O futuro do tratamento do cancro da cabeça e pescoço
A propósito do Dia Mundial do Cancro da Cabeça e Pescoço, que se assinala hoje, Leonor Pinto, oncologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, partilhou com o Raio-X um artigo sobre esta patologia.
Em Portugal, todos os anos são diagnosticados cerca de três mil novos casos de cancro de cabeça e pescoço, representando o 8.º cancro mais comum.
A denominação de cancro de cabeça e pescoço inclui vários tipos diferentes de tumores, sendo classificados pela área em que têm origem, isto é, boca (cavidade oral), garganta (faringe), órgão da voz (laringe), seios nasais e cavidade nasal e glândulas salivares.
O tipo mais comum de cancro de cabeça e pescoço é o carcinoma escamoso ou espinocelular de cabeça e pescoço (HNSCC). A maioria dos HNSCC começa na camada de células planas (epitélio) que revestem as estruturas do trato aerodigestivo superior, incluindo boca, garganta e órgão da voz.
Cerca de 60% dos doentes com cancro de cabeça e pescoço são diagnosticados numa fase avançada, pelo facto de a maioria dos sintomas serem frequentemente negligenciados pelo doente. Neste sentido, o desafio passa por esclarecer a população para que saiba reconhecer os primeiros sinais e sintomas, como por exemplo a dor de garganta, rouquidão persistente, língua dorida e/ ou manchas vermelhas ou brancas em toda a cavidade oral, dificuldade em engolir, nódulos no pescoço, congestão nasal ou sangramento oral.
A complexidade e variabilidade das opções terapêuticas exigem uma abordagem por equipas multidisciplinares dedicadas e especializadas em centros com elevado número de casos, implicando na sua maioria, um tratamento multimodal (radioterapia, cirurgia, quimioterapia, agentes biológicos e imunoterapia).
Em qualquer plano de tratamento, o objetivo não é apenas remover o tumor, mas também preservar as funções das estruturas envolvidas na fala, na deglutição e na expressão.
Enquanto muitos doentes com doença localmente avançada são curados com alguma combinação de cirurgia, radiação e quimioterapia, outros desenvolvem doença recorrente / metastática (R / M) e são considerados incuráveis.
A quimioterapia citotóxica tem eficácia limitada e toxicidade substancial no tratamento do HNSCC R/M, com uma sobrevivência global média inferior um ano.
Com o aparecimento de novas estratégias de tratamento, como as terapêuticas dirigidas e, mais recentemente, a imunoterapia, tornou-se possível obter ganhos de sobrevivência, mas também de qualidade de vida.
A imunoterapia com inibidores de PD-1 revolucionou recentemente o tratamento deste tipo de carcinomas, principalmente os que se relacionam com o vírus do papiloma humano (HPV) e sem os efeitos laterais potencialmente devastadores dos tratamentos convencionais.
Uma das principais vantagens da imunoterapia sobre outras formas de terapia sistémica é que as respostas podem ser bastante duradouras, com benefícios clínicos às vezes medidos em anos. Contudo, apenas uma minoria respondem à imunoterapia mantendo-se uma lacuna clara para a maioria.
Desta forma, no contexto da doença recorrente ou metastática o futuro passa por abordagens combinadas de imunoterapia com quimioterapia e/ou radioterapia, bem como biomarcadores aprimorados para ajudar na seleção dos doentes.