Especial Eutanásia: Perspetiva de uma nefrologista
No dia em que se debate a eutanásia no Parlamento português, aqui fica a visão de Susana Sampaio, nefrologista no Centro Hospitalar Universitário de São João.
“Morte medicamente assistida/ eutanásia – a favor ou contra?
Esta pergunta não tem para mim uma resposta definitiva. Neste momento, em Portugal discutem-se vários projetos de Lei que conduzem à despenalização da morte medicamente assistida e/ou da eutanásia.
Primeiro ponto que me suscita dúvidas, confundir conceitos. Ora, por parte de quem solicita a morte e da sociedade em que está inserido deve haver total entendimento de conceitos. Depois da leitura atenta do parecer emitido pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), surge um segundo ponto: se, por um lado, se pode discutir a liberdade individual e a supremacia do juízo pessoal sobre o seu corpo e da perceção de dor, por outro lado, esta decisão não pode assentar no pressuposto de não existência de alternativas válidas, que poderão não ter sido oferecidas e que alterariam o sentimento de “vida indigna” contrapondo o facto de a morte a pedido ser considerada “morte digna”.
Em Portugal ainda existem graves lacunas e desigualdades na disponibilização de cuidados paliativos. Já ouvi referir como demagogia, mas, discutir “morte digna” e autonomia individual sem que haja por parte do Estado capacidade de fornecer alternativas válidas a todos e acima de tudo em igualdade de circunstâncias, não me parece uma boa base para neste momento aprovar estes projetos de Lei. Aconselho leitura atenta do parecer do CNECV.”
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