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Cancro oral: “Nos escalões etários mais jovens, este tipo de cancro surge maioritariamente relacionado com HPV”

Cancro oral: “Nos escalões etários mais jovens, este tipo de cancro surge maioritariamente relacionado com HPV”

O cancro oral é definido pelo conjunto de tumores malignos que afetam qualquer localização da cavidade oral, dos lábios à garganta, incluindo as amígdalas e a faringe. Este tipo de cancro insere-se num grupo vasto comummente designado “cancro de cabeça e pescoço” e ocupa atualmente o sétimo lugar na incidência anual de cancros, em Portugal, vitimizando cerca de 3 pessoas diariamente. Embora responsável por uma elevada taxa de mortalidade, existe um grande desconhecimento deste tipo de cancro, não pela dificuldade diagnostica, mas sim pelo diagnostico tardio, fruto da ausência de educação da população para cuidados de saúde oral, sinais de alerta de lesões pré-malignas e de um programa de rastreio eficaz. “As primeiras manifestações podem ser facilmente confundidas com situações menos graves, o que faz com que, na maior parte das vezes, os doentes desvalorizem estas queixas e quando procuram ajuda médica, os cancros já se encontram em estadios muitos avançados”, revela Ana Castro, coordenadora do Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço.

Raio-X (RX) – Como é que se manifesta o cancro oral?

Ana Castro (AC) – Habitualmente os primeiros sinais do cancro oral são muito emergentes, ou seja, podem ser confundidos facilmente com coisas benignas. Surgem de variadíssimas formas, pode assemelhar-se a uma afta – com uma duração superior a 3 meses, pode surgir sob forma de ferida e não cicatrizar, pode ser uma lesão que não provoca qualquer tipo de dor, de tonalidade branca ou vermelha, ou pode ser apenas um alto localizado no céu da boca ou na língua. As primeiras manifestações podem ser facilmente confundidas com situações menos graves, o que faz com que, na maior parte das vezes, os doentes desvalorizem estas queixas e quando procuram ajuda médica, os cancros já se encontram em estadios muitos avançados.

RX – Dados recentes mostram que o segmento da população onde a incidência do cancro oral tem aumentado mais rapidamente é nos não fumadores com menos de 50 anos. Ou seja, o tabaco é um dos fatores de risco. Quais são os outros?

AC – Os fatores etiológicos primordiais são o consumo de álcool e de tabaco. Sendo os dois juntos grandes potenciadores, ou seja, uma pessoa que tenha um consumo de álcool exagerado e, concomitantemente, seja fumador, tem maior risco de desenvolver cancro oral, do que só um fumador ou só uma pessoa que consuma bebidas alcoólicas em excesso. Para além disto, há outras situações, nomeadamente as próteses dentárias mal-adaptadas que podem provocar um traumatismo crónico na boca e, ainda, a falta de cuidados de higiene oral.

Nos últimos tempos tem sido ainda demonstrado que existem cada vez mais casos em que as lesões estão relacionadas com a presença do vírus do papiloma humano (HPV).

RX – Este tipo de cancro está associado a elevados níveis de taxa de mortalidade, que se devem em grande parte ao seu diagnóstico tardio. Quais é que são os meios de diagnóstico?

AC – Os meios de diagnóstico habitualmente são o exame médico objetivo, seguindo-se uma biópsia da lesão com vista ao diagnóstico.

RX – Qual é que é o papel dos médicos dentistas no diagnóstico?

AC – Os médicos de dentistas estão cada vez mais presentes nos centros de saúde, nos cuidados de saúde primários, o que permite, por um lado, que os doentes tenham uma melhor saúde oral que é uma situação que já pode diminuir alguns casos de cancro, por outro lado, poderá ser um fator que permita diagnosticar precocemente mais casos. Após o diagnóstico, os dentistas poderão fazer a articulação com os cuidados de saúde diferenciados na suspeita de ser uma lesão mais grave da cavidade oral.

RX – Se não for detetado atempadamente, o cancro oral pode exigir tratamentos específicos. Quais são os métodos de tratamento?

AC – O cancro da cavidade oral poderá ser tratado cirurgicamente ou com tratamentos combinados. Poderá ser necessário recorrer à combinação da radioterapia e da quimioterapia com a cirurgia ou, por exemplo, só a cirurgia com a radioterapia. Atualmente, e com o avanço científico, também já existe a possibilidade de tratamento através da imunoterapia, sendo que, a ativação do próprio sistema imunológico do doente contra o cancro revelou-se bastante eficaz.

RX – De que forma é que pode ser prevenido o cancro oral?

AC – Sobretudo ter hábitos saudáveis, nomeadamente, não fumar, não consumir bebidas alcoólicas em excesso, ter uma boa higiene oral e ao primeiro sinal com duração superior a três semanas, o doente deverá procurar ajuda de um profissional de saúde.

RX – Qual é a incidência deste tipo de cancro, em Portugal?

AC – Por ano são diagnosticados à volta de 1500 novos casos. Sendo muito mais comuns em homens – 7 para 1. No entanto, começa a verificar-se que, nos escalões etários mais jovens, este tipo de cancro surge maioritariamente relacionado com HPV e aí, atinge mais mulheres do que homens.

Por Rita Rodrigues