“Menina, o AVC não é uma doença cardiovascular”.
“Menina, o AVC ocorre no cérebro, por isso, é uma doença cerebrovascular”.
“Menina, o cérebro é o órgão mais importante do corpo humano. É a caixa forte, o cofre do nosso maior tesouro. Podemos substituir rins, corações, pulmões e fígado, mas nunca ninguém recebeu um cérebro de outra pessoa. É por isso que temos de tratar bem o que temos dentro da cabeça”.
“Menina, nunca se esqueça do que são os 3 F`s – Falta de força num dos braços, fala enrolada e face deformada”.
“Menina….menina…..”
Partiu o Professor José Castro Lopes, mas para sempre estas frases vão ecoar nos ouvidos das meninas e meninos que tiveram o privilégio de privar e de tanto aprender com o médico, neurologista, pai, avô e, sobretudo humanista. Um homem como poucos, que dedicou a sua vida a, humildemente, ensinar os que se cruzaram no seu caminho, sem medo de expor cada pedaço do seu vasto conhecimento e não guardar nada só para si.
Um médico que não se resignou perante a inércia de deixar num canto da enfermaria os doentes que sofreram uma trombose e pelos quais se aceitava que nada mais fosse feito. Um Neurologista que viajou para fora do país para, também ele, aprender com os melhores, com a ambição de aplicar em Portugal o que de melhor se fazia pelos doentes com AVC nos países mais desenvolvidos.
A voz que gritou ao país a necessidade de agir depressa perante os primeiros sinais de AVC, a urgência de garantir acesso a tratamento imediato dos sintomas agudos e a enorme importância de rapidamente reabilitar os doentes cujas sequelas podiam ser reversíveis.
Passem os anos que passarem, nós sabemos que, no que respeita à abordagem do AVC em Portugal, há um antes e um depois do Professor Castro Lopes. A paixão, dedicação e empenho que depositou na missão de prevenir, diagnosticar e tratar o AVC são insuperáveis e serão para sempre exemplo para os colegas que, por esta hora, se sentirão desamparados na continuidade dessa nobre missão. Que também nos seus ouvidos ecoem para sempre as frases sábias do Professor. Jamais baixar os braços perante a principal causa de morte no nosso país.
Partiu o Professor Castro Lopes, mas para sempre ficará na nossa memória a sua capacidade de nos fazer despertar para assuntos sérios, o seu à vontade para demonstrar afetos, e o seu sentido de humor que tantas vezes nos arrancou e vai continuar a arrancar gargalhadas.
Para a sua amada Salomé, para os seus filhos, noras, genros, netos e amigos, os nossos profundos sentimentos.
Até sempre Professor, na Casa Bacelar, para o pingo das 15h00
Cátia e Ricardo
