Fátima Faria: “A enfermagem centraliza o seu foco na promoção da saúde e no tratamento das doenças”

Arranca já amanhã, em Braga, o I Congresso de Enfermeiros José de Mello Saúde (JMS), promovido pelo Conselho de Enfermagem da JMS e pela Academia CUF. O evento, dedicado exclusivamente a enfermeiros, vai contar com cerca de 400 participantes. Em vésperas do início do Congresso que vai durar até dia 27 de maio, o Raio-X falou com Fátima Faria, enfermeira diretora do Hospital de Braga, que destaca alguns dos temas que serão debatidos, assim como a presença de Jean Watson que fará uma intervenção sobre “Enfermagem: A ciência do cuidar – Transformando o futuro”.

Raio-X – Qual o lugar do enfermeiro nas equipas multidisciplinares que acompanham os doentes?
Fátima Faria – A equipa de saúde que proporciona os cuidados necessários aos doentes utilizadores dos serviços das unidades José de Mello Saúde (JMS) é composta por vários profissionais, nomeadamente assistentes operacionais, assistentes técnicos, assistentes sociais, enfermeiros, médicos, psicólogos, entre outros.
Cada profissional, e tal como previsto nos conteúdos funcionais das respetivas carreiras, exerce a sua atividade, no domínio das suas competências em clima de harmonia e complemento, tendo como principal objetivo o resultado final favorável ao doente, traduzido em ganhos de saúde efetivos.
Dependendo da área de prestação de cuidados, o papel do enfermeiro foca- se na promoção da saúde, na identificação, antecipação de necessidades e na prevenção de eventuais complicações decorrentes quando existe um processo de doença. Esta atuação obedece também à aplicação do processo de enfermagem, método científico que através das suas fases   de apreciação, diagnóstico, planeamento, execução e avaliação permitem ao enfermeiro prestar cuidados que visam a recuperação célere e a promoção da maior autonomia do doente, garantindo sempre o maior conforto e bem-estar para o mesmo e para a pessoa significativa que o acompanha.
Os enfermeiros garantem a presença junto dos doentes ao longo das 24 horas do dia, por isso, assumem um papel privilegiado na articulação e referenciação para outros elementos da equipa multidisciplinar.

Dependendo da área de prestação de cuidados, o papel do enfermeiro foca- se na promoção da saúde, na identificação, antecipação de necessidades e na prevenção de eventuais complicações decorrentes quando existe um processo de doença

RX – A investigação em enfermagem é um dos temas transversais a este congresso, como descreve a evolução desta componente na carreira de um enfermeiro?
FF – Inovação, evolução e desenvolvimento profissional estão fortemente dependentes da investigação.
Felizmente que a investigação desenvolvida no seio da enfermagem é cada vez mais intensa e divulgada. A evidência científica ou mesmo a evidência relatada em que muitas vezes sustentamos as nossas práticas está cada vez mais suportada nos resultados da investigação produzida pelos enfermeiros.
z  Desde os anos 90 que esta dimensão estava prevista em termos legais na carreira de enfermagem, contudo, foi esta década em que a investigação passou a estar na agenda dos enfermeiros de modo mais intenso, e os resultados publicados e utilizados na sustentação de mais práticas clinicas

RX – Que outros temas serão debatidos neste congresso?
FF – O tema central é mesmo a investigação em enfermagem e respetivos impactos
A ciência do Cuidar de Jean Watson, as perspetivas éticas e futuras da profissão serão outros temas a abordar

RX – Do ponto de vista político, a carreira da enfermagem tem vindo, gradualmente, a ser “agredida” com medidas que, de alguma forma, têm estado na origem da “fuga” de profissionais para outros países. De que forma os doentes ficam penalizados com esta desvalorização da enfermagem?
FF – O reconhecimento do valor dos enfermeiros portugueses é maior no estrangeiro do que propriamente em Portugal. É verdade que perdemos um bom potencial de enfermeiros para outros países, mas também é verdade que ficamos com excelentes enfermeiros em Portugal, que procuram prestar os melhores cuidados de saúde á população. Esperamos que no futuro possamos ter mercado de trabalho  para mais enfermeiros em Portugal.

“A ciência do cuidar”

RX – “A ciência do cuidar” é, na sua perspetiva, a melhor descrição da função de um enfermeiro?
FF – De acordo com os seus princípios filosóficos e respetivas bases científicas, a pluralidade de conceções de enfermagem que ocorreram durante as grandes correntes de pensamento foram reagrupadas em escolas: das necessidades, da interação, dos efeitos desejados, a escola da promoção da saúde (orientada para a pessoa) e as escolas do ser unitário e do “caring”, caracterizado por uma abertura para o mundo. Esta escola que se situa no paradigma da transformação, tem como um dos expoentes máximos Jean Watson e por conceito central o “caring”. Procura responder à questão – como é que os enfermeiros fazem o que fazem?
Quanto aos papeis de cada profissional, dentro dos conceitos de cada profissão, considero que devem ser cada vez mais integradores e complementares

Partilhamos inteiramente os conceitos da teoria de Jean Watson, “A enfermagem preocupa-se com a promoção da saúde, com a prevenção da doença, com o cuidado aos doentes e com a restauração da saúde”. A enfermagem centraliza o seu foco, tanto na promoção da saúde quanto no tratamento das doenças ou enfermidades.

RX – E em que contexto surge este conceito do “caring”?
FF – Em 1990, Morse disse “que apesar dos esforços desenvolvidos, o caring permanece ainda um conceito evasivo. Não há consenso relativamente à definição de caring, os componentes do care, ou o processo do caring.”
Radsma (1994) descreve o “care” como uma componente integral da enfermagem que suscita algumas disputas. Para Roach (1993), o “caring” não é único para a enfermagem, mas é único na medida em que exige certas atitudes, ou existe como exemplo único de características específicas, isto é, engloba as características da enfermagem como profissão de ajuda.
“Caring” significa também facilitar e sustentar, respeitando os valores, as crenças, o modo de vida e a cultura das pessoas (Leininger, Watson, 1988)
Para Leininger, o “caring” é a essência da disciplina, ao defini-lo como o domínio central e unificador para o ensino, a investigação e a prática de enfermagem.

Partilhamos inteiramente os conceitos da teoria de Jean Watson, “A enfermagem preocupa-se com a promoção da saúde, com a prevenção da doença, com o cuidado aos doentes e com a restauração da saúde”. A enfermagem centraliza o seu foco, tanto na promoção da saúde quanto no tratamento das doenças ou enfermidades.

O cuidado humano respeita os valores culturais e o estilo de vida das pessoas e é alicerçado em conhecimentos transculturais apreendidos pela observação da estrutura social, a visão do mundo, os valores, a língua e os contextos ambientais das diferentes culturas.
Para além da “escola do caring”, também Colliére (1988) diz que cuidar é, e será sempre, indispensável não apenas à vida dos indivíduos, mas à perenidade de todo o grupo social.
Cuidar é, em primeiro lugar, um caso de vida, mas cuidar é igualmente um caso de reciprocidade que somos levados a prestar à pessoa que, temporária ou definitivamente, tem necessidade de ajuda para satisfazer as suas necessidades vitais.
Seja qual for o verdadeiro significado do “caring”/cuidar, pensamos que é para ser retido como a essência da enfermagem. Este novo século trará, decerto, aos enfermeiros a possibilidade de privilegiar o saber, a partilha, a criatividade e o poder do cuidado porque, apesar da diversidade e da mudança, os cuidados continuam a ser a razão de ser da profissão: eles constituem e continuarão a constituir, o seu motor e o seu ser.

Cátia Jorge

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