Impacto dos miomas uterinos na vida sexual das mulheres em destaque no Dia Mundial da Saúde Sexual
No Dia Mundial da Saúde Sexual, que se assinala hoje, dia 4 de setembro, é importante chamar a atenção para uma questão frequentemente negligenciada, mas de enorme relevância: o impacto dos miomas uterinos na vida sexual das mulheres. Os miomas uterinos, também designados por fibromas ou leiomiomas, são tumores benignos que se desenvolvem a partir da camada muscular do útero e podem ter um impacto negativo significativo na vida da mulher, incluindo na sua vida sexual.
Atualmente, estima-se que entre 20% a 40% das mulheres em idade reprodutiva possam vir a desenvolver miomas uterinos, e essa prevalência pode chegar a 70%-80% aos 50 anos. Em Portugal, cerca de 2 milhões de mulheres são afetadas por esta patologia, sendo que, entre 2000 e 2015, mais de 102.476 mulheres foram hospitalizadas por miomas uterinos.
Embora 60% dos casos sejam assintomáticos e não interfiram com a vida sexual, alguns miomas podem, em função dos sintomas associados como a sensação de compressão dos órgãos vizinhos, a dor pélvica intensa e a hemorragia menstrual abundante e prolongada, afetar significativamente a forma como a mulher vive a sua sexualidade. Estes sintomas provocam desconforto físico importante, mas também têm um forte impacto na vida sexual das mulheres. Esta passa a ser frequentemente desconfortável, dolorosa e limitada pelo número de dias em que a hemorragia vaginal é intensa. Esta situação pode levar muitas mulheres a evitar as relações sexuais, com o consequente impacto negativo na sua autoestima, líbido e satisfação sexual e eventualmente nos seus relacionamentos.
Além dos efeitos diretos na sexualidade feminina, os miomas uterinos podem também perturbar o ciclo reprodutivo e ter implicações na fertilidade, podendo associar-se a dificuldades em conseguir uma gravidez e aumentando o risco de aborto espontâneo e de parto prematuro. Esta realidade pode ser particularmente desafiante para a saúde emocional das mulheres, sendo que vários estudos demonstram que, devido à sintomatologia associada, as mulheres com miomas uterinos têm maior risco de sofrer de ansiedade, depressão e alterações da imagem corporal.
Considerando o impacto negativo que esta patologia pode ter na sua qualidade de vida, sexualidade e fertilidade, é crucial investir na literacia para a saúde das mulheres, neste caso em particular, que elas conheçam os sinais e sintomas associados aos miomas uterinos e que assim, mais rapidamente procurem aconselhamento médico. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para controlar os sintomas e melhorar significativamente a qualidade de vida destas mulheres.
Atualmente, existem várias opções de tratamento para os miomas uterinos, dependendo da gravidade dos sintomas e das características individuais de cada mulher. Estes podem incluir o recurso a medicamentos ou suplementos alimentares que podem ser importantes na compensação da anemia causada pelas hemorragias menstruais, mas sobretudo os tratamentos hormonais que têm como objetivo controlar os sintomas e o crescimento dos miomas e também pode estar indicada a cirurgia. Neste caso devem ser privilegiados os procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos e também aqui o tratamento médico hormonal tem um papel importante, ao possibilitar essa abordagem a situações em que inicialmente não seria possível. É fundamental que todas as opções de tratamento sejam discutidas entre médico e doente para se chegar à melhor opção de tratamento.
“A saúde sexual é um aspeto vital da vida de todas as mulheres e os miomas uterinos podem ter um impacto profundo e muitas vezes subestimado. Neste Dia Mundial da Saúde Sexual, queremos aumentar a consciencialização sobre esta condição, contribuir para a literacia em saúde das mulheres, alertá-las para a importância do diagnóstico precoce e assim incentivar a que procurem ajuda médica atempadamente se identificarem algum sintoma. Através do diagnóstico precoce e do tratamento adequado é possível melhorar a qualidade de vida e garantir que a saúde física, sexual e emocional das mulheres não é comprometida por esta condição”, afirma Margarida Martinho, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.