“As doenças oncológicas são a segunda causa de morte em Portugal e a que mais aumentou nos últimos anos”
A biofarmacêutica Celgene lançou a Bolsa Celgene 2019, no valor de 10 mil Euros, para novos projetos centrados nas pessoas com doenças oncológicas e doenças crónicas debilitantes do sistema nervoso. Esta iniciativa tem como objetivo apoiar o financiamento de projetos que apresentem soluções inovadoras para as necessidades não-clínicas dos doentes e dos seus cuidadores e novas formas de aproximar os doentes para uma melhor gestão da sua doença, de forma a incrementar a qualidade de vida. Como forma de explicar o impacto do cancro, das doenças debilitantes e crónicas na sociedade em que vivemos hoje, o Raio-X partilha um artigo de opinião de Isabel Barbosa, presidente da Associação Portuguesa de Leucemias e Linfomas (APLL).
Em Portugal, assim como noutros países europeus nas últimas décadas, o aumento da longevidade da população aumentou consideravelmente, e prevê-se que o número de pessoas com 65 anos ou mais em todo o mundo duplique até 2050. Outro facto a assinalar é que quase metade dos cancros diagnosticados durante estes tempos se desenvolveram em pessoas com 65 anos ou mais, tendo o envelhecimento da população um impacto definitivo na incidência do cancro.
Segundo o relatório do Programa Nacional Para as Doenças Oncológicas “as doenças oncológicas são a segunda causa de morte em Portugal e a que mais aumentou nos últimos anos. Para além do envelhecimento da população e as modificações de estilos de vida que têm contribuído para o aumento relativo da incidência de novos casos. Por outro lado, o aumento dos sucessos terapêuticos, contribuem também para o aumento significativo do número de sobreviventes de cancro, tendo esta população necessidades particulares, tanto em termos clínicos como sociais”.
Nesta população mais envelhecida, as doenças hemato-oncológicas, termo abrangente utilizado para designar as doenças malignas do sangue, representam aproximadamente 10% de todos os cancros. Entre os vários tipos diferentes de cancros hematológicos existentes, as leucemias, os linfomas e o mieloma múltiplo são os que apresentam uma maior expressão. Contudo, o desconhecimento sobre as características deste tipo de cancro, bem como a ausência de sinais e exames de rastreio específicos da doença, durante os seus estádios iniciais contribuem para a crescente necessidade de consciencializar a comunidade para este tipo de patologias.
Relativamente aos novos medicamentos e tratamentos inovadores disponíveis no combate a estas doenças, na última década verificou-se uma evolução significativa dos mesmos e os prognósticos são atualmente muito mais animadores. Contudo, existe uma necessidade crescente de informação sobre estes novos tratamentos e participação em ensaios clínicos dos doentes. Porém, os possíveis participantes têm incertezas por falta de informações sobre as etapas dos tratamentos que não são suficientemente abordadas antes da assinatura do consentimento informado, bem como desconhecimento sobre prováveis vantagens sobre o acesso a novos medicamentos. Em Portugal regista-se um dos níveis de acesso mais baixos a estes novos tratamentos na União Europeia, sendo necessário o envolvimento de todas as partes, entidades oficiais, profissionais de saúde e doentes para garantir a equidade e acessibilidade de todos.
Torna-se assim fundamental o desenvolvimento e promoção da literacia em saúde da população em geral e em particular dos doentes que podem de imediato beneficiar. Segundo o relatório da ESTRATÉGIA NACIONAL PARA O ENVELHECIMENTO ATIVO E SAUDÁVEL 2017-2025, “a literacia em saúde pode ser entendida como as competências cognitivas e sociais que determinam a motivação e a capacidade dos indivíduos para aceder, entender e usar informações de uma forma que lhes permita promover e manter uma boa saúde. Segundo os dados do Inquérito Europeu à Literacia em Saúde, “quase metade dos europeus inquiridos têm competências de literacia em saúde inadequadas ou problemáticas. A promoção da literacia em saúde tem demonstrado efeitos positivos na resiliência de indivíduos e comunidades, na redução das iniquidades em saúde e na melhoria da saúde e do bem-estar”.
Ao longo da última década várias empresas e entidades tem assumido a sua quota nos programas de responsabilidade social, permitindo desenvolver projectos de apoio a associações de doentes, possibilitando o desenvolvimento de novas competências e aos participantes. As associações têm apresentado ações inovadoras, tendo-se verificado uma maior participação dos doentes em atividades e aquisição de conhecimentos. São de enaltecer todo o empenho e propostas, principalmente na presente atualidade em que é necessário aumentar o diálogo entre todos os intervenientes na saúde dos cidadãos.
Todas estas plataformas de comunicação com os doentes, familiares e cuidadores proporcionadas por diversas associações e entidades, quebram o silencio e o isolamento dos doentes, contribuindo para uma população mais informada, para livremente fazer as escolhas para os seus tratamentos e assim poderem ter uma melhor qualidade de vida.