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Fisioterapia Respiratória: Uma especialidade com evidência e insubstituível nos cuidados de saúde

Fisioterapia Respiratória: Uma especialidade com evidência e insubstituível nos cuidados de saúde

No âmbito do Dia Mundial do Fisioterapeuta, que se assinala no dia 8 de setembro, Miguel Gonçalves, fisioterapeuta no Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Universitário de São João, professor e investigador na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, comenta o papel da fisioterapia respiratória.

A Fisioterapia Respiratória é reconhecidamente uma área importante da Fisioterapia, tendo nas últimas décadas sofrido um grande desenvolvimento fruto da grande quantidade e qualidade de investigação produzida (e publicada em diversos jornais científicos de grande impacto), e tem mostrado ser um contributo importante na melhoria da condição de saúde em doentes com condições respiratórias críticas, agudas, subagudas e crónicas, sejam eles recém-nascidos, crianças, adultos ou idosos.

A Fisioterapia respiratória e o profissional habilitado para a executar, o fisioterapeuta, são elementos fundamentais que contribuem para a melhoria da condição de saúde do doente respiratório e está indicada para doenças respiratórias agudas ou crónicas, cujos objetivos sejam a melhoria/controlo dos sintomas, limpeza das vias aéreas, melhoria das trocas gasosas, aumento da força e resistência muscular, aumento da tolerância ao esforço e capacidade para o exercício, melhoria da capacidade para realizar as atividades do dia a dia, aumento da eficácia na auto-gestão da doença, prevenção de infeções respiratórias, aumento dos níveis de atividade física, melhoria da qualidade de vida relacionada com a saúde e promover a adesão a comportamentos para melhoria/manutenção da saúde.

A Fisioterapia respiratória é considerada uma das áreas centrais da intervenção em fisioterapia, com um peso curricular significativo na formação de base e área de especialização de muitos fisioterapeutas (incluindo vários Mestrados e Doutoramentos), por isso não deve ser confundida com “cinesiterapia respiratória”. Tal termo é uma adaptação linguística errática com origem nos anos 70 com o intuito de “validar” uma prática reconhecida internacionalmente como da fisioterapia respiratória e dos fisioterapeutas, para que outros profissionais a pudessem assumir como legitimamente sua, sem que para o seu desenvolvimento tenham dado qualquer contributo científico relevante.  Infelizmente a fisioterapia respiratória em Portugal tem sido para muitos, sinónimo de “cinesiterapia respiratória”, que por sua vez sempre foi reduzida a um grupo de técnicas “clássicas”, hoje consideradas obsoletas ou de indicação muito restrita e a um conjunto de exercícios respiratórios na sua maioria de provada inutilidade.

O fisioterapeuta na área respiratória intervém em vários contextos de prática desde o hospital (Pneumologia, Pediatria, Medicina Intensiva, Medicina Física e Reabilitação), comunidade (centros de reabilitação, unidades privadas de Fisioterapia, clínicas, Cuidados Saúde Primários, Unidades de Cuidados Continuados e de Cuidados Paliativos, Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas ), até ao domicílio.

Pelas suas competências específicas o fisioterapeuta respiratório é um elemento fundamental nas equipas multi-interdisciplinares de Reabilitação Respiratória, cuja evidência dos benefícios está claramente demonstrada nos doentes com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) e também com bons resultados noutras doenças respiratórias crónicas.

Os fisioterapeutas estão envolvidos em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). A sua avaliação e tratamento de doentes críticos concentram-se no descondicionamento físico e problemas relacionados (fraqueza muscular, rigidez articular, capacidade de exercício funcional diminuída, inatividade física), e nas condições respiratórias (retenção de secreções nas vias aéreas, atelectasia, fraqueza muscular respiratória, hipoventilação). O fracasso do desmame ventilatório, deve-se na maioria dos casos à obstrução das vias aéreas por secreções, principalmente devido à ineficácia da tosse, onde o fisioterapeuta possui “skills” específicos que permitem potencializar um desmame eficaz da ventilação invasiva, evitando assim períodos prolongados de internamento na UCI e as complicações clínicas que lhe estão subjacentes, e também uma significativa redução de custos.

O número de doentes crónicos com indicação para Ventilação Mecânica Não-Invasiva (VMNI) no domicílio tem aumentado de forma significativa em Portugal e o contributo do fisioterapeuta pode ser uma mais-valia no sucesso da adaptação destes doentes permitindo uma melhor optimização da terapêutica e consequentemente uma melhor aderência ao ventilador com impacto significativo na sobrevida e qualidade de vida dos doentes respiratórios.

Portugal tem muitos fisioterapeutas com experiência e formação especializada na área respiratória, prontos a dar resposta às necessidades das várias organizações de saúde (publicas e privadas) com efetividade, eficiência, sempre com a mais atual evidência científica, e com a intenção nobre de melhorar o custo-efetividade e qualidade dos serviços de saúde prestados aos utentes portugueses.

 

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