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Cancro da Mama: o meu é diferente do teu!

Cancro da Mama: o meu é diferente do teu!

No âmbito do Outubro Rosa, Mês Internacional de Prevenção do Cancro da Mama, é lançada a 2.ª Edição da Campanha “O meu é diferente do teu”, que tem como objetivo informar sobre a existência dos vários subtipos de cancro da mama, com diagnósticos, prognósticos e abordagens diferentes. As associações de doentes Careca Power, Evita e Liga Portuguesa Contra o Cancro, bem como, a Sociedade Portuguesa de Senologia, Sociedade Portuguesa de Oncologia, AstraZeneca e Daiichi Sankyo são os parceiros desta iniciativa.

Com o pressuposto de que ‘’se somos todos diferentes, porque é que o nosso cancro há-de ser igual?’, é lançada nas redes sociais uma campanha de imagem com informação útil sobre os subtipos de cancro da mama, os diferentes estadios e os sinais/sintomas que devem merecer a nossa atenção. 

O cancro da mama é o segundo cancro mais diagnosticado no mundo e em Portugal1,2, sendo o mais diagnosticado em mulheres.1,2 De acordo com os dados da “Globocan 2022 Portugal – Global Cancer Observatory”, por ano e em Portugal, são diagnosticados cerca de 8.954 novos casos de cancro da mama e morrem cerca de 2.211 mulheres com este tipo de tumor.2 Regista-se uma maior prevalência em mulheres entre os 45 e os 49 anos, mas com o aumento da esperança média de vida, também é muito prevalente em mulheres em idade mais avançada.3

Estas populações têm necessidades diferentes e específicas das suas faixas etárias, mas em comum, representam desafios constantes ao nível das estruturas dedicadas à gestão do cancro da mama.

“O cancro da mama é o cancro mais comum nas mulheres e apresenta uma incidência crescente. Consequentemente, é alvo de constante investigação e evolução dos métodos de diagnóstico e das estratégias terapêuticas. Este facto tem permitido diminuir a mortalidade por cancro da mama nos países ocidentais, mas tem tornado mais complexo o seu algoritmo de tratamento, sendo essencial a educação e a compreensão dos diferentes subtipos de cancro da mama para uma correta e informada tomada de decisão”, explica Renato Cunha, oncologista, em representação da Sociedade Portuguesa de Oncologia.

Atualmente, conhecemos diferentes subtipos moleculares de cancro da mama. O cancro da mama pode ser classificado de acordo com a presença de recetores moleculares específicos (proteínas) na superfície das células tumorais, tais como, recetores hormonais (RH) e o recetor do fator de crescimento epidérmico tipo 2 (HER2).4 De acordo com a presença ou não destes recetores nas células tumorais, determinado por técnicas laboratoriais pela anatomia patológica, existem quatro subtipos diferentes de cancro da mama, com prognósticos diferentes e abordagens individualizadas:

– Luminal A ‘’like’’: elevada expressão (presença) de recetores hormonais (estrogénio e progesterona); baixo índice proliferativo (de agressividade) (Ki67) e ausência de expressão de HER2; 

– Luminal B “like”/HER2 negativo: menor presença de recetores hormonais, elevado índice de agressividade Ki67; 

– HER2 “puro”: ausência de expressão de recetores hormonais e elevada presença de HER2 positivo; 

– Triplos negativos: ausência de expressão de ambos os recetores Hormonais e do HER2. 

Sinal da evolução científica nesta área e da mudança do paradigma de que se deve tratar a pessoa e não a doença, novos diagnósticos começam a ser considerados, como a pessoa com cancro da mama HER2-low (cancro da mama com baixa presença do biomarcador HER2).6,7,8

Depois, há ainda outros casos relacionados com alterações genéticas, que poderão ser herdadas (alterações germinativas) ou que podem ser adquiridas e apenas se manifestam no próprio tumor (alterações somáticas). 9

Apesar de ser cada vez maior o conhecimento nacional sobre cancro da mama, há ainda um longo caminho a fazer ao nível da literacia. 

“A categorização em diferentes subtipos e o conhecimento cada vez maior do comportamento de cada um deles tem permitido não só compreender melhor a evolução natural e o prognóstico da doença de cada indivíduo, mas tem também alavancado o desenvolvimento de opções terapêuticas individualizadas, mais específicas para cada tumor e, por conseguinte, com melhores resultados e menos efeitos secundários”, reforça o especialista.

Em termos de sintomatologia, o facto de estarmos perante diferentes tipos de doença não altera os sinais e sintomas a que devemos estar atentos. Devemos considerar qualquer modificação da mama (incluindo pele e mamilo), deformidades da mama ou nodulações, escorrências mamilares ou feridas que não cicatrizam. Também a persistência de sinais inflamatórios da mama devem ser considerados.

É muito importante as mulheres aderirem ao Programa Nacional de Rastreio, já que o cancro da mama pode ser detetado precocemente, antes do aparecimento de sintomas, e por isso com maior probabilidade de tratamento, e de cura.

“Independentemente do subtipo molecular, o estadiamento (ou extensão da doença) continua a ser determinante no sucesso do tratamento oncológico. Portanto, é crucial o conhecimento dos sintomas habituais e a participação nos programas de rastreio disponíveis, de forma a aumentar a probabilidade de obter diagnósticos em fases precoces da doença, nas quais os tratamentos disponíveis proporcionam taxas muito elevadas de cura.”, conclui o oncologista.

A 2ª edição da Campanha “O meu é diferente do teu” relembra que todos conhecemos ou já ouvimos falar sobre o cancro da mama, mas que na maioria dos casos não sabemos que se trata de uma doença altamente heterogénea e que por isso é prioritário estarmos informados e esclarecidos.

Se lhe for diagnosticado cancro da mama, pergunte ao seu médico qual é o seu subtipo e procure saber mais acerca da abordagem mais adequada para si. Afinal, ‘’se somos todos diferentes, porque é que o nosso cancro há-de ser igual?’’

Referências bibliográficas:

  1. Sung H, et al. Global Cancer Statistics 2020: GLOBOCAN Estimates of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185 Countries. CA Cancer J Clin. 2021; 71(3):209-249. Disponível em: https://acsjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.3322/caac.21660, consultado em setembro 2022
  2. The Global Cancer Observatory, Globocan 2022, https://gco.iarc.who.int/media/globocan/factsheets/populations/620-portugal-fact-sheet.pdf consultado em setembro 2024
  3. Registo Oncológico Nacional (RON) de 2020, https://ron.min-saude.pt/media/2223/ron-2020.pdf, consultado em setembro de 2024
  4. ESMO Patient Guide Series – Breast Cancer. European Society for Medical Oncology (ESMO). 2018. Disponível em: https://www.esmo.org/for-patients/patient-guides, consultado em setembro 2024
  5. Gomes do Nascimento R, Otoni KM. Histological and molecular classification of breast cancer: what do we know? Mastology. 2020;1-8. Disponível em: https://www.mastology.org/wp-content/uploads/2020/09/MAS_2020024_AOP.pdf, consultado em setembro 2024
  6. Modi, S. et al, Trastuzumab Deruxtecan in Previously Treated HER2-Low Advanced Breast Cancer, N Engl J Med 2022; 387:9-20, DOI: 10.1056/NEJMoa2203690, 
  7. Tarantino, P. et al, Trastuzumab deruxtecan (T-DXd) in HER2-low metastatic breast cancer treatment, Annals of Oncology, 2023, Journal Pre-proof, https://doi.org/10.1016/j.annonc.2023.07.003
  8. Schlam, I. et al, How I treat HER2-low advanced breast cancer, The Breast 67 (2023) 116–123.10.
  9. Fernandes I, et al. P. Manual de Oncologia SPO: abordagem e tratamento do cancro da mama. 1ª edição, edit.on.lab.,lda, 2020. Disponível em: https://www.sponcologia.pt/fotos/editor2/publicacoes/manual_oncologia_spo.pdf, consultado em setembro 2024