Subnotificação de reações adversas a medicamentos revistas em estudo
A falta de tempo e o medo de repercussões legais são apontadas como dois dos principais entraves à notificação de reações adversas a medicamentos por parte de profissionais de saúde em Portugal. Esta é uma das conclusões do estudo “Farmacovigilância na União Europeia: Implementação prática nos Estados Membros”, desenvolvido por Michael Kaeding, especialista em políticas europeias e professor na Universidade de Duisdburg-Essen, com o apoio da biofarmacêutica AbbVie.
O estudo, que alerta para a subnotificação de reações adversas em Portugal, identifica as principais barreiras à notificação e apresenta ainda algumas recomendações.
Um dos entraves à notificação identificados pela análise foi a falta de tempo dos profissionais de saúde, situação que os autores descrevem como particularmente crítica em meio hospitalar, onde médicos e enfermeiros estão sobrecarregados. Face a esta falta de recursos, resultante dos sucessivos cortes orçamentais em consequência da crise, o estudo considera que são necessários mais meios financeiros para reduzir a carga de trabalho dos profissionais de saúde e, consequentemente, aumentar a possibilidade de notificação de reacções adversas.
Existe também um receio repercussões legais entre os profissionais de saúde, como foi possível constatar nas entrevistas realizadas no âmbito deste trabalho. De acordo com os autores, “mesmo que os profissionais de saúde estejam alerta para a importância de notificar as reações adversas e tenham tempo, podem ter receio de o fazer por questões legais”. Para que os profissionais de saúde não tenham receio de notificar, o estudo recomenda algumas medidas, como o aconselhamento jurídico e o reforço da confidencialidade.
A análise revela ainda que muitos profissionais de saúde não estão sequer informados sobre a sua obrigação legal de notificar ou não estão sensibilizados para a importância de notificar todas as reações, e não apenas as graves ou inesperadas. Nesta matéria, o estudo recomenda a obrigatoriedade de aulas sobre a importância da farmacovigilância e a necessidade da notificação de reações adversas para todos os estudantes de Medicina e Farmácia. Os autores recomendam ainda formação adicional, mesmo após a universidade, para todos os profissionais de saúde e de gestão hospitalar.
No caso concreto dos medicamentos biológicos essa falta de sensibilização é ainda mais preocupante, constatam os autores do trabalho, salientando que “muitos profissionais de saúde não estão alerta para a necessidade de reportar os números de lote, informação essencial para a rastreabilidade dos biológicos”. Os autores defendem ainda a criação de regulamentação própria para os biológicos que, pelas suas características e pela complexidade do seu modo de desenvolvimento e produção, devem ser vistos como um desafio especial para a farmacovigilância.
O estudo “Farmacovigilância na União Europeia: Implementação prática nos Estados Membros” foi liderado por Michael Kaeding, especialista em políticas europeias e professor na Universidade de Duisdburg-Essen, com o apoio da biofarmacêutica AbbVie.