“Conhece a demência, conhece a doença de Alzheimer”
No âmbito do Dia Mundial da Doença de Alzheimer, que se assinala a 21 de setembro, partilhamos um artigo de Sofia Duque, Coordenadora-adjunta do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.
O Dia Mundial da Doença de Alzheimer foi estabelecido em 1994 pela Organização Mundial de Saúde e pela federação Alzheimer’s Disease International, com o objetivo de chamar a atenção e combater o estigma da doença de Alzheimer e outras demências. Este é um problema de tal dimensão que desde 2012 as iniciativas de informação decorrem durante todo o mês de setembro, e neste 10.º aniversário o lema da campanha é “Know Dementia, Know Alzheimer’s”, ou seja, “Conhece a demência, conhece a doença de Alzheimer”. O objetivo este ano é alertar para os sinais de alerta da demência e para a importância do diagnóstico precoce.
Nunca é demais relembrar, tanto a comunidade em geral como os profissionais de saúde, que a demência não é uma consequência inevitável do normal envelhecimento e por isso o surgimento dos sinais de alerta não deve ser ignorado. Quanto mais cedo forem valorizados tais sinais, mais cedo se pode apoiar e proteger a pessoa afetada e seus familiares e cuidadores, implementar programas para estimulação e treino das capacidades cognitivas e de apoio nas atividades do quotidiano, por forma a atrasar a progressão da doença e minimizar o seu impacto na qualidade de vida das pessoas afetadas. O diagnóstico atempado da demência, e não em fases avançadas como frequentemente acontece, é também fundamental para preparar o futuro, numa altura
em que as pessoas que vivem com a doença ainda podem tomar decisões por si próprias, de forma a respeitar as suas vontades e preservar a sua dignidade. É, portanto, fundamental que na presença de sinais de alerta de demência as pessoas ou seus familiares procurem o seu médico de família ou médico de Neurologia, Psiquiatria ou Geriatria.
A implementação de muitas das intervenções que podem melhorar a qualidade de vida e bem-estar das pessoas com demência dependem das políticas de saúde e sociais em vigor em cada país. Recentemente muitos peritos vieram apelar a que se pusessem em prática programas cujo benefício já foi demonstrado. Estes apelos tornaram-se ainda mais sonantes dado que os resultados dos medicamentos têm ficado aquém das expetativas. Muitas destas intervenções ainda só chegam a uma minoria das pessoas, mas a comunidade em geral pode ter uma voz ativa e reivindicar pela sua generalização. Algumas das intervenções que merecem significativo investimento são os cuidados com a visão e a audição (por exemplo, fornecimento de óculos e aparelhos auditivos e cirurgia das cataratas).
A promoção da socialização e atividades lúdicas, por exemplo em centros de dia, podem atrasar a progressão da doença e melhorar o bem-estar das pessoas com demência. Os programas de estimulação cognitiva e terapia ocupacional têm de ser generalizados e chegar a todos os que deles beneficiam. Os serviços sociais para prestação de apoio em atividades do dia a dia como cozinhar, fazer compras, pagar contas, realizar a higiene pessoal e do domicílio, são cruciais para possibilitar que as pessoas que vivem com demência permaneçam nas suas casas, atrasando a institucionalização tanto quanto possível.
A existência de cuidadores informais é decisiva para evitar a institucionalização, mas estes também necessitarão de apoio por forma a evitar a sobrecarga do cuidador e preservar a sua saúde física e mental, como por exemplo programas para descanso do cuidador, grupos de apoio e até mesmo medidas de apoio económico. O treino de competências dos cuidadores ajudará a lidar com as dificuldades no cuidado das pessoas com demência. Nalguns casos, malogradamente, a institucionalização será inevitável, mas as instituições também deverão ser preparadas para as especificidades das pessoas com demência e os seus profissionais deverão receber formação adequada.
Por fim, mas não menos importante, devemos consciencializar-nos que a demência pode ser prevenida; este foi aliás o lema da campanha de 2014. De facto, a modificação de 12 fatores de risco pode prevenir ou atrasar 40% dos casos de demência. O que pode então ser feito para reduzir o risco de demência? Educação, atividade física e socialização desde a infância, prevenção do trauma cerebral, prevenção ou correção do défice auditivo, evicção do tabagismo e alcoolismo, controlo da poluição atmosférica, prevenção e tratamento da hipertensão, diabetes e da obesidade e da depressão.