Promover a Geriatria no segundo país mais envelhecido na Europa

Na semana passada tive oportunidade de acompanhar, na Ordem dos Médicos, em Lisboa, uma reunião organizada por um grupo de especialistas internacionais que tem como objetivo fomentar a educação e a formação em Geriatria nos países onde essa especialidade está menos desenvolvida ou nem sequer é reconhecida – PROGRAMMING COST Action (PROmoting GeRiAtric Medicine in countries where it is still eMergING).

Curiosamente, Portugal, um dos países mais envelhecidos da Europa, onde mais de 2,5 milhões de pessoas têm mais de 65 anos, é um desses casos. Somos também um dos países da Europa onde, depois de se aposentarem, as pessoas têm mais carga de doença, mais incapacidade, menos condições habitacionais, mais isolamento, menos qualidade de vida e um envelhecimento menos digno. Vivemos mais, mas não vivemos bem.

Ainda assim, a Geriatria não é reconhecida como especialidade. Apenas como competência. Ou seja, não é reconhecida uma área diferenciada da Medicina para dar resposta às necessidades dos mais idosos. Sobretudo dos mais frágeis física e cognitivamente, dos que têm várias comorbilidades, dos que estão polimedicados, dos que têm maior risco de incapacidade ou de mortalidade, dos que precisam de maior proteção.

Há mais de 20 anos que assisto a esta discussão e muito pouco tem avançado. E é triste, é muito triste perceber que, numa sociedade cada vez mais envelhecida, os velhos não são uma prioridade. É difícil compreender uma sociedade que chuta para canto as pessoas que deixam de ser produtivas no mundo laboral. É impressionante como ninguém quer saber do bem-estar dos mais velhos, das suas necessidades, da sua saúde, das suas vontades, das suas histórias, das suas opiniões ou da sua felicidade. É como se a maior conquista da Medicina se transformasse agora no maior de todos os fardos.

Assisti, nesta reunião, à apresentação de modelos de cuidados geriátricos com resultados extraordinários noutros países. Modelos que podem ser implementados ou localmente adaptados para dar resposta às necessidades concretas da nossa população idosa. Tive também a oportunidade de visitar uma residência de terceira idade que pensei ser de referência, mas que está tão longe do que idealizo para os meus, num futuro que espero distante.

De uma forma muito resumida, e das notas que tirei ao longo destes dois dias, no que respeita aos cuidados geriátricos no nosso país concluí que: há assimetrias regionais que geram uma enorme desigualdade de acesso, faltam recursos económicos e humanos, faltam equipas multidisciplinares, falta um planeamento e uma boa estruturação de consultas dedicadas aos mais idosos, falta formação e treino de profissionais de saúde nesta área, falta investigação, mas não falta paixão nem garra aos que querem melhorar esta realidade.

Venho com a sensação de que há uma vontade enorme por parte de um grupo muito restrito de profissionais de saúde que, na sua atividade clínica, se dedicam aos cuidados geriátricos, mas venho também com a noção de que há falta de vontade política e lobbies infundados para criar o que noutros países tem demonstrado grande eficácia e até grande poupança de recursos. Posto isto, venho, por um lado, esperançosa de que estes profissionais não baixem os braços, mas desiludida com “negacionistas da Geriatria”, que ainda não perceberam que também eles caminham para velhos.

Foi muito bom este “abre-olhos” sobre um tema que nos devia tocar a todos. Foi muito bom conhecer pessoas novas de áreas tão distintas e com visões tão amplas do que é envelhecer em Portugal. Foram inspiradoras as palavras de Matteo Cesari, da Unidade de Envelhecimento e Saúde na Organização Mundial de Saúde (OMS), foram muito esclarecedoras as declarações de André Peralta-Santos, sub-Diretor Geral da Saúde, assim como de todos os representantes das Secções Regionais do Sul, Centro e Norte da Ordem dos Médicos no debate de encerramento da reunião.

 Muito obrigada à Dr.ª Sofia Duque e a toda a comissão organizadora desta reunião pelo convite.

Em breve, será publicado um resumo mais alargado das principais mensagens e propostas debatidas.

 

 

 

Cátia Jorge

 

Editora Raio-X

MORADA
Rua Hermínia Silva nº 8 LJ A, Jardim da Amoreira
2620-535 Ramada

CONTACTOS
GESTÃO DE PROJETOS:
Cátia Jorge - 926 432 143 | Ricardo Gaudêncio - 966 097 293

EMAIL
geral@raiox.pt