Dia Mundial do Sono: o sono e a religião
No Dia Mundial do Sono, 15 de março, a Associação Portuguesa do Sono (APS) promove, em Coimbra, um encontro entre cientistas e representantes do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. No âmbito desta inciativa, o Raio-X partilha um artigo de opinião de Joaquim Moita, presidente da APS, que aborda o sono e a religião.
No âmbito da comemoração do Dia Mundial do Sono, a Associação Portuguesa do Sono (APS), em colaboração com o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), promove no Auditório do Conservatório de Música de Coimbra, na tarde de 15 de março, a iniciativa “Dormir bem, envelhecer melhor”.
A importância de um sono com qualidade será abordada em múltiplas dimensões: a higiene do sono das crianças e adolescentes, que foi pretexto para um concurso de desenho nacional; a síndrome da apneia do sono que é base de uma performance teatral criada pela Marionet; a importância de um bom sono para um bom envelhecimento; recomendações para todas as idades de como ter um sono saudável e até um debate sobre sono e religião. A entrada é livre.
A APS e o CNC-UC voltam a juntar-se às comemorações do Dia Mundial do Sono, uma organização da World Sleep Society, celebrado este ano a 15 de março, com uma campanha de sensibilização em torno do lema escolhido para este ano: “Dormir bem, envelhecer melhor”. A mensagem que se pretende transmitir é de que o bem estar físico, mental e social é melhor se dormir bem, não importa a idade. A qualidade do sono é um dos pilares fundamentais da saúde, a que se juntam a estabilidade emocional, alimentação adequada e a prática de exercício físico. A campanha pretende enfatizar que dormir mal causa várias doenças e terá consequências na qualidade de vida presente e futura.
O sono tem impacto sobre todos os aspetos da vida e a sua má qualidade pode ser responsável pelo aparecimento de várias doenças orgânicas ou psicológicas. A qualidade do sono tem impacto desde as doenças naturais, às perturbações psicológicas e sendo um pilar fundamental da saúde, vai ter consequências na energia com que se enfrenta cada dia. A importância de um bom sono está presente na necessidade de dormir bem para poder aproveitar plenamente os momentos bons da vida.
Para assinalar esta data, e à semelhança do ano passado, e novamente em colaboração com o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, há um vasto conjunto de atividades, como sessões em escolas, unidades de saúde e autarquias, e a divulgação de um pequeno vídeo de sensibilização, disponível aqui. São muitos os lugares onde a APS e o CNC vão estar a apelar aos portugueses para dormirem bem, com destaque para o evento que ocorre em Coimbra.
“Dormir bem, envelhecer melhor” em Coimbra
No dia 15 de março, no Auditório do Conservatório de Música de Coimbra, na sessão de abertura, marcada para as 14h30, vão ser entregues os prémios do concurso “Dormir bem, envelhecer melhor”, que a APS promoveu, numa parceria com o CNC, junto dos alunos das escolas de todo o país. Concorreram cerca de 100 alunos, do 1.º ciclo até ao ensino secundário, com imagens a ser enviadas desde a Madeira até Vila Real de Santo António. Os vencedores de cada um dos ciclos de ensino recebem prémios e vão ver os seus desenhos transformados em postais. Segue-se uma conversa entre as especialistas Maria Helena Estêvão, Ana Allen Gomes e Ana Rita Álvaro, que vão abordar os cuidados que se devem ter desde a infância até à idade sénior.
Numa perspetiva artística, às 16h00, a companhia Marionet/Laboratório do Desconhecimento apresenta a performance teatral “A máquina dos sonhos”, inspirada na Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono. A forma como os Livros das Grandes Religiões Proféticas (a Tora do Judaísmo, a Bíblia do Cristianismo e o Alcorão do Islamismo) sublinham a importância de dormir é o pretexto para a conversa sobre sono e religião que vai encerrar esta iniciativa. No Auditório vão estar o líder da comunidade muçulmana, Sheik David Munir, um crente e estudioso de teologia católica, Isaías Hipólito, um crente hebraico e antigo presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, Carolino Tapadejo, o presidente da APS, Joaquim Moita, e a cientista Cláudia Cavadas.
O sono e Deus
A Medicina do Sono é uma área do conhecimento com cerca de 50 anos. Hoje, é uma especialidade médica com desenvolvimentos brilhantes que se estendem da identificação dos mecanismos celulares que regulam os ritmos biológicos como a alternância entre noite e o dia até à aplicação de novas técnicas diagnósticas e terapêutica que permitem controlar a generalidades das doenças do sono que são extremamente frequentes.
O sono é um pilar estruturante de uma vida saudável. Foram estabelecidas regras da vida quotidiana para atingir um sono repousante e eficaz. Infelizmente, e apesar da curiosidade e interesse terem aumentado nos últimos anos, ainda não há um reconhecimento social suficientemente lato da sua importância
Ora, a religião, sendo uma emanação de hábitos e culturas dos povos e da sua adaptação ao ambiente onde vivem, traz-nos múltiplos ensinamentos fascinantemente corretos sobre o sono, antecipando por milhares de anos a ciência moderna.
Nos Livros das Grandes Religiões Proféticas (Cristianismo, Judaísmo e Islamismo) a importância do sono está profusamente representada.
Compreensivelmente, e antes de mais, como sinal de grandeza de Deus e da crença do homem primitivo que Este o pode proteger dos predadores e outros inimigos no período vulnerável do sono.
Mas a necessidade de dormir, mesmo em condições de segurança, para assegurar um dia ativo, emerge como preceito nas três religiões. Todas dão importância ao ritmo do sono e vigília, à obscuridade e à luz, à harmonia com a natureza e os outros seres vivos. O conceito de que a noite precede o dia é claro.
Muito antes da neurofisiologia atual, foram identificadas diferentes fases do sono: o adormecimento, o sono profundo e o sono dos sonhos.
Normas que foram estabelecidas e praticadas ao longo dos séculos. O decúbito lateral (dormir em posição lateral), por exemplo, que, sabemos hoje, diminui os sintomas das perturbações respiratórias e cardíacas.
A sesta está patente em textos sagrados. Não apenas a sesta curta de 20-30 minutos como forma de melhorar as capacidades cognitivas, mas também períodos mais prolongados de sono diurno. Sabemos que o sono está associado ao arrefecimento corporal, o que pode constituir uma estratégia da adaptação às temperaturas elevadas das regiões de onde as religiões são provenientes.
As últimas orações, após o por do sol, representam um ponto de rutura com a atividade do dia e a preparação para o sono; o trabalho e as discussões chegam mesmo a ser interditados. Ora o relaxamento e a meditação constituem uma das atuais regras de higiene de sono.
Claro que nem tudo nos parece adequado. No verão, com noites curtas, os preceitos podem levar a sonos mais curtos do que seria desejável, mas, mesmo aí, temos de admitir que haja fatores de adaptação e compensação.
Enfim, Deus não dorme, mas cuida que a humanidade o faça.
Programa:
14h30 Entrega de prémios do concurso
Regina Bento, Vereadora CMC
Lúcio Pratas, Director Escola Sec. Quinta das Flores
15h00 O sono ao longo da vida
Conversa com
Ana Allen Gomes
Ana Rita Álvaro
Maria Helena Estêvão
Sara Amaral (moderação)
16h00 A máquina dos sonhos
Performance teatral sobre Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) / Marionet / Laboratório do Desconhecimento
16h30 Religião e Sono
Debate com:
Carolino Tapadejo
Cláudia Cavadas
David Munir
Isaías Hipólito
Joaquim Moita
Francisco Amaral (moderação)