“Amamentação permite um melhor começo de vida para o bebé”
A amamentação confere inúmeras vantagens tanto para a mãe como para o bebé, mas também para a família, para a sociedade e até para o ambiente. Desde logo, é essencial para o crescimento do recém-nascido, assegurando uma maior imunidade nos primeiros meses de vida. É reconhecida como a melhor forma de alimentação da criança, permitindo, segundo Teresa Félix, especialista em Saúde Materna e Obstétrica “uma alimentação equilibrada e adequada, o que se traduz num melhor começo de vida para o bebé”. A refeição está sempre pronta a servir, na temperatura certa e na quantidade que o bebé deseja. Protege a mãe de doenças como o cancro da mama e do ovário, é um método de alimentação ecológico, dispensando latas, rótulos e embalagens e permite poupar no orçamento familiar.
Raio-X (RX) – Qual é a importância da amamentação?
Teresa Félix (TF) – Até aos seis meses é o alimento perfeito e o único que o recém-nascido e o lactente deveriam comer. Através da amamentação é possível prevenir infeções respiratórias, otites, diarreias, gastroenterites. Além disso, ajuda ao fortalecimento do sistema imunitário e à maturação da flora intestinal. Também tem como função contribuir para a maturação do sistema nervoso e desenvolvimento cerebral, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo da criança. A partir dos seis meses, o leite materno continua a ser um alimento muito importante, mas complementado com alimentação sólida, adequada, apropriada e segura. A amamentação correta reflete-se na fase adulta, prevenindo a diabetes tipo 1 e 2 e o colesterol, e minimiza o risco de hipertensão arterial, de doenças cardiovasculares e de linfoma.
RX – E quais são os benefícios para a mãe?
Teresa Félix (TF) – A amamentação confere vantagens também para a mãe. Após o parto, previne a hemorragia e favorece a involução uterina. A médio-longo prazo, existe menos incidência de cancro da mama e do ovário, diminui a possibilidade de desenvolver osteoporose e fratura do colo de fémur. Para além disso, favorece o vínculo afetivo entre a mãe e o filho, mesmo nas famílias onde é conhecida história de alterações de afeto.
Mas os benefícios não ficam por aqui. Também a família tem vantagens, sendo que o recém-nascido tem menos episódios de doença e, portanto, são famílias tendencialmente mais tranquilas. Nos primeiros seis meses, a amamentação reduz a despesa familiar em cerca de 500 euros. Também os empregadores que dispõem de colaboradoras a amamentarem, se forem facilitadores do processo, têm menos absentismo no trabalho (devido a menos episódios de doença da criança), e podem contar com mais dedicação e eficiência por parte das colaboradoras. A sociedade em geral beneficia também, pois o leite materno é ecológico, não causando desperdício, contribuindo para a sustentabilidade do planeta (menos latas, rótulos e processos industriais).
RX – Quais são as barreiras que ainda existem na amamentação?
TF – As barreiras que ainda existem são laborais, por isso uma das metas para a saúde para 2020 assenta nos empregadores e o seu papel social. Uma mãe com contrato precário tem mais dificuldade em manter a amamentação, pois necessita de voltar ao trabalho mais rapidamente devido à carência de recursos. Também os mitos que consideram os leites de fórmula (artificiais) iguais ao leite da mãe, o que não corresponde à verdade, e os ditos “pouco leite” ou “leite fraco, podem ser um entrave à amamentação.
O que realmente existe é falta de apoio de profissionais de saúde, por indisponibilidade e por vezes por desconhecimento, uma vez que os currículos académicos de médicos e enfermeiros, transversalmente, não dedicam tempo ao aconselhamento em aleitamento materno. Para além de que as políticas de proteção da família deveriam ser mais efetivas. Valorizando-se o imediato e sem visão a médio/longo prazo.
“A OMS recomenda o aleitamento materno até aos seis meses”
RX – Até quando é que se deve amamentar?
TF – A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno/amamentação em exclusivo até aos seis meses e, após esse período, deve ser feita a introdução da alimentação complementar, mantendo a amamentação até aos dois anos ou mais.
RX – Há benefícios em amamentar após o “período recomendado” pela OMS?
TF – Depende. Os seres humanos são os únicos mamíferos que ingerem leite de outra espécie diferente da nossa. No planeta, habitualmente cada espécie bebe o leite da sua espécie (mãe). Se o “bebé Toddler” se alimenta da comida da família, sem ter carências alimentares, pode não ingerir leite (de acordo com correntes recentes).
Se a mãe e/ou o bebé já não o pretendem fazer, recomenda-se interromper. Se ambos se sentem bem e não parece existir nenhuma dependência emocional/afetiva, poderão continuar. Não existe evidência científica que explicite claramente a idade ideal do desmame, pois existem muitas teorias sobre a idade ideal do desmame, pelo que se torna difícil afirmar.
RX – Existe uma forma correta de amamentar?
TF – A posição que mais favorece a amamentação do recém-nascido é a posição reclinada para trás (biological nurturing) que facilita a “pega” correta do bebé.
Outras posições podem também ser utilizadas, desde que haja alinhamento entre a orelha, ombro e anca do bebé e este esteja virado para a mãe “barriga com barriga”. O bebé deve sentir-se apoiado e seguro. Se estiver na posição tradicional ao colo, as nádegas devem estar bem apoiadas.
Não estar a mamar com o pescoço torcido e apresentar os 4 sinais-chave para a “pega” correta: queixo junto à mama da mãe, boca bem aberta, lábio inferior virado para fora e visualizar-se mais aréola acima da boca do bebé que abaixo ou igual quantidade de aréola mamária em torno da boca do bebé.
RX – Quais são as dúvidas mais frequentes das mães em relação à amamentação?
TF – Normalmente, as dúvidas das mães recaem sobre se o leite é suficiente e bom para o bebé, o porquê da dor nos mamilos, que normalmente resulta da “pega”, a evolução do peso do bebé e a recuperação do peso de nascimento por estar a mamar.
RX – Qual é a importância do incentivo da amamentação?
TF – A amamentação permite uma alimentação equilibrada e adequada, o que se traduz num melhor começo de vida para o bebê. O leite materno regula o padrão de alimentação do bebé e a saciedade, e diminui as doenças na infância e na idade adulta, para além do contributo para a redução da pegada mundial. A par disso é significativa a maior equidade em saúde, e a redução de despesas com o SNS por episódios de doença.
Medela lança dispositivo inovador para extração de leite materno
RX – Em que circunstâncias é necessário recorrer a dispositivos para a extração de leite materno?
TF – A maior parte das mulheres que utilizam este dispositivo é pela facilidade na extração de leite para resolução de situações em que existe excesso de leite materno. Por outro lado, a extração também pode ser feita com o objetivo da conservação de leite materno prévio ao regresso ao trabalho, permitindo o aleitamento materno exclusivo até aos seis meses.
Nas situações de excesso de leite (se cumprir os critérios para ser doadora), extrair e doar o seu leite para os bebés que dele necessitem, internados nas unidades de neonatologia, via banco de leite humano.
RX – Este tipo de dispositivos que facilitam a extração do leite em excesso, prejudicam, de alguma forma, a produção de leite?
TF – Estes dispositivos não prejudicam a produção, desde que sejam corretamente utilizados e nas situações que o justifiquem. Pretendem ser facilitadores da extração de leite, quer em situações de excesso, como de défice. Se a mãe produz transitoriamente em excesso (como por exemplo, na “subida do leite” – Lactógenese II), o importante é extrair até a mama ficar confortável, sem a esvaziar totalmente. O que também permite a extração para aumentar a produção de leite materno, que pode revelar-se particularmente interessante quando o bebé está num surto de crescimento (3ª semana, 6ª semana e 3 meses de vida do bebé). É igualmente relevante para a manutenção da produção, se a mãe está afastada do seu filho durante alguns períodos.
RX – Quais são as mais-valias da nova tecnologia Flex, lançada pela Medela?
TF – Esta tecnologia Flex da Medela permite uma extração do leite mais suave, mais confortável e natural e facilita uma melhor adaptação à mama, com a possibilidade de a extração ser realizada em qualquer posição da mulher (a copa/funil pode estar em qualquer direção). Na copa/funil redondo com ângulo de 90º exigia uma posição vertical, da mulher, durante a extração. Com este dispositivo consegue-se uma melhor extração de leite em mamas com forma e tamanho maiores.
RX – Porque é que esta tecnologia é diferenciadora?
TF – A abertura da copa com um ângulo de 105º permite uma melhor adaptação a diferentes tipos de mama e a extração em diferentes posições da mulher.
Por Cátia Jorge e Rita Rodrigues