Diagnóstico preciso e precoce é fundamental para a qualidade de vida dos doentes
Estima-se que, em Portugal, um terço da população sofra de algum tipo de alergia. Um diagnóstico preciso e feito de forma precoce é fundamental para a qualidade de vida dos doentes. Foi exatamente com o objetivo de alertar para a avaliação precisa das alergias e das doenças autoimunes que decorreu, nos dias 26 e 27 de novembro, em Lisboa e no Porto, respetivamente, a reunião “Para além do diagnóstico – alergia e autoimunidade”. O evento foi organizado pela ThermoFisher Scientific e especialmente dirigido a patologistas clínicos.
Ana Reis Ferreira, imunoalergologista do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, destacou dois motivos principais pelos quais considera ser “fundamental um diagnóstico preciso da alergia. Primeiro, porque quando é confirmada uma alergia conseguem ser implementadas medidas para evitar o contato do doente com esse alergénio. Em segundo lugar, ao descartar determinada alergia, conseguimos liberalizar a vida do doente, aumentar-lhe a qualidade de vida e isto é válido quer para os alergénios respiratórios, quer para as alergias alimentares”. Para a especialista, um mau diagnóstico “tem implicações muito importantes a nível de saúde e do desenvolvimento, uma vez que, no caso das alergias alimentares, podemos estar a restringir alimentos que têm um elevado nível nutricional – como o leite e o ovo – de forma desnecessária e optamos por alternativas menos saudáveis. Tem também implicações a nível social, com as crianças, muitas vezes, a sentirem-se isoladas ao não poderem juntar-se aos amigos nas festas porque têm uma alergia, por exemplo”.
O diagnóstico molecular da alergia foi o foco da apresentação de Pedro Lopes da Mata. “Este tipo de diagnóstico vai ajudar a identificar com exatidão o epítopo a que o doente é alérgico. Depois, em função do epítopo, dá-nos indicação sobre a gravidade, o prognóstico e informações sobre a escolha de uma eventual imunoterapia, ou seja, vacinas antialérgicas. Se o diagnóstico não for preciso podemos estar a prescrever medicamentos que não servem para nada”, refere o médico alergologista.
No que concerne à autoimunidade, a importância da clínica e do laboratório no diagnóstico, prognóstico e terapêutica nas doenças autoimunes foi o tema abordado por Carlos Vasconcelos, internista e fundador da Unidade de Imunologia Clínica do Centro Hospitalar do Porto. Afetando mais de 100 mil portugueses, o especialista referiu a importância de se diagnosticar as doenças autoimunes o mais precocemente possível de forma a “podermos prevenir o dano que provocam a diversos níveis. Se existir uma forma de sabermos que vai ter uma doença autoimune, fazendo testes ainda na fase assintomática, poderemos intervir”. Relativamente ao papel dos biomarcadores e dos testes de diagnóstico neste tipo de doenças, Carlos Vasconcelos acredita “que vamos evoluir nesse sentido – quando definirmos exatamente quais são os genes que podem estar implicados e depois definirmos, também com exatidão, quais são as infeções – os antígenos víricos e/ou microbianos – que podem estar associadas e os eventos de vida. No entanto, é algo muito complexo.”
Com o intuito de melhorar o diagnóstico das doenças autoimunes foi criada, em 2002, a EASI – European Autoimmunity Standardisation Initiative, um grupo de cientistas e médicos de laboratórios, clínicas ou autoridades do sistema de saúde de diversos países europeus. Carlos Dias, especialista em Medicina Interna do Hospital de S. João, apresentou este grupo, que conta com a participação de 19 países, e os seus principais objetivos à assistência. “As doenças autoimunes são, muitas vezes difíceis de diagnosticar. O que há, muitas vezes, é a falta de marcadores, se existisse um marcador, por exemplo, para a lúpus ou para a artrite reumatoide seria tudo mais simples e é por isso que surge esta discussão – será que podemos harmonizar os marcadores que habitualmente são pedidos?”, acrescentou o especialista.