“10% dos Portugueses sofrem de patologia da tiroide”, afirma Inês Sapinho, médica endocrinologista
A tiroide é uma pequena glândula, em forma de borboleta, que está localizada no nosso pescoço, mas que controla a grande parte do nosso organismo. Em Portugal, cerca de 10% da população sofre de algum distúrbio da tiroide e, a nível global, a incidência deste grupo de doenças tem vindo a aumentar, como explica Inês Sapinho, endocrinologista do Hospital CUF Descobertas.
A glândula tiroideia produz e liberta para a circulação sanguínea hormonas, a triiodotironina (T3) e a tetraiodotironina (T4 ou tiroxina), essenciais para “o normal funcionamento e desenvolvimento do nosso organismo, uma vez que exercem múltiplos efeitos no metabolismo. Regulam a temperatura corporal, a frequência cardíaca e tensão arterial, o funcionamento dos intestinos, o controlo do peso, dos estados de humor, entre outras funções”, explana a endocrinologista do Hospital CUF Descobertas.
Existem múltiplas doenças da tiroide. Algumas caraterizam-se pelo incorreto funcionamento da glândula como é o caso do hipotiroidismo e do hipertiroidismo, as duas disfunções mais comuns na população. O hipotiroidismo resulta “de um défice da produção ou mesmo ausência de hormonas tiroideias”. Sendo que essas hormonas atuam sobre a velocidade do funcionamento das células do nosso corpo, este vai acabar por estar “muito mais lentificado e por consequência todas as ações também”. Este défice de produção de hormonas tiroideias pode decorrer de uma possível remoção cirúrgica da glândula ou de doenças inflamatórias ou imunológicas. A manifestação clinica desta disfunção é progressiva e os sintomas passam por “cansaço, pele seca, queda e cabelo quebradiço, obstipação, ligeiro aumento de peso e consequente dificuldade em perdê-lo, intolerância ao frio, irritabilidade, esquecimento, depressão, falta de motivação e de concentração e até mesmo infertilidade”. Contrariamente, o hipertiroidismo “resulta da produção excessiva de hormonas tiroideias”, uma situação clínica que pode ser extremamente grave e mais comum no sexo feminino. A causa mais frequente de hipertiroidismo é a doença autoimune, causada por anticorpos que estimulam a glândula. Os doentes que sofrem de hipertiroidismo são comummente descritos como acelerados, pois as manifestações clinicas passam por “irritabilidade, aumento do trânsito intestinal, palpitações e aumento da frequência cardíaca, hiperatividade, intolerância ao calor, fibrilhação auricular, perda de peso e, concomitantemente, um aumento do apetite, apatia, entre outros”. Tanto o hipotiroidismo, como o hipertiroidismo podem causar ansiedade, irregularidades menstruais e alterações do sono.
Por vezes o que acontece nas doenças tiroideias é que “há um atraso no diagnóstico, porque as pessoas consideram que todos os sintomas estão associados ao estilo de vida que levam diariamente” e muitas vezes consultam psicólogos, cardiologistas e até outras áreas de intervenção, na busca contínua de um diagnóstico. No entanto, este passa pela “realização de análises ao sangue, nas quais, podem ser observados diversos parâmetros”., descreve Inês Sapinho.
O tratamento de ambas as disfunções é distinto. No hipertiroidismo “é mais complexo, por ser uma disfunção mais complicada” e é feito com medicações que impedem a fabricação de hormonas tiroideias. A terapêutica por comprimidos geralmente “não é para a vida toda porque não é aconselhável e podem até não ser suficientes”. Desta forma, numa fase posterior, de acordo com a idade e após a clarificação dos objetivos do doente, se for mulher nomeadamente se quer engravidar ou não, “o endocrinologista pode optar por um tratamento definitivo”, como por exemplo, o iodo radioativo (que destrói o tecido da tiroide) ou até mesmo a cirurgia – tireoidectomia – para a remoção total ou parcial da glândula. No que toca ao tratamento do hipotiroidismo este pode ser feito através de uma reposição hormonal “com levotiroxina que funciona como um substituto da glândula tiroideia”. Esta terapêutica deve ser feita “diariamente, e em jejum, isto é, cerca de 20 a 30 minutos antes do pequeno-almoço e não deve ser misturado com a toma de outra medicação”. A dose é individualizada de acordo com a idade, o peso e as patologias associadas. Pode levar cerca de seis meses até a situação clínica estabilizar. Como na maioria dos casos, o hipotiroidismo é definitivo, “o tratamento e seguimento são para o resto da vida. No entanto, se o doente fizer a terapêutica de forma adequada e realizar um controlo regular com o seu médico tem uma qualidade de vida perfeitamente normal”, acrescenta a endocrinologista. Independentemente da disfunção tiroideia, no caso dos doentes do sexo feminino, a dose do tratamento deve ser ajustada em caso de gravidez.
O controlo das disfunções da tiroide depende diretamente da fase em que o doente está, bem como da sua situação e da existência ou não de alguma alteração. No hipotiroidismo, até o doente atingir uma função tiroideia normal, “inicia a medicação e volta à consulta depois de um mês ou mês e meio para reavaliação”. Posteriormente passados três meses para perceber se a situação permanece estável ou há alterações. Caso permaneça estável, “o prazo é alargado e o doente só volta à consulta dentro de, aproximadamente seis meses, acompanhado das análises ao sangue”. O hipertiroidismo é diferente, é muito mais complexo, “o doente pode ter que fazer análises de 15 em 15 dias ou mensalmente. Numa fase inicial, é um processo muito exigente, requer análises, muitas idas a consultas, muita repetição, mas após o controlo, a situação melhora e alargamos o seguimento”. No hipertiroidismo, Inês Sapinho, alerta para a importância de um seguimento exigente, por ser uma disfunção onde “há risco de arritmias graves e um alto nível de desgaste, que muitas vezes faz com que os doentes tenham que estar em casa a descansar para não agravar a situação”, conclui.
Viver com hipotiroidismo
Mafalda Ribeiro descobriu, em 2014, que sofria de hipotiroidismo de hashimoto. Foi durante a terceira gravidez que deu conta das limitações que adquiriu com esta patologia, nomeadamente: arritmias, cansaço e falta de energia. Atualmente está medicada com levotiroxina e controlada pelo endocrinologista. Veja o testemunho na íntegra neste vídeo:
Por Rita Rodrigues