Tratamentos oncológicos inovadores não estão a chegar a quem precisa
Quem o diz são os próprios doentes oncológicos, no inquérito “Cuidados de Saúde em Oncologia: a visão dos doentes”, promovido pela Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO). Estes consideram que têm o acesso dificultado aos tratamentos mais avançados porque o sistema desvaloriza o impacto na qualidade de vida do doente.
O inquérito teve como objetivo analisar a perceção dos doentes e sobreviventes de doença oncológica sobre os cuidados de saúde em Oncologia. As conclusões foram discutidas no Congresso Nacional de Oncologia, que decorreu entre 26 a 29 de Outubro, no Centro de Congressos de Aveiro. 63% dos inquiridos concordam que o acesso aos tratamentos mais avançados está dificultado porque estes são percecionados como demasiados caros tendo em conta o impacto na sobrevida do doente.
Ainda assim, o impacto financeiro é apresentado como a menor das preocupações do doente oncológico. Dos inquiridos, apenas 2% apontam o impacto financeiro como principal preocupação em relação à doença. 60% dos inquiridos concordam ainda que: em Portugal existem demasiadas assimetrias regionais no que diz respeito à prevenção e tratamento do cancro e 59% concorda que, no nosso país, falta implementar um programa de rastreios organizados de âmbito nacional.
No que diz respeito ao tratamento, os doentes são unanimes: 81% afirmam que foram envolvidos nas decisões relativas ao tratamento e 68% consideram este envolvimento muito importante. A clareza da comunicação e o esclarecimento da informação são os fatores que mais valorizam numa consulta. 42% colocam a satisfação com a equipa médica como o fator que mais valorizam durante o tratamento. É por estas razões que 64% preferem falar com o médico em caso de dúvidas sobre a doença ou o tratamento.
“É através destes inquéritos que se torna possível ter uma perspetiva da realidade dos doentes oncológicos e disponibilizar dados nacionais que nos permitam compreender a forma como os doentes vivem a realidade da doença oncológica em Portugal, integrando a perspetiva do doente nas políticas de saúde em Portugal”, afirma Gabriela Sousa, presidente da SPO.
Num inquérito realizado em 2015 a profissionais de saúde ligados à oncologia, as conclusões iam mais longe: 98% admitiam que a comunidade científica em Portugal não tem as mesmas condições financeiras para a investigação comparativamente com outros países da União Europeia e 90% afirmavam que o Governo português não faz o investimento necessário para que os doentes tenham acesso às terapêuticas mais avançadas e eficazes. Ideias que também são partilhadas por cerca de 60% dos doentes oncológicos.