18.º Congresso Europeu de Medicina Interna em Lisboa
No âmbito do 18.º Congresso Europeu de Medicina Interna, que vai realizar-se entre 29 e 31 de agosto, em Lisboa, o Raio-X partilha o artigo de opinião de Luís Campos, internista e membro da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).
A realização do 18.º Congresso Europeu de Medicina Interna em Lisboa, entre os dias 29 e 31 de agosto, é ao mesmo tempo o reconhecimento do prestígio que a Medicina Interna portuguesa tem ganho, ao longo dos anos, no contexto europeu, e um enorme desafio à nossa capacidade de planear e construir um congresso atrativo, mobilizador e inovador.
O tema que escolhemos foi precisamente “Inovação nos Cuidados de Saúde: Novas Oportunidades para a Medicina Interna”. Pretendemos com esta escolha enfatizar que a evolução demográfica, o aumento dos doenças crónicas, particularmente dos doentes crónicos complexos, em simultâneo com uma tendência para a hiperespecialização e o aumento progressivo dos custos na saúde exigem profundas mudanças nos sistemas de saúde, incluindo no modelo hospitalar, e para todas essas mudanças a versatilidade, a eficiência e a abordagem holística dos doentes que carateriza a Medicina Interna e que tornam a nossa especialidade a melhor preparada para liderar algumas destas mudanças. Falamos, entre outras, da criação de departamentos de Medicina onde os internistas recebam os doentes agudos e coordenem os cuidados que lhe são prestados, de programas de cogestão dos doentes cirúrgicos, que mudem o paradigma da resposta a estes doentes, que é geralmente reativa e tardia, dum melhor aproveitamento da potencialidade dos hospitais de dia, da hospitalização domiciliária, que permita que a casa dos doentes seja uma alternativa à enfermaria hospitalar e da integração dos vários níveis de cuidados, através de programas que proporcionem cuidados proativos, preventivos, integrados e centrados nas necessidades dos doentes mais complexos e com multimorbilidade.
No entanto, este congresso será também uma oportunidade de atualização em áreas da Medicina Interna, que vão da diabetes à autoimunidade, do AVC à insuficiência cardíaca, das síndromes autoinflamatórias às doenças raras, da anticoagulação aos fatores de risco cardiovasculares, das doenças hepáticas ao problema da infeção hospitalar e da multirresistência.
Outros temas atuais que nos preocupam serão também abordados por alguns dos maiores especialistas mundiais, como sejam a inteligência artificial, o impacto na saúde das alterações climáticas e a nossa responsabilidade enquanto médicos, a inovação de iniciativa dos doentes, o burnout e a comunicação médico-doente.
Apesar da Medicina Interna ser muito diversa no contexto europeu, sendo nos países da Europa Central e na do Norte uma especialidade que dá acesso a outras subespecialidades médicas e nos países do Sul, uma especialidade primária, nunca a necessidade de uma especialidade generalista no hospital foi tão evidente. Isso mesmo foi compreendido nos Estados Unidos da América, com o crescimento do movimento hospitalista, um modelo semelhante à Medicina Interna portuguesa, sendo a especialidade que mais cresceu nos últimos anos neste país. A caraterização e comparação destes modelos será precisamente um dos highlights do programa.
Pretendemos ainda que o 18.º Congresso Europeu de Medicina Interna seja ainda uma oportunidade de networking, de divulgação da investigação desenvolvida pelos internistas e que Lisboa seja o porto de chegada dos internistas dos cinco continentes e o início da confluência da Medicina Interna mundial nos congressos europeus.
Este é já o maior congresso europeu de Medicina Interna de sempre, contanto com internistas de mais de 81 países e mais de 2 mil trabalhos apresentados. Será seguramente uma afirmação do dinamismo da Medicina Interna e uma demonstração do nosso empenho em prepararmo-nos para os desafios do futuro, para benefício dos nossos doentes e para a sustentabilidade dos sistemas de saúde.