Associações pedem alteração urgente da norma que exclui pessoas com fibrose quística da primeira fase de vacinação contra a COVID-19
A Associação Portuguesa de Fibrose Quística (APFQ) e a Associação Nacional de Fibrose Quística (ANFQ) apelam às autoridades de saúde para que façam uma revisão urgente da norma que inclui os portugueses com fibrose quística na primeira fase de vacinação contra a COVID-19, mas apenas se tiverem mais de 50 anos. Tendo em conta que a esperança média de vida destes doentes é inferior, a grande maioria dos doentes fica, por este motivo, excluída da vacinação.
Os dados indicam que, nos EUA, a esperança média de vida das pessoas com fibrose quística (FQ) é atualmente de 47 anos. “E em Portugal é ainda menor”, lê-se na carta que as duas associações endereçaram ao Ministério da Saúde e à Direção-Geral da Saúde. Falamos, aqui, de cerca de 400 doentes com diagnóstico feito, de uma doença que “tem uma maior incidência nas crianças e jovens, ao contrário de outras doenças pulmonares como a DPOC”.
Ainda de acordo com a APFQ e a ANFQ, “a Cystic Fibrosis Foundation e os Centers for Disease Control and Prevention dos EUA recomendam que as vacinas estejam disponíveis para pessoas com 16 anos ou mais, com condições de saúde subjacentes que possam colocá-las em risco aumentado de complicações graves por infeção por COVID-19, incluindo FQ”. Tendo em conta que alguns doentes nacionais com FQ e com menos de 50 anos “estão em fase de pré-transplante, transplante, sob oxigenioterapia de longa duração ou ventilação não invasiva domiciliária, o risco de internamento por infeção pulmonar é superior”.
“Esta é uma norma que, olhando para os factos, não faz sentido. Se estamos a falar de doentes com uma esperança média de vida inferior aos 50 anos, a vacina contra a Covid-19 só os irá proteger se a puderem levar mais cedo”, refere Manuel Herculano Rocha, presidente da APFQ.
“Estes motivos justificam o pedido de alteração à norma”, acrescenta Paulo Sousa Martins, presidente da ANFQ. “Uma alteração que vai permitir que os nossos doentes com FQ maiores de 16 anos sejam incluídos na primeira fase de vacinação.”
A fibrose quística (FQ) é uma doença hereditária rara causada por mutações nas duas cópias (herdadas uma do pai outra da mãe) de um único gene que codifica a proteína CFTR. A proteína CFTR funciona como canal transportador de iões cloreto e bicarbonato nas células que revestem as nossas mucosas, nomeadamente nas vias respiratórias. A FQ afeta mais de 90.000 pessoas em todo o mundo, aproximadamente 50.000 na Europa e cerca de 400 em Portugal, e manifesta-se logo à nascença, afetando todos os órgãos que expressam a proteína CFTR, nomeadamente os sistemas respiratório e digestivo. Há 50 anos, levava à morte na primeira década de vida.