Médicos e doentes reclamam atualização do Plano Nacional de Doenças Respiratórias para combater subdiagnóstico e subtratamento da DPOC
- Associação RESPIRA, Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF e Sociedade Portuguesa de Pneumologia subscrevem White Paper que apela a mudanças urgentes;
- Portugal tem uma das mais elevadas taxas de casos de DPOC não resolvidos da Europa e barreiras obstáculos dificultam a vida dos doentes e aumentam ónus sobre os serviços de saúde.
Em Portugal, as barreiras financeiras, a distância geográfica e as longas listas de espera contribuem para 40% de casos não resolvidos de Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), percentagem que configura uma das maiores taxas na Europa [1]. A estas juntam-se vários outros obstáculos, identificados num White Paper subscrito pela RESPIRA – Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), o Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF e a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, redigido na sequência do Fórum Saúde Respiratória 2025, que alerta para a urgência de atualizar o Plano Nacional das Doenças Respiratórias com foco na DPOC, revisão essencial para mudar o cenário atual de subdiagnóstico e falta de priorização desta doença em Portugal.
“Temos de começar a olhar para a DPOC enquanto problema de saúde pública que impacta a vida de milhões de pessoas e ameaça a sustentabilidade do sistema de saúde”, refere José Albino, presidente da RESPIRA. “Não só precisamos de uma atualização do Plano Nacional das Doenças Respiratórias, com este deve ter um foco claro na DPOC, algo que terá um impacto enorme na qualidade de vida dos doentes. E diminuindo o número de hospitalizações e complicações graves, estaremos também a reduzir os custos em saúde.”
Os dados disponíveis sobre a DPOC são claros em relação ao impacto da doença na vida de quem dela sofre, mas também nos serviços de saúde nacionais. Caracterizada por uma limitação persistente e progressiva do fluxo aéreo, a doença é a 3ª principal causa de morte no mundo e a 5ª em Portugal. Segundo os dados de um estudo realizado em 2016, existem cerca de 800 mil portugueses com DPOC, estimando-se que a população afetada aumente substancialmente até 2050 devido ao envelhecimento da população, às alterações climáticas e outros fatores ambientais.
A DPOC é ainda responsável por um peso substancial para o sistema de saúde e a economia nacional, com um impacto económico estimado em mais de 3 mil milhões de euros por ano [2] no nosso país. E a tudo isto juntam-se as várias barreiras que refletem desigualdades no sistema de saúde, agravando o impacto da doença, como a impossibilidade de aceder à espirometria, exame fundamental para o diagnóstico e acompanhamento da DPOC, a que muitos médicos de Medicina Geral e Familiar não têm acesso direto, nem sabem para onde referenciar os doentes. Faltam ainda consultas de cessação tabágica acessíveis a todos, programas de reabilitação respiratória, uma referenciação rápida para consultas de especialidade e informação para os doentes, muitos dos quais incapazes de reconhecer os sintomas da DPOC como algo preocupante, o que contribui para atrasos no diagnóstico e no início do tratamento.
Apesar de tudo isto, o atual Plano Nacional das Doenças Respiratórias, que data de 2017, carece de estratégias específicas para a DPOC, assim como de políticas de controlo do tabaco e diretrizes respiratórias implementadas de forma inconsistente. [1] De acordo com as organizações signatárias do documento, encontra-se desatualizado e não inclui de forma adequada a DPOC.
As organizações envolvidas neste White Paper urgem, por isso, o desenvolvimento de uma Estratégia Nacional para a DPOC, com um subplano, dentro do Plano Nacional, que inclua as questões da prevenção, tratamento, acesso aos exames necessários, a gestão das exacerbações, a definição de critérios de referenciação, desenvolvimento de materiais educativos, expansão do acesso à reabilitação respiratória e a criação de um registo nacional da DPOC para caracterizar a população de doentes. A isto junta ainda a necessidade de uma recolha de dados que permitam analisar a taxa de exacerbações, os níveis de adesão à terapêutica e outros resultados, como os indicadores de desempenho dos serviços de saúde.
Consulte AQUI o documento
Referências:
[1] Portugal COPD Research and Global Ranking – COPD Index
[2] Chen S, Kuhn M, Prettner K, Yu F, Yang T, Bärnighausen T, et al. The global economic burden of chronic obstructive pulmonary disease for 204 countries and territories in 2020–50: a health-augmented macroeconomic modelling study. Lancet Glob Heal. 2023;11(8):e1183–e1193.