Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono e Disfunção Erétil
A prevalência de disfunção erétil (DE) em doentes com apneia obstrutiva do sono está confirmada, existindo resultados que atestam que o tratamento da doença respiratória pode resultar numa melhoria da performance sexual do sujeito. Daí a necessidade de um despiste desta problemática, visando melhorar a abordagem destes doentes, que devem ser observados no contexto de equipas multidisciplinares (que incluam um profissional com especialização na área da sexologia) de modo a contribuir para uma melhoria da qualidade de vida.
Um estudo português, realizado em 2012, no Hospital de São João, referia 64,4% de prevalência da disfunção erétil em doentes com apneia obstrutiva do sono. De acordo com a literatura científica, esta associação entre apneia obstrutiva do sono e DE, relaciona-se, em particular, com os efeitos negativos da baixa do oxigénio e da fragmentação do sono no tecido erétil.
A cada ciclo do sono mais profundo, denominado estágio REM e que corresponde a 20% do sono normal, o homem evidencia uma ereção funcional, a par da produção de testosterona que é fundamental para a manutenção da integridade do tecido erétil. A apneia impede a ocorrência deste sono mais profundo e consequentemente gera redução da produção de testosterona o que, por sua vez, resulta numa diminuição da libido e da ereção. Paralelamente, existem modificações na regulação hormonal, vascular e nervosa que favorecem o aparecimento da DE, a par de fatores psicológicos como aumento do cansaço e alterações do humor como a depressão. Outras doenças médicas como a hipertensão arterial e diabetes mellitus são conhecidos fatores de risco para a DE e estão associadas também à apneia do sono.
O tratamento da apneia obstrutiva do sono inclui o controlo dos fatores de risco como a abstinência tabágica e alcoólica e, por outro lado, o uso regular e continuado de ventilação durante o sono. Esta última constitui o tratamento de primeira linha na apneia (CPAP, ou seja, pressão de ar positiva contínua nas vias aéreas) que a par de outros tratamentos, como o uso de próteses de avanço mandibular e o tratamento cirúrgico visando o alívio da obstrução, podem melhorar a performance sexual e a qualidade de sono. O estudo realça ainda que cerca de 75% dos pacientes com apneia obstrutiva do sono e DE tratados com CPAP evidenciaram remissão, após 1 mês de tratamento.
“O tratamento da apneia do sono pode resultar numa melhoria da performance sexual do sujeito. Igualmente, quando indicado, o uso de medicamentos específicos para DE e/ou terapia sexual, pode ajudar a resolver esta situação clínica, quando associado ao tratamento de fundo da apneia, nomeadamente com CPAP”
Em conclusão, o tratamento da apneia do sono pode resultar numa melhoria da performance sexual do sujeito. Igualmente, quando indicado, o uso de medicamentos específicos para DE e/ou terapia sexual, pode ajudar a resolver esta situação clínica, quando associado ao tratamento de fundo da apneia, nomeadamente com CPAP.
O que é?
A síndrome de apneia obstrutiva do sono é uma doença respiratória provocada por colapsos intermitentes e repetidos das vias aéreas superiores durante o sono e que condicionam pausas respiratórias, com duração superior a 10 segundos e que se podem repetir mais de 5 vezes por hora, originando uma redução do oxigénio e um aumento do dióxido de carbono no sangue. Estima-se que a apneia obstrutiva do sono afeta 5% da população portuguesa, principalmente homens com idades entre os 30 e os 60 anos, com excesso de peso ou obesidade. Esta situação clínica é subdiagnosticada, manifestando-se nomeadamente por ressonar, pausas respiratórias, despertar em engasgamento ou sufocação nocturna, sonolência diurna e fadiga.
O que é?
A disfunção erétil (DE) é definida como uma incapacidade persistente em obter e/ou manter uma ereção do pénis que permita a concretização de uma relação sexual. Esta situação clínica tem um impacto negativo na auto-estima, relações interpessoais e na qualidade de vida dos doentes. A prevalência geral da DE em Portugal está estimada em cerca de 13%, aumentando com a idade e podendo constituir a primeira manifestação de uma outra doença (nomeadamente neurológica, cardíaca ou vascular).
Carla Silva
Colaboradora da APS (Associação Portuguesa do Sono); Assistente Hospitalar de Psiquiatria do CRI Psiquiatria e Saúde Mental, CHUC – EPE