Doenças intersticiais pulmonares responsáveis por um quinto das consultas de Pneumologia
Nos passados dias 11 e 12 de outubro realizou-se a reunião internacional Interstitial Lung Disease Multidisciplinary Meeting, um congresso científico que contou com uma plateia multidisciplinar de especialistas, entre os quais: radiologistas, reumatologistas, pneumologistas, cirurgiões torácicos e internistas. Os palestrantes focaram-se sobre os aspetos imagiológicos mais importantes do diagnóstico diferencial entre as várias entidades clínicas abrangidas, sobre a designação genérica de doença intersticial do pulmão e também sobre as opções terapêuticas atualmente disponíveis.
As doenças intersticiais pulmonares (DIP), segundo António Morais, pneumologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, um dos oradores presente no encontro organizado pela Affidea, correspondem a um grupo de mais de cem doenças, “muito heterogéneas”. Doenças consideradas raras mas que, de acordo com o especialista, “quando se começa a observar estes doentes, para os seguir e para os medicar, o que acontece invariavelmente é que as pessoas se surpreendem com o seu número. Ou seja, nós temos que considerar estas doenças como raras, mas no seu conjunto representam uma significativa percentagem das consultas de pneumologia. Eu diria que cerca de um quinto das consultas de pneumologia serão relacionadas com estes doenças”.
Luís Rosa, radiologista e diretor clínico da Affidea, confirma. “É rara a semana que eu, como radiologista, não veja um doente com patologia do interstício pulmonar, porque abrange um grupo muito vasto de doenças. No seu conjunto, a incidência é elevada, o que tem como consequência um custo elevado para o País”, reforça. É que se tratam de “doenças, muitas delas com um prognóstico fechado, outras crónicas, que representam e afetam pessoas que a partir do momento do diagnóstico passam o resto da sua vida dependentes de qualquer tipo de apoio médico, da realização de exames e tratamentos mais ou menos inovadores e muitas acabam em insuficiência respiratória, que também tem exigências do ponto de vista hospitalar e não hospitalar muito grandes”.
Segundo António Morais, o impacto é, de facto, grande. “As terapêuticas que atualmente existem, as mais recentes, são caras, o que envolve um esforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, por outro lado, também pode ser necessário o transplante. É que num número razoável destes doentes a doença é progressiva e, porque não conseguimos controlar essa progressão desfavorável, vai acabar por ser necessário o transplante. Por isso, aquilo que o SNS precisa de disponibilizar para estes doentes é significativo.”
Durante estes dias, esteve em destaque a relação das DIP com o tabaco. E se os cigarros já preocupam os especialistas, as novas formas de fumar, que recentemente saltaram para a ribalta pelas piores razões, junta-se agora aos motivos de preocupação. “Relativamente ao debate que existe sempre sobre as melhores formas de cigarro, aquilo que nós dizemos é um conceito que é muito simples e perfeitamente entendível: o pulmão foi feito para respirar ar puro. Tudo o que não for isso vai necessariamente condicionar uma agressão e mais tarde ou mais cedo, de uma forma mais grave ou menos grave, teremos a resposta a essa mesma agressão”, refere António Morais.
De acordo com o especialista, as notícias que têm vindo dos EUA, e que dão conta de mais de duas dezenas de mortes associadas aos cigarros eletrónicos, não são uma surpresa. “É algo que seria previsível. E falando agora do tabaco aquecido, que se tornou uma forma de cigarro mais apelativo, é só uma questão de tempo. Porque as pessoas estão a inalar substâncias estranhas, estão a agredir o seu pulmão e obviamente que este orgão vai reagir. Vamos saber como mais tarde ou mais cedo.”
Embora algumas das DIP sejam mais fáceis de diagnosticar, outras transformam-se em verdadeiros desafios, que exigem o envolvimento de equipas multidisciplinares. No encontro científico, que se realizou em Cascais, alguns dos maiores especialistas, nacionais e internacionais, estiveram à conversa sobre estes desafios. “São doenças, do ponto de vista de diagnóstico, muito complexas. E o que acontece é que as classificações da doença, as formas de diagnosticar e mesmo a forma como os achados encontrados nas radiografias e TACs devem ou não ser interpretados, sofrem modificações frequentes. Há uma atividade de publicação científica à volta destas doenças que exige uma constante atualização”, explica Luís Rosa.