GESCAT promove curso sobre TEV: “Foi claramente um desafio superado”
Com o fim de formar a comunidade científica, o GESCAT (Grupo de Estudos de Cancro e Trombose) organizou, nos passados dias 5 e 6 de fevereiro, na Figueira da Foz, o 2.º Curso sobre Tromboembolismo destinado a internos de especialidades médica e cirúrgicas que lidam diretamente com o doente oncológico. Nas palavras de Ana Pais, este curso anual é um espaço de atualização de conhecimentos, partilha de experiências e reflexões. “Vamos na 2ª edição e foi claramente um desafio superado”, afirma a oncologista do IPO de Coimbra e presidente do GESCAT.
“É fundamental que os internos reconheçam o impacto do tromboembolismo venoso (TEV) no doente oncológico, identifiquem sinais e sintomas para um diagnóstico precoce e um tratamento adequado. Apostar na formação da nova geração de profissionais de saúde é crucial para garantir que cada doente recebe o tratamento mais eficaz e ajustado à sua situação clínica” adianta Ana Pais em entrevista ao Raio-X, acrescentando que esta é uma área que exige formação complementar pois está em “constante atualização”.
Nesta segunda edição do curso que contou com a participação de 40 internos, a oncologista do IPO do Porto referiu que as principais mensagens-chave foram a importância da comunicação com o doente – quer na informação geral sobre o TEV, quer na promoção da adesão ao tratamento – e a atuação em situações especiais e a gestão das toxicidades associadas ao tratamento.
“Apostar na formação da nova geração de profissionais de saúde é crucial para garantir que cada doente recebe o tratamento mais eficaz e ajustado à sua situação clínica”, Ana Pais
No entanto, a principal mensagem comum aos dois cursos até agora realizados “é a relevância da multidisciplinaridade no diagnóstico e instituição do tratamento”.
Este ano o painel de formadores foi alargado de modo a que ao longo do curso, nos vários temas abordados, fossem apresentadas as diferentes perspetivas da clínica, da imagiologia, da cirurgia e do laboratório. “Penso que esta foi claramente uma mais-valia deste curso”, sublinha a presidente do GESCAT.
Ana Pais recorda ainda que o TEV é a segunda causa de morte no doente oncológico, e que a morbilidade associada ao TEV tem impacto relevante na qualidade de vida desta população.
Ana Pais, Presidente do GESCAT
A par das guidelines, tem vindo a ser reforçada a necessidade de cada hospital criar o seu próprio protocolo de prevenção e tratamento do TEV. Segundo a oncologista, “os hospitais têm diferentes realidades e as recomendações do GESCAT e de outros grupos devem ser entendidas apenas como um contributo para a boa prática clínica que podem e devem ser adaptadas à realidade de cada hospital e de cada doente”.
Outras iniciativas GESCAT
“Este ano propusemos à Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares (APFH) um curso de formação que irá decorrer nos dias 15 e 16 de abril de 2016, porque sentimos ser importante envolver os farmacêuticos nesta temática”, esclarece Ana Pais. Por outro lado, “manteremos a presença nos Encontros da Primavera 2016 onde voltaremos a promover uma avaliação do grau de informação e de atualidade do TEV na prática oncológica nacional. Teremos pela primeira vez uma sessão sobre TEV dirigida a enfermeiros, outro grupo profissional que queremos sensibilizar”.
“Este ano propusemos à Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares (APFH) um curso de formação que irá decorrer nos dias 15 e 16 de abril de 2016, porque sentimos ser importante envolver os farmacêuticos nesta temática”
Além destas iniciativas, a presidente do GESCAT reforça que será dada continuidade às sessões de formação “dos colegas de Medina Geral e Familiar” e estão previstas campanhas de rua e nas instituições hospitalares para assinalar o Dia Mundial da Trombose, a 13 de outubro.
VOX POP
Raio-X – Quais as principais mensagens-chave desta formação?
Mariana Rocha, interna do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro – As principais mensagens a retirar desta formação foram a relação estreita entre os eventos tromboembólicos e o cancro e o impacto na qualidade de vida e sobrevida do doente oncológico. A importância do tratamento atempado aquando do diagnóstico e o papel da correta introdução de terapêutica profilática nestes doentes.
Edgar Pratas, interno do IPO de Coimbra – O doente oncológico apresenta um estado pró-trombótico per se; o risco de fenómenos tromboembólicos varia consoante as características do indivíduo, tipo de tumor, estádio e tratamento; um evento tromboembólico no doente oncológico está associado a um elevado grau de morbimortalidade.
“Acredito que esta formação permite a identificação dos sinais de alarme e a correta estratificação do risco tromboembólico do doente oncológico. Este facto associado a introdução de terapêutica adequada poderá, a longo prazo, levar a uma melhoria da qualidade de vida destes doentes”, Mariana Rocha, interna do CHTAD
Raio-X – De que forma o curso vai contribuir para a melhoria dos cuidados que vai prestar aos doentes que acompanha?
Mariana Rocha – Estudos realizados e a experiência clínica mostraram que os eventos tromboembólicos encontram-se associados a um aumento da taxa de mortalidade nos doentes oncológicos. A morbilidade associada a estes eventos e a alta taxa de recorrência após o primeiro episódio tem um papel crucial na forma como encaramos e tratamos estes doentes. Acredito que esta formação permite a identificação dos sinais de alarme e a correta estratificação do risco tromboembólico do doente oncológico. Este facto associado a introdução de terapêutica adequada poderá, a longo prazo, levar a uma melhoria da qualidade de vida destes doentes. Esta formação é também importante na melhor compreensão desta temática por forma a prestar o melhor esclarecimento aos doentes sobre sinais de alarme e a importância da realização correta desta terapêutica. Este facto ganha ainda mais relevo uma vez que, a terapêutica adequada com heparinas de baixo peso molecular (HBPM), encontra-se associada a constrangimentos quer a nível económico quer a nível de administração importantes. Adquirimos também um papel na sensibilização de outros colegas em diferentes áreas da saúde para este tema o que levará a uma melhoria nos cuidados prestados aos doentes oncológicos.
Edgar Pratas – Tendo em conta que trato maioritariamente doentes oncológicos e, dado que o TEV associado ao cancro é cada vez mais prevalente, os meus doentes irão beneficiar ao serem tratados por um profissional mais consciente de toda esta problemática.
“Desconhecia a existência de scores de risco de TEV específicos para doentes oncológicos. Nesse sentido, o GESCAT disponibiliza, através de uma plataforma informática (app), as recomendações para a profilaxia e tratamento do TEV no doente oncológico.”, Edgar Pratas, interno do IPO Coimbra
Raio-X – Que novos conhecimentos adquiriu sobre a relação entre o TEV e o cancro?
Mariana Rocha – Compreendi de uma forma mais integrada na prática clínica a importância dos eventos tromboembólicos no doente oncológico. Aprendi a estratificar o doente oncológico de acordo com fatores de risco inerentes à doença mas também ao doente. Compreendi a necessidade e de que forma a introdução terapêutica profilática atempada poderá ter impacto na qualidade de vida a longo prazo destes doentes. Aprendi a identificar sinais de alarme e de que forma tratar eventos tromboembólicos agudos em doentes oncológicos.
Edgar Pratas – Desconhecia a existência de scores de risco de TEV específicos para doentes oncológicos. Nesse sentido, o GESCAT disponibiliza, através de uma plataforma informática (app), as recomendações para a profilaxia e tratamento do TEV no doente oncológico.
Raio-X – Que outros temas gostaria de ver abordados em formações deste tipo?
Mariana Rocha – Gostaria de ver abordado o tema do uso de heparinas de baixo peso molecular (HBPM) no contexto profilático e terapêutico nos doentes em Cuidados Paliativos e estratégias terapêuticas na gestão de sintomatologia resultante de eventos tromboembólicos.
Edgar Pratas – Gestão do doente com metastização óssea; nutrição no doente oncológico; dor no doente oncológico; obstinação terapêutica; ensaios clínicos; antineoplásicos; admissão dos doentes oncológicos em unidades de cuidados intensivos; sépsis; VNI; cursos de ecografia como apoio a técnicas invasivas; cuidados de suporte.
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