O futuro faz-se “doença a doença e doente a doente”
Que caminhos estão a ser traçados para o futuro do cancro? Esta foi a questão central das Conferências CUF 2017 e serviu de mote para uma sessão inteiramente dedicada às mais recentes inovações no tratamento oncológico. A Prof.ª Doutora Sofia Braga, coordenadora científica do Instituto CUF de Oncologia, foi uma das moderadoras e lembrou, no final da palestra, que não há soluções revolucionárias. “Temos de continuar a estudar muito a biologia do cancro, para saber o que está em jogo”, defende.
A especialista protagonizou a primeira comunicação do painel, na qual se debruçou sobre o papel da genómica. “Neste momento fazemos avaliações de painéis genéricos, que vêem umas centenas de alterações, para se encontrarem, depois, terapêuticas-alvo adequadas”, explicou Sofia Braga, referindo que se trata de um passo importante, mas alertando para o perigo de gerar falsas expectativas. “O doente acha que vamos conseguir encontrar sempre terapêuticas mais eficazes, mas isso não é verdade”, sublinhou.
Partindo do exemplo de uma doente com alterações em sete genes, esclareceu que “não é possível dar sete drogas”. “Damos uma, se conseguirmos. E qual será a eficácia dessa droga num tumor que já está cheio de mutações?”, questionou. A verdade é que, “numa fase tardia, de acordo com ensaios publicados, apenas 1% dos doentes vai beneficiar”.
Falou-se, depois, noutro tema em destaque na atualidade: a imunoterapia. “A principal mensagem deixada pela Dr.ª Karine Marie Serre (Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa) foi que a imunoterapia, nos tumores com muita instabilidade genómica – melanoma, carcinoma de células renais, tumor de pulmão –, será, provavelmente, muito eficaz”. Trata-se, “nestes casos, de imunoterapia por anticorpos dos immune checkpoints inhibitors”.
“No outro extremo, para tratar tumores com uma alteração muito importante, recorre-se às Chimeric Antigen Receptor (CAR) T-Cells”, referiu a médica oncologista, explicando que “estas células T são tiradas do corpo e, depois, reintroduzidas, para atacar só um tipo de alteração. Por exemplo, nas leucémias agudas de células B, «ensina-se» o sistema imunitário a matar todas as células que tenham aquele recetor”.
Questionada sobre o que podemos esperar do futuro, a Prof.ª Doutora Sofia Braga destaca que, “ao contrário do que a comunicação social faz crer, não haverá inovação disruptiva”. Até porque, “os temas falados nas Conferências CUF como inovação, já estão nas bancadas dos cientistas há décadas”. “Os passos rumo ao futuro são dados de forma lenta mas segura”, defende. Para isso há que “continuar a estudar muito a biologia do cancro, para saber o que está em jogo, em cada doença”.
O Prof. Doutor Dick Arnold (Diretor Clínico do Instituto CUF de Oncologia), que moderou esta mesma sessão, considera que “foram deixadas pistas sobre três caminhos essenciais para a melhoria do tratamento oncológico, no futuro”. Na sua opinião, “será necessário entender cada vez melhor a base molecular do tumor”; “continuar a apostar em novas técnicas que ajudem o sistema imunológico a lutar contra o tumor”; e seguir a “inovação tecnológica no tratamento, através de radioterapia moderna, cirurgia robótica e novas técnicas de intervenção, como referiu o Dr. Eduardo Netto (Instituto Português de Oncologia)”. Assim, “poderemos tratar mais pacientes, com menos dificuldades em controlar a doença e menos morbilidade”, concluiu.
Eduardo Netto, Karine Marie Serre, Dirk Arnold e Sofia Braga