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Calistenia: “É a minha prática, o meu refúgio e o meu vício saudável” – Patrícia Nero, reumatologista

Calistenia: “É a minha prática, o meu refúgio e o meu vício saudável” – Patrícia Nero, reumatologista

Entre consultas e diagnósticos, Patrícia Nero descobriu uma paixão que a empurra — literalmente — contra a gravidade. A calistenia entrou na sua vida como um acaso e transformou-se num ritual de superação física, mental e emocional. Hoje, é mais do que um hobbie: é o seu refúgio, a sua rotina e o seu vício saudável.

A história da reumatologista Patrícia Nero com a calistenia começa quase por acaso ou talvez por uma feliz coincidência. Reumatologista na CUF Descobertas, habituada a lidar com a dor, inflamação e limitações físicas dos seus doentes, foi precisamente a dor que a levou a repensar os seus próprios limites.

“Estava com uma tendinite no ombro, com dores intensas, e quis evitar a fisioterapia. Comecei por procurar reforço muscular com treino personalizado. O plano inicial era simples: recuperar a função e manter-me ativa. Mas o destino tinha outros planos para mim. O personal trainer (PT) com quem eu treinava teve de interromper e o novo PT – o Luís, com quem treino até hoje – era e é praticante de calistenia. Sem me dizer ao certo o que era, foi-me desafiando com exercícios com o peso do corpo. Comecei a achar graça… e nunca mais parei”, recorda.

O conceito, treino contra a gravidade, com o peso do corpo como única ferramenta, despertou em Patrícia uma vontade antiga de se desafiar. Passou de um reforço físico para um compromisso com algo muito maior: uma prática contínua, estruturada e desafiante. “Comecei em setembro de 2019 com treino personalizado. Cerca de um ano depois, já estava totalmente entregue à calistenia. Desde então, é a minha prática, o meu refúgio e o meu vício saudável”.

Treina quatro vezes por semana, religiosamente: às segundas, quartas e sextas-feiras das 20h00 às 21h00, e ao sábado de manhã, com foco no treino abdominal e cardiovascular. “É exigente. Não há jantares às sextas à noite, janta-se tarde nos dias de treino, os filhos esperam, há sacrifícios, mas também há recompensas – vêem que a mãe está mais bem-disposta, mais enérgica, mais feliz”, garante.

Embora prefira o ar livre, os treinos decorrem maioritariamente em ginásios equipados com barras e estruturas específicas para calistenia. “Não são treinos leves. É calistenia pura. Trabalho intenso, técnico e progressivo.” Aliado a tudo isto, Patrícia segue também uma rotina disciplinada de descanso e recuperação muscular, complementada por uma alimentação rigorosa, “rica em proteína e legumes, sem glúten nem hidratos de carbono”.

Mais do que físico: uma mudança emocional e profissional

Para a reumatologista, os benefícios da calistenia vão muito além do aspeto físico. “É uma libertação emocional. O exercício gera endorfinas, mas também gera clareza, motivação e equilíbrio.” Com uma disciplina rigorosa no sono, na alimentação e na recuperação, reconhece que esta prática mudou a sua forma de estar na vida e também na profissão. “Enquanto reumatologista, sempre defendi o reforço muscular como pilar da reabilitação. Mas agora posso falar como exemplo e isso tem impacto. A empatia é a chave”.

Essa influência alargou-se à família, aos amigos e até aos colegas. “Já convenci várias pessoas, inclusive colegas do hospital que agora treinam também com o Luís. No início acham que é um exagero, mas basta uma aula para ficarem viciados na calistenia. A progressão e a superação motivam e transformam.”

Patrícia Nero não esconde que a prática de calistenia acaba por ser uma dependência positiva. “O momento mais difícil que passei foi ter de parar por causa de uma cirurgia. Treinei com pontos e de canadianas, porque não conseguia estar duas semanas sem treinar. Reconheço: é um vício. Mas é o melhor tipo de vício”.

Superar o corpo, desafiar a mente

Ao longo destes anos, aprendeu a realizar movimentos que antes julgava impossíveis: “o L-sit, o back lever, o shoulder flag e, com especial orgulho, a tão desejada human flag — um dos exercícios mais icónicos da calistenia. Demorei dois anos a conseguir fazer a bandeira humana. Foi o meu maior desafio técnico até hoje. Mas é viciante. Quando conseguimos ultrapassar um limite, estabelecemos logo outro. Estamos sempre a querer mais”. Atualmente, continua a trabalhar movimentos mais exigentes, “como a straddle planche e o front lever. O front lever é o mais difícil, ainda só consigo com uma perna. Mas o processo é isso mesmo — lento, exigente, mas profundamente gratificante”. 

A calistenia é, nas suas palavras, um desporto para quem tem paciência. “Há uma curva de progressão longa. Não se conseguem resultados de um dia para o outro. Mas quando os alcançamos — seja a primeira bandeira, o primeiro pino ou apenas a sensação de domínio do corpo — a recompensa é imensa.”

Mais feliz. Mais forte. Mais completa.

Questionada se a calistenia a tornou uma pessoa mais feliz, a resposta é clara: “Sem dúvida. Não me imagino sem fazer exercício. Esta é a prática que me preenche, que me realiza. Para outros será diferente, claro, mas todos devíamos encontrar a nossa. Porque quando cuidamos do corpo, tudo melhora: a mente, o humor, o trabalho. Tudo.”