COVID-19: Não há dados que confirmem agravamento da infeção com ibuprofeno
O Infarmed já avançou que não existem, atualmente, dados científicos que confirmem um possível agravamento da infeção da COVID-19 com a administração de ibuprofeno ou outros anti-inflamatórios não esteroides. A informação – veiculada nas redes sociais e corroborada pelo ministro da Saúde francês – também há foi desmentida pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.
A dúvida sobre a toma de ibuprofeno, substância ativa presente em medicamentos como o Brufen® ou o Spidifen®, no âmbito da pandemia de COVID-19, surge principalmente depois da partilha de uma mensagem que se tornou viral nas redes sociais. Esta indicava que o referido anti-inflamatório amplia a velocidade de disseminação do vírus e a probabilidade de doença grave porque aumenta a expressão de recetores ACE nos pulmões.
O ministro da Saúde francês, Olivier Véran, corroborou esta informação com uma publicação sua no Twitter, onde diz que “tomar anti-inflamatórios (ibuprofeno, cortisona,…) poderá ser um fator de agravamento da infeção [pelo novo coronavírus]. Em caso de febre, tomem paracetamol”. Aliás, esta é, atualmente, a recomendação das autoridades de saúde francesas, que surge dias depois de ser publicado na revista científica Lancet, um artigo intitulado “Os pacientes com hipertensão e diabetes estão em maior risco de infeção por COVID-19?”, com base em três estudos feitos a doentes chineses.
Os investigadores admitem que o ibuprofeno aumenta a quantidade no organismo das chamadas enzimas conversoras de angiotensina 2 (ACE2), recetores que são usados pelo novo coronavírus para entrar nas células humanas. Assim, se há mais ACE2 no organismo, maiores são as probabilidades de contrair COVID-19, defendiam os investigadores. O estudo revela também que os fármacos vulgarmente usados para a diabetes e para a hipertensão, por estimularem as tais enzimas ACE2, aumentam o risco de uma infeção grave e fatal com COVID-19. Porém, também é sublinhado que as hipóteses estão por confirmar.
Filipe Froes, pneumologista e membro do Conselho Nacional de Saúde Pública, referiu no passado sábado ao Observador que era uma informação “a confirmar e a validar com a maior brevidade possível”, adiantando que as conclusões do referido estudo no que se refere à hipertensão foram colocadas em causa pelo Conselho de Hipertensão da Sociedade Europeia de Cardiologia, que considera que se trata de uma “especulação” sem uma “base científica sólida”, avançando em comunicado que “médicos e pacientes continuem o tratamento com a terapia anti-hipertensiva habitual, porque não há evidências clínicas ou científicas que sugiram que o tratamento com ACE ou ARB [fármacos anti-hipertensivos] seja interrompido por causa da infeção por Covid-19”.
A mensagem — que foi vista mais de um milhão de vezes no Facebook em poucas horas — foi também desmentida pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas: “É um falso alarme, não tem nenhum fundamento.”
De acordo com o comunicado enviado pelo Infarmed, “a possível relação entre a exacerbação das infeções, na generalidade, e a toma de ibuprofeno está a ser avaliado na União Europeia no Comité de Avaliação de Risco de Farmacovigilância da Agência Europeia do Medicamento (EMA)”. “Espera-se que esta análise, cuja conclusão se aguarda em maio de 2020, permita esclarecer se existe uma associação entre a toma de ibuprofeno e a exacerbação das infeções. Dado que o ibuprofeno é utilizado para tratar os sintomas iniciais das infeções, será extremamente complexo determinar esta relação.”
De referir que o tratamento sintomático da febre deve ser feito, em primeira instância, com paracetamol. Todavia, como sublinha também o Infarmed, também não há evidências para contraindicar o uso de ibuprofeno.