Literacia em Saúde: o Prémio Missão 70/26 como instrumento para o controlo da hipertensão
A hipertensão arterial (HTA) é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares em Portugal, sendo uma condição amplamente subdiagnosticada e subtratada. Para enfrentar este desafio, a Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), com o apoio da Servier Portugal, lança a 2.ª edição do Prémio Missão 70/26. A iniciativa, que integra o programa Missão 70/26, visa incentivar projetos que promovam a literacia em hipertensão, com o objetivo de melhorar o controlo da pressão arterial na população portuguesa. Para compreender a relevância deste prémio e as expectativas desta edição, entrevistámos Rosa de Pinho, Presidente da SPH.
Raio-X (RX): Qual é o principal objetivo do Prémio Missão 70/26?
Rosa de Pinho (RP): O prémio procura apoiar, incentivar e reforçar o envolvimento dos profissionais de saúde em projetos aplicáveis junto da comunidade. Por um lado, a SPH, enquanto sociedade científica, tem o papel de manter os profissionais de saúde motivados com iniciativas como esta. Por outro lado, como Liga, queremos envolver toda a comunidade, atribuindo-lhe responsabilidade no cuidado com a própria saúde.
RX: Qual o impacto esperado desta 2.ª edição?
RP: Através desta iniciativa do prémio e da missão 70/26, a SPH pretende mitigar o flagelo da HTA no nosso país. A meta é envolver tanto os profissionais de saúde como os doentes, aumentando o conhecimento e o compromisso nesta área tão importante.
RX: Porquê o tema “Literacia em Hipertensão”?
RP: O desconhecimento da população sobre o seu estado de saúde dificulta o bem-estar da nossa comunidade. Nesta problemática da HTA, sabendo que é principal fator de risco para doenças graves e incapacitantes como AVC, patologias do coração e do rim, as pessoas não saberem que tem de avaliar a pressão arterial para fazer diagnóstico, agrava o impacto que isto tem em termos de saúde pública. Está estudado que um melhor conhecimento conduz a uma melhor gestão da doença, e, neste caso, a um melhor controlo pressão arterial.
RX: Quais serão os principais critérios avaliados nos projetos candidatos?
RP: Procuramos projetos originais e aplicáveis no dia a dia, que tenham impacto direto na população e sejam úteis para melhorar a gestão deste problema.
RX: A hipertensão é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares em Portugal, mas o controlo entre os doentes ainda é insuficiente. Quais são os maiores obstáculos?
RP: A HTA continua a ser uma problemática tão presente e para isso há várias causas. Primeiro, a falta de adesão dos doentes ao tratamento: muitos não adotam estilos de vida saudáveis nem cumprem a medicação prescrita. Segundo, existe inércia médica, com atrasos na introdução de tratamentos adequados – aceitamos a desculpa do doente, tinha valores de pressão alta porque esperou muito na sala de espera, estava nervoso, comeu bacalhau salgado na véspera, etc. Além disso, precisamos de melhorar o trabalho em equipa, envolvendo não só médicos, mas também enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas, sensibilizados e focados nesta problemática da HTA, para uma abordagem mais integrada.
RX: Como é que a literacia em saúde pode ajudar a alcançar os objetivos da Missão 70/26?
RP: Informar os doentes sobre o que é a hipertensão, como surge, os riscos que acarreta e os cuidados necessários permite que eles compreendam melhor a sua condição e se envolvam no seu próprio tratamento. O doente hipertenso deve estar motivado para hábitos de vida saudáveis, ter uma alimentação equilibrada com baixa ingestão salina, fazer mais exercício físico e não consumir tabaco e álcool. No doente medicado, é importante o cumprimento terapêutico de forma a evitar os riscos de uma HTA não controlada, cujas consequências levam a grandes incapacidades. Se esta mensagem passar vamos de certeza melhorar o grau de controlo dos nossos hipertensos.
RX: Que mensagem gostaria de deixar aos profissionais de saúde e à população em geral sobre a importância destas iniciativas?
RP: A sobrecarga no sistema de saúde pode dificultar a qualidade do acompanhamento de doentes hipertensos, pois haverá menor disponibilidade para os doentes e maior inércia da parte dos profissionais. Por isso, iniciativas como esta são fundamentais para uma abordagem mais próxima e diferenciada. Envolver os doentes na sua saúde, proporcionando-lhes ferramentas e conhecimento, é o caminho para um controlo mais eficaz da hipertensão arterial.