pescoço são relativamente fáceis de tratar, contudo, a manutenção dos comportamentos de risco faz disparar o risco de recidiva”, afirma José Dinis. Numa rápida entrevista ao Raio-X, no âmbito de uma sessão que decorreu nos Encontros da Primavera 2017, o oncologista do IPO do Porto assumiu que o grande desafio está em contornar a frágil condição socioeconómica destes doentes e reforçou a importância de tornar os tratamentos “menos mutilantes”.

 

“Os tumores da cabeça e pescoço, de forma individual, são doenças raras, mas, no seu conjunto, têm um peso significativo dentro do grupo das doenças oncológicas”, afirmou o especialista do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto. No entanto, a principal particularidade deste grupo de doenças é o facto de atingirem, de forma geral, “pessoas de um extrato socioeconómico muito baixo”. Segundo José Dinis, “são pessoas desfavorecidas, que vivem em situações socioeconómicas muito complicadas, o que dificulta o diagnóstico precoce, assim como a boa adesão ao tratamento”.

 

Por outro lado, “são doentes que têm várias comorbilidades importantes no âmbito respiratório e cardiovascular”, sendo que, na maior parte das situações, os fatores de risco que levaram ao desenvolvimento de cancro da cabeça e pescoço, nomeadamente o tabaco e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, são os mesmos que estão na base de algumas das restantes comorbilidades, como a doença hepática, respiratória e cardiovascular.

 

Embora, nas suas fases iniciais, os tumores da cabeça e do pescoço sejam relativamente fáceis de tratar, o Dr. José Dinis adianta que a manutenção de comportamentos de risco acaba por determinar a recidiva. Além disso, o prognóstico está sempre relacionado com a fase em que é feito o diagnóstico e, “na grande maioria das vezes, os doentes chagam à consulta já em fases de doença avançada, e até com mais do que um tipo de tumor (esófago e pulmão, por exemplo) o que, obviamente, vai condicionar o tempo de sobrevivência”.

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Cirurgia continua a ser a “principal arma terapêutica”

Neste tipo de tumores, a terapêutica de base continua a ser a cirurgia. “Esta ainda é a nossa principal arma. A maior parte dos doentes é tratada com cirurgia ou com radioterapia. Os tratamentos sistémicos estão reservados para coadjuvar estes tratamentos localizados ou para atuarem quando os outros, por algum motivo, não podem ser utilizados, ou até numa fase em que a doença já está muito avançada e o doente não é candidato a cirurgia”, descreve o oncologista.

Com o aparecimento de novas estratégias de tratamento, como as terapêuticas dirigidas e, mais recentemente, a imunoterapia, “pretendemos sempre obter ganhos de sobrevivência, mas também de qualidade de vida”, adiantou o especialista. No caso dos tumores da cabeça e do pescoço, há ainda a preocupação de “tornar os tratamentos menos mutilantes que desfiguram a pessoa ou que limitam funções nobres como a deglutição.

 

No entanto, o Dr. José Dinis reforça a mensagem de que o acompanhamento dos doentes com cancro da cabeça e do pescoço não está limitado ao hospital e não envolve apenas uma equipa de profissionais de saúde. “A família tem um papel essencial, bem como a assistência social. Os tratamentos têm alguma toxicidade e é preciso assegurar que o doente tem um apoio familiar e a assistência necessária em caso de emergência. É também necessário garantir que o doente tem uma boa adesão ao tratamento prescrito, que comparece nas consultas e que tem boas condições de nutrição. Por todos estes motivos, “cada doente é um desafio”.

 

Por Cátia Jorge