Doença renal crónica com o dobro da prevalência em Portugal quando comparado com o resto do mundo
No âmbito do Dia Mundial do Rim, que este ano se assinala a 9 de março, a Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN) deixa o alerta para o impacto que a doença renal crónica tem quer ao nível da qualidade de vida dos doentes, sendo bastaste limitadora, quer ao nível dos custos que representa – cerca de 2 a 6% do orçamento dos cuidados de saúde.
De acordo com Ana Farinha, da direção da SPN, “estima-se que, no mundo, uma em cada 10 pessoas sofra de doença renal crónica (DRC) em qualquer das suas cinco fases, mas, em Portugal, o último estudo feito e publicado em 2020 refere valores de prevalência de 20%, ou seja, o dobro no nosso país do que no mundo”.
Estes valores são justificados pelo facto de, em Portugal, “o rastreio da doença renal crónica não ser uma prioridade das autoridades de saúde e, por isso, os doentes surgem em fases muito avançadas da doença, em situações irreversíveis. Há um grande desconhecimento do impacto da DRC a nível individual e a nível socioeconómico, tanto na comunidade de profissionais de saúde como na população, o que também conduz à não procura de cuidados médicos. Depois a DRC é assintomática o que também não concorre para uma deteção precoce da doença e, subsequentemente, para o seu acompanhamento em fases mais precoces”, explica a nefrologista.
Prevendo-se que, em 2040, a doença renal crónica seja, a nível mundial, a quinta principal causa de mortalidade e de perda de qualidade de vida, é fundamental reforçar o rastreio desta doença. Para Ana Farinha, “o rastreio da DRC nos grupos de risco deveria fazer parte das metas dos cuidados de saúde primários de forma a poder intervir-se em tempo. Trabalhar na literacia em saúde, como é apanágio do Dia Mundial do Rim e de outras iniciativas da SPN, também podem concorrer para a deteção precoce da doença”. “Felizmente, temos hoje várias armas terapêuticas com potencial para alterar definitivamente este cenário, mas só a deteção precoce da doença e a intervenção atempada poderá mudar estes números sombrios”, conclui.
A principal causa da DRC é a diabetes, no entanto, existem outras patologias com algum peso no desenvolvimento desta doença, como a hipertensão arterial. “Um estilo de vida saudável é uma fórmula que funciona na prevenção da maior parte das doenças, incluindo da DRC, a dieta mediterrânica, o exercício físico, não fumar, beber água regularmente (1L água/dia) são tudo medidas salutares. Depois nas populações de risco, manter o acompanhamento das doenças concomitantes”, refere Ana Farinha.
No âmbito desta efeméride, e consciente da importância de alertar para o diagnóstico precoce desta doença, a SPN vai promover cursos de formação – tanto na fase precoce da DRC para os médicos que devem acompanhar estes doentes em fases mais precoces, como para as fases mais avançadas da doença com formação dirigida a nefrologistas – e continuar a sua aposta no desenvolvimento de campanhas de informação à população para melhorar o conhecimento desta doença.