Dia Mundial Sem Tabaco: Flash Interview com José Pedro Boléo-Tomé

boleoHoje assinala-se o Dia Mundial sem Tabaco e o Raio-X falou com o coordenador da Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), José Pedro Boléo-Tomé. Da classificação à legislação, passando pela recente reunião científica desta Comissão, o especialista discute o tabagismo e apresenta um conjunto de estratégias para uma política anti-tabágica mais eficaz.

RaioX – O tabagismo é uma doença?
José Pedro Boléo-Tomé – O fumo de tabaco provoca adição e a dependência nicotínica é atualmente considerada uma toxicodependência, cumprindo quase todos os critérios da Associação Americana de Psiquiatria. Por isso, devemos considerar o tabagismo como uma doença e, como tal, tratá-la adequadamente.

RX – Na sua perspetiva, os portugueses estão bem esclarecidos em relação ao tabaco?
JPBT – A maior parte das pessoas conhece os principais malefícios do tabaco e sabe que fumar faz mal. No entanto, isso não é suficiente para levar os fumadores a abandonar o hábito, porque se trata de uma dependência com características muito complexas e com uma forte componente social e comportamental. Há também ainda muitos mitos ligados ao tabaco, que são falsos: que fumar ocasionalmente é seguro, que não se deve deixar de fumar abruptamente, que as grávidas não devem deixar de fumar totalmente, que não faz mal fumar em casa ou no carro desde que as crianças não estejam presentes. Um bom programa de controlo de tabagismo deve incluir uma vertente educacional e informativa clara, que evite o início do consumo e leve ao seu abandono.

Um bom programa de controlo de tabagismo deve incluir uma vertente educacional e informativa clara, que evite o início do consumo e leve ao seu abandono

RXConsidera que a legislação aplicável aos maços de tabaco, em vigor a partir do dia 20 deste mês, poderá ter efeitos na redução do número de fumadores em Portugal?
JPBT – Há muitos dados e experiência de outros países que mostram que reduzir o aspeto apelativo dos maços de cigarros e incluir imagens informativas claras ajuda a reduzir o consumo, tornando o produto menos atraente. Isso tem efeitos a nível da população jovem que está a começar a experimentar e que é sensível ao aspecto, às cores, marcas etc. No entanto, o prazo de um ano para “escoar os stocks” é incompreensível e fará perder parte do impacto da medida. Ir mais além, como o Reino Unido acaba de fazer, introduzindo já a “plain-packaging” – embalagens estandardizadas sem qualquer cor ou marca – seria muito mais eficaz.

RX Quais serão os vetores fundamentais a implementar numa luta anti-tabágica num país como o nosso?
JPBT – As estratégias já existem e estão bem definidas na Convenção-Quadro da OMS que Portugal ratificou já em 2005. Temos um excelente Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo desde 2012, que no entanto falta acabar de implementar. A estratégia MPOWER que a OMS propôs define estas linhas: 1) monitorizar o consumo de tabaco e as suas repercussões na saúde; 2) proteger da exposição ao fumo ambiental do tabaco; 3) oferecer ajuda na cessação tabágica; 4) avisar, informar e educar sobre os riscos associados ao consumo de tabaco; 5) proibir totalmente a publicidade, a promoção e o patrocínio dos produtos do tabaco; 6) aumentar os impostos sobre os produtos do tabaco.
Portugal precisa de ir mais longe e impor legislação restritiva a sério, sem as múltiplas exceções e moratórias atuais, investir na educação e prevenção primária de uma forma consistente, e melhorar a rede e eficácia das consultas de cessação tabágica, incluindo a comparticipação dos medicamentos.

Há muitos dados e experiência de outros países que mostram que reduzir o aspeto apelativo dos maços de cigarros e incluir imagens informativas claras ajuda a reduzir o consumo, tornando o produto menos atraente

RXNo passado dia 30 de abril realizou-se a Reunião Anual da Comissão de Trabalho de Tabagismo da SPP. Quais são as principais conclusões a retirar desta Reunião de pares dedicada ao tabagismo?
JPBT – A Comissão de Tabagismo da SPP tem tentado estabelecer pontes com outras áreas da Medicina e da Sociedade, precisamente porque a abordagem do tabagismo é um problema transversal. Este ano tivemos a presença das Sociedades de Medicina Interna, Pediatria e Medicina do Trabalho, que nos ajudaram a discutir as carências e em que medida podemos colaborar para alargar a intervenção tabágica a estas áreas. A necessidade de formação dos profissionais é um ponto base e a SPP tem investido nessa área, prevendo-se para o final deste ano a segunda edição do curso de e-learning de tabagismo.
Estamos também atentos a novos problemas e desafios – o ano passado publicámos uma posição oficial sobre o cigarro electrónico, este ano incluímos na reunião uma discussão sobre tabaco aquecido, que está a aparecer no mercado.

Aproveitámos também a reunião para lançar a campanha deste ano para o Dia Mundial sem Tabaco, em parceria com o Corpo Nacional de Escutas e dirigida mais uma vez à prevenção primária entre a população juvenil. O lema “Larga a Chupeta – Fumar é Ridículo” e as imagens com impacto têm estado a ser muito divulgadas nos media e nas redes sociais. Acreditamos que este é um pequeno passo mas que pode ter impacto e ajudar a melhorar a tendência dos últimos anos, em que o início do consumo não tem diminuído.

Portugal precisa de ir mais longe e impor legislação restritiva a sério, sem as múltiplas exceções e moratórias atuais, investir na educação e prevenção primária de uma forma consistente, e melhorar a rede e eficácia das consultas de cessação tabágica, incluindo a comparticipação dos medicamentos

Mais informações na Página Oficial da SPP ou na respetiva Página de Facebook.

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