Proteína produtora de leite materno pode acelerar metastização do cancro da mama
Em tumores do tipo luminal A, a proteína ELF5 pode facilitar a disseminação das células tumorais através da corrente sanguínea. Ainda assim, “nas mulheres sobreviventes ao cancro da mama não há contraindicação para uma gravidez”, sublinha Helena Gervásio.
Um grupo de investigadores autraliano identificou uma proteína envolvida na produção de leite, em mulheres partureintes, que acelera a proliferação de células cancerígenas da mama. De acordo com o trabalho publicado no PloS Biology, existe uma ligação entre esta proteína essencial à proução de leite materno e um aumento do risco de metastização do cancro da mama.
A proteína, conhecida por ELF5, é um fator de transcripção que vai sofrendo variações nos genes-alvo em resposta a certos sinais. O ELF5 leva a que as células do sistema imunitário se concentrem nas células tumorais da mama, gerando um processo inflamatório que encoraja a formação de novos vasos sanguíneos em torno do tumor, criando uma oportunidade de expansão das células tumorais através da corrente sanguínea até aos pulmões.
Segundo Helena Gervásio, “o diagnóstico de cancro da mama em mulheres grávidas é raro, considerando-se ser de cerca de 1 para 4000 gestações normais”. A oncologista do IPO de Coimbra esclarece que a doença não é mais grave pelo facto de a mulher estar grávida, porém, “o diagnóstico pode ser mais difícil de confirmar, uma vez que as alterações da mama no período da gestação – com maior congestão face ao substrato hormonal inerente á gravidez -, dificultam o exame clinico, mascarando assim o diagnóstico do cancro”.
Quanto ao tratamento do cancro durante a gravidez, a especialista adianta que devem ser seguidas as recomendações válidas para a mulher não grávida, tanto no que respeita ao tratamento cirúrgico, como ao tratamento médico.
“A radioterapia adjuvante deve ser realizada após o parto, sempre que possível, reconhecendo-se que se decorrer mais de 6 meses após a cirurgia inicial, pode haver maior risco de recorrência local. Estudos recentes mostraram que a radioterapia no contexto de cancro da mama pode ser administrada com segurança, com proteção fetal, devendo ser evitada durante o terceiro trimestre”, descreve Helena Gervásio.
Segundo Helena Gervásio, “o diagnóstico de cancro da mama em mulheres grávidas é raro, considerando-se ser de cerca de 1 para 4000 gestações normais”.
Quanto ao tratamento sistémico, a sua implementação deve ser “avaliada em função da idade da gestação ao diagnóstico e da data prevista do parto”. No primeiro trimestre de gestação, “se for estritamente necessário o início da quimioterapia, em função do prognóstico da doença, deve ser ponderada a interrupção da gravidez. Nos outros trimestres a quimioterapia pode ser administrada”.
A medicação com hormonoterapia está contraindicada durante a gravidez, por se associar a malformações fetais. “Este tratamento só deve ser feito após o parto”, recomenda a oncologista.
“Gravidez não está contraindicada em sobreviventes ao cancro da mama”
Os dados da investigação deste grupo australiano vêm de alguma forma contrariar os resultados de estudos prévios que apontavam a gravidez e a amamentação como fatores protetores contra alguns tipos de cancro da mama. Contudo, estas novas descobertas parecem estar apenas relacionadas com um tipo específico de cancro da mama – o luminal A -, que é ER positivo e tem, por norma, uma progressão lenta e um bom prognóstico.
“Verificámos que o ELF5 leva a uma disseminação das células cancerígenas da mama no pulmão, aumentando o risco de metastases precoces em mulheres com tumores do tipo luminal A”, afirmou David Gallego-Ortega, do Sydney`s Garvan Institute of Medical Research.
Estas novas descobertas parecem estar apenas relacionadas com um tipo específico de cancro da mama – o luminal A -, que é ER positivo e tem, por norma, uma progressão lenta e um bom prognóstico.
Apesar destes dados, a Helena Gervásio defende que, nas sobreviventes de cancro da mama, não há evidência que sugira a contraindicação de uma gravidez. “Devem ser consideradas as características individuais da doença e da doente, incluindo a idade, paridade prévia, risco de recorrência e fertilidade residual, considerando-se que estas mulheres têm uma taxa de cerca de 40% mais baixa de engravidar do que a população em geral”.
Além disso, “não há um tempo de segurança bem definido entre o fim da quimioterapia e eventual gravidez. Recomenda-se como razoável um tempo de 2 anos após o diagnóstico, de forma a recuperar a função ovárica e ultrapassar o período de maior risco de recorrência. A amamentação durante o tratamento sistémico está contraindicada”.
Novo alvo terapêutico
Este estudo demonstrou ainda que as mulheres com tumores da mama do tipo luminal A que têm uma maior expressão de ELF5 têm um maior risco de progressão acelerada da doença. Assim, os investigadores acreditam que a medição dos níveis de ELF5 pode ajudar a identificar os doentes que têm maior probabilidade de vir a sofrer metastases e que podem beneficiar de tratamentos geralmente utilizados noutros tipos de tumor.
Por outro lado, a descoberta deste novo alvo pode contribuir para a investigação de novas terapias capazes de regular o sistema imunitário inato.
Cátia Jorge